Lula não é um intelectual, mas é um personagem de uma intuitividade nada desprezível. Seu movimento na direção de montar uma frente ampla para 2018 é uma aula sobre o bom senso e sobre a necessidade de se estar atento a atual conjuntura nacional e internacional que vivemos. Seria no mínimo uma
ignorância histórica não se fazer uma aliança universal - com quem quer
que seja - para salvar a pátria nesse momento.
Face do historiador Carlos D'Incao
Por Carlos D'Incao
O Brasil já possui capacidade de voltar a crescer no primeiro trimestre
de 2018. Mas não vai. Por uma simples razão: as eleições presidenciais.
Antes disso o mercado não vai liberar o acesso a crédito. E sem crédito
as empresas não vão voltar a investir e muito menos a empregar.
A
questão toda acaba sempre desembocando “no fator Lula”. Um cenário que
evite qualquer possibilidade de Lula voltar a ser presidente será
estudado com carinho ao longo do primeiro trimestre. A adoção de um
sistema parlamentarista seria a saída ideal. O problema é o medo dessa
solução incendiar o país...
A prisão de Lula é uma saída bem
típica da truculência da direita brasileira. Mas... Prender o Lula...
Será que é possível uma coisa dessa sem uma onda de radicalização
brutal? Há aqueles (da própria direita) que acham que já é chegada a
hora de levar um “papo de homem” com os “meninos” do judiciário sobre a
seriedade de uma ação tão radical.
Mesmo que Lula - com a
popularidade gigantesca que possui - fosse preso ou condenado e
aceitasse passivamente essa condição humilhante (sem ter cometido
efetivamente qualquer crime), pode ser que ele indique e apoie um outro
candidato, como fez com Dilma. E esse candidato terá grandes chances de
vencer.
Agora... se Lula concorre, ganha fácil. E Bolsonaro se
tiver senso de sobrevivência e ridículo não entra nem na disputa...
Afinal a “goteira” Bolsonaro talvez não queira disputar as eleições com o
“oceano” Lula... Ninguém quer... E a direita não tem nomes... Tem
piadas... Luciano Huck é a última...
Pois então, vamos supor
que o mercado proponha efetivamente uma saída parlamentarista e a mesma
seja aprovada. Assim, o Lula poderia concorrer para presidente e vencer
tranquilamente pois apenas possuiria poderes de chefe de Estado, isto é,
não teria poderes para governar. O que acontecerá na economia?
Simples: o Brasil voltaria a crescer. Mas não pensem que isso
significaria voltar aos bons tempos de Lula e Dilma. O Brasil voltaria a
crescer de forma semelhante à época da era FHC... só que ainda pior...
Vejamos.
O crédito voltaria em um cenário de destruição do BNDES,
da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil. Para os empresários
ele voltaria de forma escalonada: grandes empresários com juros baixos
que vão de 0,8% a 1,5; médios empresários com juros na base de 2% à 3,5%
e pequenos na base de 4% pra cima. Uma enorme concentração de renda
estaria em curso no mundo empresarial e essa seria a ruína para mais de
95% das empresas do Brasil.
O mesmo ocorreria entre as camadas
ricas, médias e pobres. O rico ficaria mais rico ainda. A classe média
voltaria a ser pobre e o pobre voltaria a ser miserável. A reforma
trabalhista iria de fato combater a informalidade pois ela praticamente a
legaliza com toda a sua brutal precarização.
Em suma, o Brasil
voltaria a crescer como no passado. A economia cresceria em benefício
único e exclusivo dos mais ricos em detrimento de todo o resto do país.
Já foi assim por tantos anos... Até séculos... Por que não voltaria a
ser?
Esse é o Brasil com a derrota de Lula e a vitória da
direita e do mercado. Não se pode negar que até mesmo parte da direita
tem medo desse cenário... Pois, em sua óptica, o Lula sempre foi uma
solução para evitar um mal maior que seria a Revolução social. Além
disso, ressuscitar um modelo de crescimento de um passado cruel e
perverso parece tão temerário como tentar ressuscitar os mortos...
E se Lula ganhar?
Se Lula ganhar a crise se prolonga mais um pouco... no mínimo seis
meses, no máximo mais dois anos. Em último caso, numa eventual fuga de
capitais, o Brasil se valeria de capital chinês para restabelecer o
crédito.
