segunda-feira, 16 de abril de 2018

A ERA DO LINCHAMENTO E ÓDIO


Para celebrar a prisão injusta do Lula, um gigolô serviu cinco mil litros de cerveja de graça aos fedelhos do MBL. Enquanto chupava os peitos das mulheres nuas diante dos baners da ministra Carmem Lúcia e do juiz Moro, prometeu repetir a bebedeira libertina por conta da casa o mês inteiro, se alguém matasse o ex-presidente na cadeia. E foi mais além: o devasso disse que daria o próprio rabo, caso a morte do Lula fosse sofrida, executada de modo cruel. 




Por Antonio Cavalcante Filho 

É visível a todos que, nos últimos cinco anos, uma escalada dramática de esfacelamento dos valores de solidariedade e humanismo, paralelo a uma crescente consagração ao ódio e idolatria ao fascismo, tem se esparramado pelos mais diversos escalões da pirâmide social em nosso país.

Até parece que, desde 2013, com as manifestações em junho, quando milhões de pessoas sairam às ruas pedindo mais direitos e menos corrupção, abriram a “caixa de pandora”, deixando todas as maldades do mundo campear livremente entre nós.

Entre uma e outra maldade, rasgaram a Constituição brasileira, derrubaram uma presidente legitimamente eleita, sequestraram o Estado Democrático de Direito, roubaram direitos dos trabalhadores, tramaram contra a Previdência, diminuíram recursos para a educação, saúde e outras áreas sociais, prejudicando os mais pobres, enquanto sucateiam, fatiam e entregam as nossas empresas e riquezas para as multinacionais.

Hoje, ninguém consegue prever onde e como tudo isso vai terminar, o que mais será derretido, quebrado e quais valores terão validade. A incerteza e o medo do porvir são sentimentos cada vez mais presentes entre nós.

Linchamentos passaram a ser um fenômeno constante no Brasil, seja ele moral e midiático e/ou mesmo o físico, dirigido contra uma pessoa contra a qual pese qualquer dúvida, ou, caso não a tenha, fabricam, como fizeram ao condenar e prender, mesmo sem provas, o ex-presidente Lula.

A falta de respeito à vida, ao ser humano, se degradou a tal ponto, que um gigolô, denunciado inúmeras vezes pelo crime de exploração e tráfico de prostitutas, proprietário de um prostíbulo, para celebrar a prisão injusta do único presidente que reduziu a pobreza e a desigualdade no Brasil, serviu cinco mil litros de cerveja de graça aos fedelhos do MBL.

A cena que se segue é surreal, bizarra, absurda. Enquanto chupava os peitos das mulheres nuas diante dos baners da ministra Carmem Lúcia e do juiz Moro, o cafetão prometeu repetir a bebedeira libertina por conta da casa o mês inteiro, se alguém matasse o ex-presidente na cadeia. E foi mais além: o devasso disse que daria o próprio rabo, caso a morte do Lula fosse sofrida, executada de modo cruel.

Em áudio vazado do voo que levou para cumprir pena em Curitiba, aquele que deixou a Presidência com 87% de aprovação, o maior líder popular da história, alguém pede aos responsáveis pelo voo que jogue “esse lixo janela abaixo”.

Há poucos dias, o Brasil assistiu atônito o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Pedro Gomes e, logo em seguida, vem a notícia do assassinato de Carlos Alexandre Pereira, que depôs no último dia 6, no Caso Marielle.

Entre os grandes linchadores, podemos citar movimentos burgueses, como o tal MBL e a eterna golpista Rede Globo e seus satélites, além de setores conservadores de igrejas que imputam falsamente a outras religiões, como o candomblé, como sendo seitas demoníacas, e opções que tratam de gênero e sexualidade como se fossem doença ou afronta aos “homens de bens”.

Dias atrás, uma simples escultura num museu foi criticada por esses grupos fascistas, e transformada artificialmente em drama nacional, atingindo em cheio a classe artística. A Globo transmite as notícias sob a ótica que lhe interessa (esconde o próprio rolo com o crime de sonegação, o caso da CBF que levou “gente boa” para a cadeia) e programas como Big Brother Brasil são artificialmente transformados em “case” de sucesso, emburrecendo os telespectadores.

