segunda-feira, 21 de maio de 2018

O PRÓ-fAMÍLIA DO GOVERNADOR


Ouso pensar que neste governo, o Pró-Família, da família Taques, vem a ser bem mais atrativo, tem muito mais dinheiro que qualquer política pública feita para famílias em situação de miséria em Mato Grosso. 





Por Antonio Cavalcante Filho 


 Enquanto o governador Pedro Taques, ralhando, palavreava que: “estão querendo jogar o nome da minha família no lixo, isso eu não vou permitir”, mais um dos seus primos era interrogado no Gaeco, e, em seguida, preso. Um deles sequer perdeu a pose, ao fazer gracejos e/ou ameaças a jornalistas.

Parece-me que, neste “estado de putrefação”, já se tornou tradição “gente de bem” receber chaves de cadeia e proferir ameaça à liberdade da imprensa livre.

Se o governador quer zelar pelo bom nome da sua família, ele está certo! Mas isso ele precisa falar em particular para os seus próprios parentes e não para a população mato-grossense. Afinal, não somos nós, os cidadãos que estão “jogando a família Taques no lixo”. Pelo que se viu são “alguns” deles, e “entre” eles mesmos.

Ciente de alguns milhões a mais entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, somando aos tantos outros milhões que já são gastos com as empresas de comunicação, fui em busca de alguma boa notícia que justificasse tanto desperdício do dinheiro público em publicidades.

Sinceramente, fora aquela “pedalada”, não encontrei nada decente feito pela equipe de Taques à população. Toda esta dinheirama injetada na comunicação não seria um cala-boca eleitoral?

Mas aí descobri, entre uma e outra propaganda, que a Secretaria de Estado de Trabalho e Assistência Social (Setas-MT) está fazendo a entrega dos cartões Pró-Família em Cuiabá, que é a versão tucana/taquiana do Bolsa Família (ou “Bolsa Esmola” e “Bolsa Preguiça”, como antes chamavam os militontos coxinhas do “Fora Dilma!).

Seguindo a mesma notícia da milionária mídia oficial, vi que cerca de 1.633 famílias em situação de vulnerabilidade social são beneficiadas em nova etapa, outros 113 agentes comunitários de saúde e mais quatro assistentes sociais também serão contemplados, totalizando a entrega de 1.750 cartões.

Cada um dos beneficiados vai receber o montante de R$ 100 reais por mês para servir de instrumento de propaganda do candidato Pedro Taques em sua cruzada pela reeleição (era disso que os militontos golpistas acusavam os programas de transferência de renda dos governos petistas).

Os demais atos midiáticos e propagandistas, custeados com o dinheiro público, vão de uma singela e acanhada dança de lambadão com uma idosa, lá no Araguaia, a uma fotografia da mãe do governador publicada nas redes sociais no segundo domingo do mês de maio.

Bom, os “cenzão” por mês desse Pró-Família aos quase 2 mil beneficiários novos representam um valor bem inferior ao que a EIG Mercados, empresa enrolada nos esquemas do Detran/MT, teriam entregue ao primeiro primo de Pedro Taques.

Segundo consta nos inquéritos policiais, na delação premiada, nas investigações do Gaeco e na decisão do Tribunal de Justiça, ao receber o bastão de governo de Silval Barbosa, em 2015, integrantes do novo time embolsaram uma propina de R$ 2,6 milhões, uma espécie de “sinal” ou antecipação de pagamentos.

Será esse o programa de transferência de renda de qualidade do governo de Mato Grosso?

Relendo um discurso de Pedro Taques no Senado, proferido em 6 de fevereiro de 2014, em que ele criticava abertamente o Bolsa Família, programa de transferência de renda criado por Lula, mantido por Dilma e prestes a ser destruído por Michel Temer, matutei: Não existe nada melhor como um dia após o outro!

