A direita fracassou e representa os interesses da ínfima minoria que vive de renda, da sonegação, dos subsídios governamentais, da fuga de capitais, da recessão, do desemprego, da paralisação produtiva do país, da liquidação da legitimidade as instituições. Se jogou numa nova aventura, da qual não sabe como sair. Enquanto isso, destrói o que o país tem de melhor, de mais democrático, de mais representativo, de mais legítimo.
Por Emir Sader
O golpe de 2016 não é um ponto fora da curva na história da direita
brasileira. A direita brasileira nunca foi democrática. Desde 1930,
quando perdeu o controle do Estado, ela se jogou em muitas aventuras
golpistas, tentando recuperar o governo, contra a maioria dos
brasileiros.
O golpe de 1932 – que até hoje a direita chama de "revolução", quando
era uma tentativa de contrarrevolução – foi uma aventura para retornar
ao sistema político em que as oligarquias controlavam tudo e não cediam
nenhum direito ao povo. Voltar à economia primário exportadora, que
tinha levado o país à pior crise da sua história. Voltar ao império de
governantes como Washington Luis, para quem "a questão social é questão
de polícia". Tentaram o golpe em nome da "democracia", como sempre, mas
seu objetivo era o mais retrógrado possível, a restauração do regime de
maior exclusão social e o menos democrático possível.
Foi uma aventura militar golpista, que mobilizou as elites e a classe
média de São Paulo, liderada pela família Mesquita, até que foi
derrotada pelas forças do Getúlio, apoiada pelos setores que começavam a
ser beneficiados pela nova política econômica e social. Até hoje a
direita chora aquela derrota, que era apenas o prenúncio de tantas
outras posteriores.
Desde que o Getúlio voltou à presidência, a direita delegou aos
militares a tarefa de solapar o poder legitimamente eleito. Sempre em
nome da defesa da "democracia", que estaria em perigo, segundo a
Doutrina de Segurança Nacional – ideologia da direita na época da
"guerra fria"-, foram tentados vários golpes, contra o Getúlio, contra o
JK e contra o Jango. Antes dele dar certo, em 1964, houve uma outra
aventura direitista, com Jânio Quadros, que foi a forma de desbancar a
coalizão getulista. Embora pela vida eleitoral, não deixou de ser uma
aventura, como o próprio destino prematuro do Jânio confirmou.
O golpe de 1964 foi um assalto ao Estado por parte das FFAA, para
desalojar um governo democrático e impor um governo militar, que
promoveu as políticas do grande capital nacional e internacional,
alinhado às políticas dos EUA. Foi o governo mais brutal na sua sanha
antipopular e antidemocrática, que uniu a toda a direita e a todo o
grande empresariado.
A direita voltou ao governo com os governos neoliberais de Fernando
Collor e de FHC. Foram vitorias eleitorais, mas não deixaram de ser
aventuras, pelo que representaram de dilapidação do patrimônio público,
de exclusão dos direitos da massa da população, de concentração de
renda, de rebaixamento da imagem externa do país. Deixaram um país
menor, mais injusto, com mais estagnação econômica, com um Estado
pequeno, com uma projeção internacional ínfima.
A direita voltou a perder o controle do Estado com sua derrota
eleitoral de 2002 e viu se confirmar essa situação nas sucessivas
derrotas de 2006, 2010 e 2014. O golpe de 2016 foi uma nova aventura, em
que o objetivo era tirar o PT do governo e restaurar o modelo
neoliberal.
Uma nova aventura, em primeiro lugar porque teve que romper com a
vontade popular, expressa democraticamente na reeleição da Dilma, além
de impor um modelo não apenas rejeitado quatro vezes nas urnas, como
fracassado aqui mesmo e esgotado em todos os lugares. Submete o país a
essa aventura, porque não dispõe de outro projeto que não o da adequação
ao neoliberalismo, ao capital financeiro e à globalização.
Para isso, destroem a estrutura produtiva da economia, a
infra-estrutura, a capacidade de pesquisa, a educação e a saúde
públicas, o próprio Estado, para favorecer a centralidade do mercado e
sua vértebra – a especulação financeira. É uma nova aventura, que
submete o país a um retrocesso nunca vivido anteriormente, em tão curto
espaço de tempo.
E tratam de destruir todas as lideranças políticas com apoio popular,
para que governe o mercado, através de algum personagem pífio, que não
moleste os interesses do capital financeiro. Confessam assim que já não
têm nada a propor positivamente ao país – salvo sua destruição como
nação – e nenhuma liderança política que os represente. Tem que se
representar através do poder do capital financeiro, das manipulações
midiáticas e dos atropelos da Judiciário.
A direita fracassou e representa os interesses da ínfima minoria que
vive de renda, da sonegação, dos subsídios governamentais, da fuga de
capitais, da recessão, do desemprego, da paralisação produtiva do país,
da liquidação da legitimidade as instituições. Se jogou numa nova
aventura, da qual não sabe como sair. Enquanto isso, destrói o que o
país tem de melhor, de mais democrático, de mais representativo, de mais
legítimo.
Fonte Brasil 247
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