O fato é que a política foi criminalizada, mas os sucessores no “comando” da gestão pública, juízes e procuradores, não estão sendo capazes de oferecer as respostas que a sociedade procura. Creio que seja de conhecimento mediano o tamanho da influência que as organizações criminosas possuem, emanando ordens diretamente dos presídios.

Em alguns bairros de cidades periféricas de Mato Grosso, uma simples frase pichada no muro, com a ordem adequada e a assinatura do responsável, torna aquela área “livre de crimes”. Sobre isso e a inoperância da polícia de Pedro Taques, (o governador tucano, e o primeiro a passear pelo Brasil em apoio ao golpe), envolvida nos episódios vergonhosos das gravações clandestinas, voltaremos a falar no momento adequado.

Por hoje, atenho-me em apenas nas minhas impressões sobre o crescente despertar dos linchamentos e do ódio provocados por notícias falsas e interesses não republicanos.

Segundo o sociólogo e pesquisador Jose de Souza Martins, autor da obra “Linchamentos, a justiça popular no Brasil”, o nosso país está entre os que mais lincham no mundo. Conforme ele narra no livro, todos os dias são registrados nada menos que quatro linchamentos e tentativas de cometimento desta barbárie. 

Nos últimos 60 anos, mais de um milhão de brasileiros participaram de ações de justiçamento de rua. O referido pesquisador busca explicar as raízes profundas dessa antiga prática, que chama de “verdadeiro ritual de loucura coletiva”. 

Acreditamos que as crescentes boatarias, as chamadas fakenews (notícias falsas) que se espalham com a velocidade equivalente a de tornados, cujo teor interessa a setores políticos e econômicos, estejam entre os grandes males da sociedade contemporânea. Basta dizer que o movimento de valorização ou depreciação de ações de empresas que negociam nas bolsas de valores, templos do capitalismo, depende basicamente de fofocas, temores e notícias falsas. 

Quero dizer que as notícias falsas estão entre os insumos que interessam diretamente ao capitalismo. Assim como dizem que a propaganda é a alma do negócio, a mentira, para eles, é uma mina de dinheiro. 

O assunto é tão grave que já foi criado um termo para especificamente classificar as fake news: trata-se do “pós-verdade”, um conceito que, trocado em miúdos, significa “mentira”. 

Isso quer dizer que a mentira, devidamente tratada pelos meios de comunicação corporativos de massa, ou pelos mentores de redes sociais, é um produto que gera lucros, faz novos milionários, transfere riquezas, cria acusações criminais, derruba presidentes, leva pessoas inocentes ao cárcere, e disso vem resultando numa sociedade pobre e despolitizada.

Segundo reportagem da revista Carta Capital, a lista de ações de violência por linchamentos, que tem como argumento penalizar crimes de rua, é grande, onde todos os meses são noticiadas ocorrências, tipicamente dessa natureza, Brasil afora.

O linchamento moral começa com a humilhação pública, em que a morte moral da pessoa é planejada como se fosse um roteiro de filme ou uma novela da Rede Globo. Diariamente, em seus telejornais (por onde as fakenews se propagam com ares de “verdade”) e programas de auditórios, pessoas e reputações são expostas. Essas mesmas informações, travestidas de notícia, são reproduzidas em jornais impressos, e outras mídias repetidamente acabam por fundamentar processos judiciais.

A “Rede Golpe de Televisão” propaga fakenews diariamente. Com raras exceções, as notícias podem ser tratadas como pós-verdade. E foi essa técnica monstruosa, utilizada por Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, na Alemanha nazista, que levou os coxinhas midiotas e nazi-doidos saírem às ruas do Brasil, cheios de ódio pedirem a derrubada da Dilma, mesmo sem crime de responsabilidade, e a condenação sem provas do ex-presidente Lula. Mas, como diria o juiz da República de Curitiba: “isso não vem ao caso”.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News