Da tribuna do Senado, dizia ele: “O Bolsa Família, um grande projeto, um grande programa, junto com o aumento do crédito e o quase pleno emprego que nós teríamos no Brasil hoje, foi uma das causas com que o Governo Federal, junto com os governos estaduais, pode retirar muitos brasileiros da linha abaixo da linha da pobreza”.

“Agora (continuou ele), mais do que comemorar quantos brasileiros estão no Bolsa Família, nós temos de comemorar quantos brasileiros saíram do Bolsa Família em razão de uma qualificação, em razão dos investimentos na educação. É um grande programa que defendo, mas nós precisamos pensar no pós-Bolsa Família”, concluiu o ex-senador.

E aí eu pergunto, o programa feito aqui, em Mato Grosso, é melhor, tem a saída em forma de qualificação e pleno emprego, ou é somente mais uma enganação? E por que os valores de propina denunciados nos processos são bem superiores que os gastos com essa “política pública”, o “Pró-Família” em especial?

No total, seriam gastos cerca de R$ 20 milhões todo mês nesse programa de transferência de renda, mas só o desvio da Secretaria de Educação - Seduc, para pagar dívidas da campanha eleitoral, segundo confessou o tesoureiro do PSDB, foi de R$ 56 milhões, ou seja, mais que o dobro do orçamento do “Pró-Família”.

Será que o grande “Pró” (aquele de qualidade) é somente para a família Taques? Me refiro ao que está sendo denunciado nesse processo do Detran, de desvio de recursos públicos por meio de fraudes em contratos. Nem cheguei a tocar no assunto da Ager, onde os amigos de Pedro Taques fizeram outras lambanças, que teriam impacto diretamente nos custos dos serviços fiscalizados: energia elétrica, telefonia e transporte público.

Lembro-me que Pedro Taques foi o primeiro governador de estado a aderir ao golpe contra a Dilma Roussef, quando batia no peito e tagarelava com orgulho, ao lado do amigão Aécio Neves. Até então dizia ele que era íntimo do ilegítimo Michel Temer, seu professor de Direito Constitucional.

Taques, elogiando o usurpador, disse: "Temer é um homem sério, digno e que tem visão de futuro. Tenho certeza que fará as reformas necessárias para o Brasil". E assim, apoiou todas as barbaridades feitas pelo Vampirão contra o povo brasileiro, inclusive o congelamento dos investimentos em saúde pública por vinte anos.

Isso, sim, é que é jogar no lixo não apenas um nome de família, é muito pior, é enlamear pra sempre sua história. O plano maléfico já começa a dar o “resultado” que a classe dirigente do consórcio PSDB/PMDB/Temer tanto desejava: os empobrecidos estão cada vez mais excluídos.

Estamos presenciando o crescimento da mortalidade infantil no Brasil, depois de 13 anos consecutivos de queda (nos governos Lula/Dilma), e quem diz é o próprio Ministério da Saúde: o salto na mortalidade infantil foi de 11% para crianças entre 1 mês de vida e 4 anos de idade.

A morte de nossas criancinhas, e de tantas outras maldades contra os mais pobres, decorre do corte de programas sociais aplicado por Temer com o apoio de Eduardo Cunha, Fernando Henrique, Aécio Neves, e aqui, em Mato Grosso, por Pedro Taques.

Houveram cortes em todos os programas de assistência à saúde da mãe e ao aleitamento materno, como o Rede Cegonha. Corte no Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Eliminação de 1 milhão de pessoas do Bolsa Família. Corte no programa Mais Médicos.

Isso sem se falar no aumento nos preços do gás de cozinha, da energia elétrica, do combustível e aumento do desemprego, que tem impacto deletério nas famílias mais carentes, impossibilitando de terem uma alimentação adequada e o mínimo em qualidade de vida.

Finalizando, ouso pensar que neste governo, o Pró-Família, da família Taques, vem a ser bem mais atrativo, tem muito mais dinheiro que qualquer política pública feita para famílias em situação de miséria em Mato Grosso.

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com