Muita coisa feita por Temer seria revogada, a começar
pela destruição da Constituição de 1988. Seriam dois anos de muita luta,
mas o Brasil no mínimo retornaria ao projeto de crescimento
desenvolvimentista, incluindo a reestruturação dos bancos públicos para
pressionar os bancos privados a oferecerem crédito barato para as
pequenas e médias empresas e para financiar o reaquecimento da economia
popular.
Esse seria um feito enorme. Quase uma Revolução...
A questão é que para atingir tal fato Lula terá que necessariamente se
aliar a setores da direita que estão sendo destruídos pelo próprio
mercado.
São setores que foram “golpistas”... mas que agora
perceberam que se aliaram de maneira ocasional e fisiológica a um evento
pontual (o golpe contra Dilma) que ocultava um projeto muito mais
profundo e que prevê a reconstrução de um país sobre novas bases, as
quais contabilizam com a sua própria eliminação.
Lula terá que
se aliar novamente com parte do PMDB e outros partidos do “centrão”. Não
há aqui inocência, nem estupidez e muito menos falta de aprendizado. O
que há aqui é uma coisa chamada “realidade”. E trabalhar com ela é muito
mais difícil do que ficar transvergindo sobre a necessidade de Lula e o
PT fazerem alianças “sem traidores”, de “sangue puro”, apenas com os
partidos de esquerda como o PSOL e companhia...
Por sorte há
ainda no campo progressista aqueles que desejam fazer o que é o melhor
para o país e para a classe trabalhadora... e que seja possível de ser
feito... E mais sorte ainda é o fato de que a maior liderança política
da História desse país esteja desse lado da trincheira e não do lado da
direita.
E justo nesse momento em que nem mesmo é provável que se
mantenha as eleições de 2018 e o próprio regime presidencialista possa
vir a ser eliminado, já há setores da esquerda rosnando contra as
articulações de Lula com setores da direita que, podemos denominar de
“golpistas arrependidos”.
Lula não é um intelectual, mas é um
personagem de uma intuitividade nada desprezível. Seu movimento na
direção de montar uma frente ampla para 2018 é uma aula sobre o bom
senso e sobre a necessidade de se estar atento a atual conjuntura
nacional e internacional que vivemos.
As coisas não estão para
brincadeira... Por acaso não são os EUA que estão montando uma base
militar na Amazônia? Os direitos da classe trabalhadora não estão sendo
varridos? E por acaso não há um projeto de tornar o Brasil numa grande
Honduras e que está em plena execução?
Seria no mínimo uma
ignorância histórica não se fazer uma aliança universal - com quem quer
que seja - para salvar a pátria nesse momento.
Ao que parece, se
dependesse de partidos como o PSOL e o PC do B não teria havido uma
aliança entre EUA, Reino Unido e URSS para combater o nazi-fascismo,
pois tanto o primeiro como o segundo flertaram com Hitler antes da
segunda guerra...
E é exatamente esse o cenário que temos no
nosso país: uma guerra contra o fascismo do mercado e o imperialismo em
sua fase mais cruel e desumana. Se algum “golpista arrependido” estiver
do nosso lado nesse embate, melhor ainda... resguardando o óbvio fato de
que muitos deles são personagens desprezíveis...
Mas numa guerra
não se escolhe com quem se ombreia na batalha, se escolhe em qual lado
você está. E não há meias palavras. Quem ficar do lado do Brasil e da
classe trabalhadora estará com Lula em 2018. O resto estará contra o
Brasil e sua soberania. Ainda que tentem convencer o contrário com
“candidaturas alternativas da esquerda”, estarão do lado da Globo, do
Moro, dos EUA, do mercado e daqueles que negociam nossas riquezas
naturais e territoriais.
Para além do próprio PT e algumas de
suas tendências, esse é o momento de analisar e exorcizar da esquerda
todo aquele que consegue, em um momento grave como esse, ser mais
reacionário do que um Renan Calheiros e fugir das trincheiras porque tem
“princípios teóricos” que o impede de pisar no barro.
Quem assim pensa, embora possa até não saber, já escolheu o seu lado da trincheira...
Fonte Carlos D'Incao
SIMPLES ASSIM...
Se é para salvar o Brasil nesse momento histórico, que se faça as alianças que forem necessárias, Eu não perdoo os golpistas "arrependidos" e não votarei em nenhum candidato ou partido que apoiou o golpe. É simples assim...