segunda-feira, 19 de junho de 2017

PEDALANDO E COMETENDO CRIMES


Não existe adversário político que ouse enfrentar o “Grande Chefe”, que se sente à vontade para nomear parentes em altos cargos públicos sem concurso e sem merecimento; ele acha que pode bisbilhotar a vida dos inimigos fazendo uso de homens, armas e da estrutura do exército imperial, mas os milionários matogrowskianos apoiam integralmente o seu “Soberano”, inclusive porque ele não cobra impostos dos ricos e poderosos, mas o faz sem dó nem piedade contra os desempregados, os subempregados, escravos assalariados, enfim, dos pobres em geral. 







Por Antonio Cavalcante Filho 


Eu não sei de onde vem essa história, ou se trata apenas de uma simples estória, um conto “Matogrowskyssense”, oscilando entre o real e o imaginário. Mas, como dizia um conterrâneo lá das bandas do meu querido nordeste, o Chicó: “Não sei, só sei que foi assim!” Chicó, ao contrário do que muitos pensam, realmente existiu e viveu no sertão paraibano de Taperoá e foi imortalizado na peça teatral (que virou filme) “Auto da Compadecida”, escrita por Ariano Suassuna, em 1955.


Não sei se é real, mas aconteceu assim, diria Chicó:


Dizem que existe, em um espaço qualquer do mundo, um império bolivariano conhecido por “Matogrowsky”, uma porção de território comunista onde os seus ricos camponeses, verdadeiros senhores feudais, cultivam algumas variedades de produtos tóxicos que são lançados em negócios internacionais e vendidos a outros países.


Esses camponeses matogrowskianos, proprietários de grandes latifúndios, são tão comunistas como o seu “Comandante Maior”, e dele têm a total proteção, é tanto que, não apenas desmatam as florestas, o serrado, agridem toda a região pantaneira, como ainda tentam regulamentar o trabalho escravo e lançam impunemente uma enormidade de dejetos tóxicos nas águas dos rios daquele Império. E isso vem gerando algum desconforto na população, porque o número de pessoas com câncer vem aumentando, mas o Imperador faz de conta que não é com ele.


Não existe adversário político que ouse enfrentar o “Grande Chefe”, que se sente à vontade para nomear parentes em altos cargos públicos sem concurso e sem merecimento; ele acha que pode bisbilhotar a vida dos inimigos fazendo uso de homens, armas e da estrutura do exército imperial, mas os milionários matogrowskianos apoiam integralmente o seu “Soberano”, inclusive, porque ele não cobra impostos dos ricos e poderosos, mas o faz sem dó nem piedade contra os desempregados, os subempregados, escravos assalariados, enfim, dos pobres em geral. Dizem até que ele é a reencarnação do Rei Luís XIV, apelidado de "o Grande" e "Rei Sol", aquele que dizia: "L'État c'est moi" (O Estado sou eu).


Ultimamente, uma família de conhecidos salteadores, que há muito vinha saqueando o Império matogrowskiano, tenta fazer um arremedo de oposição ao “Todo Poderoso”, ainda que quase sempre caia em contradição. É que os desejos de ambos, o do atual Comandante Imperial e os dos membros da antiga facção criminosa, sempre foram o de lançar as mãos sobre o dinheiro do tesouro real.


Dia desse, ao fazer uma tentativa de oposição, um dos membros daquela quadrilha, cujo chefe responde a mais de 100 processos, e é conhecido em toda a região e países circunvizinhos como o rei da “Ficha Suja”, questionou a sexualidade do Imperador, fato este, que resultou em revolta popular contra a fala discriminatória de uma das descendentes do “Ficha Suja Mor”. Apenas um religioso conservador, ligado ao partido do ultradireitista, deputado Bolsonewsky, que defende uma ditadura militar mundial, gostou da crítica e vibrou aos gritos de “abaixo a ditadura gaysista”!


Parece que o “Grande Rei” vem fazendo umas “pedaladas”, termo bastante usado naquele “Império Comunista” para descrever a conduta de gestão de pegar dinheiro separado para uma prestação de carnê não vencido, e quitar uma dívida que estava indo para o Serasa das Contas Imperiais.


Por exemplo, para quitar o soldo dos soldados e pagamento de seus vassalos, o “Reencarnado Rei Sol” guardava uma reserva de 60 milhões de unidades monetárias, e usou esse valor para quitar dívida com os Centros de Curas de Enfermos que já estavam sem remédios para conter o escorbuto e a malária, moléstias que assolam o império matogrowskiano. Os adversários do Imperador chiaram, dizendo que esse tipo de gestão de recursos financeiros levou a cassação do mandato de uma política ultradireitista no reino capitalista vizinho a Matogrowsky. Dizem que a tal “dama de ferro” teria cometido uma coisa chamada “pedalada fiscal”. Por isso foi encaminhada ao cadafalso, tendo o pescoço decepado em praça pública. O Imperador matogrowskiano fez exatamente o mesmo em seu reino, tirando dinheiro do pagamento de salários para socorrer as despesas com os doentes; já a sua colega do país vizinho tinha retirado dinheiro de bancos para entregar aos pobres e camponeses.


“Foi decapitada, bem feito!”, disse rindo o Imperador na época da desgraça da vizinha que ele próprio ajudara a decapitá-la.


Hoje, as nuvens estão densas sobre ele, eis que foi recentemente flagrado tirando dinheiro da escola dos órfãos e o destinando aos seus vassalos mais próximos, que se incumbem de lhe dar uma vida de luxo, ostentação e facilidades. Os órfãos tentaram reclamar por meio de seus pais e de entidades populares, mas foram “grampeados” e ameaçados pelo exército a serviço do Imperador.


Mas o pior é que um namorado da antiga ama de leite de um dos ministros do Imperador teve seu sigilo invadido, porque foram instalados aparelhos rudimentares em seus aposentos visando saber quais são as suas atividades na alcova (isso se chama “grampo”). O caso vem gerando grande repercussão em Matogrowsky, e já há quem fale sobre uma possível cassação do “Imperador Comunista” e a sua execução em praça pública, tal como ocorreu um ano antes com a sua colega capitalista da nação vizinha. Mas, o Soberano matogrowskiano não está nem aí pra isso, afinal de contas, "L'État c'est moi" (O Estado sou eu), pensa ele.


E se não for verdade? Se, na realidade, o “Todo Poderoso Rei Luís XIV Reencarnado” for apenas um simples mortal, que mal faz? “É sempre assim: depois de morrer, todo mundo fica bonzinho!” disse satanás na peça O Auto da Compadecida. Enquanto isso, ele é livre para continuar pedalando e cometendo crimes.


E aquelas tantas promessas não cumpridas pelo Supremo Monarca de Matogrowsky antes de assumir o Trono, como é que ficam? Pode alguém da plebe (os comedores de mortadela) se perguntar. E é aí que ele, o Iluminado Soberano, deve ficar se contorcendo como o João Grilo na peça de Ariano Suassuna: “Ô promessa desgraçada! Ô promessa sem jeito!”.


Como alguém pode chamar de “Império Comunista” e de “bolivariano” um Estado dominado por ricos latifundiários e empresários bilionários? Perguntarão também os atônitos “baderneiros e vândalos dos movimentos revoltosos” (como a Mídia do Imperador costuma apelidar, aqueles que não se curvam à tirania dos poderosos).


Não sei se tudo isso é verdade ou fantasia, diria Chicó, mas acho que é assim que está acontecendo.


Antonio Cavalcante Filho é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News


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