segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

BREVE NOTA SOBRE A INTERVENÇÃO NO RIO E SUAS POSSÍVEIS CONSEQUÊNCIAS


Os desdobramentos das medidas imediatistas podem ser muito mais doloridos e duradouros do que sugerem a explicação do curto prazo, porque as alternativas democráticas estão sendo bloqueadas uma a uma. E sem as alternativas democráticas, ficamos apenas com as opções autoritárias sobre a mesa. 



Opera Mundi

Por Haroldo Ceravolo Sereza

Golpe é algo diferente de ditadura. Um golpe pode conduzir a ela, seja por meio de um projeto explícito, seja por meio de sua força inercial 

Meu pessimismo nunca foi tão grande. As decisões recentes da justiça e do governo federal em exercício apontam para um caminho de crescente autoritarismo. 

Golpe é algo diferente de ditadura. Um golpe pode conduzir a ela, seja por meio de um projeto explícito, seja por meio de sua força inercial. 

Nem todo golpe, no entanto, desemboca numa ditadura (militar ou civil) estrito senso. São as reações às circunstâncias imediatas que aprofundam ou reduzem o autoritarismo. 

A situação atual, me parece, é de incremento do autoritarismo e da guerra aos pobres. Mesmo que os comandantes do golpe não trabalhem com a ideia de um fechamento do regime (hipótese que por boa vontade, apenas, não descarto), as medidas recentes fecham os caminhos de retorno à normalidade democrática. 

Não devemos subestimar o rumo da prosa. E o rumo é muito ruim. Os interesses mais imediatos podem explicar a intervenção no Rio, por exemplo, melhor do que a ideia de há a execução de um plano de transformar o país numa ditadura estrito senso. 

Porém, os desdobramentos das medidas imediatistas podem ser muito mais doloridos e duradouros do que sugerem a explicação do curto prazo, porque as alternativas democráticas estão sendo bloqueadas uma a uma. E sem as alternativas democráticas, ficamos apenas com as opções autoritárias sobre a mesa.