Os golpistas de 2016, que arrastaram o país aos escombros, a exemplo dos de 1964, pouco estão ligando de que forma serão lembrados na história, se foram os que levaram as batatas, ou os que tiveram apenas uma vitória de Pirro, obtida a alto preço, acarretando prejuízos irreparáveis ao Brasil e ao seu povo.
Por Antonio Cavalcante Filho
Do campo da resistência democrática contra o regime de exceção que se instalou no país com o golpe de 2016, não me retiro de jeito nenhum! Não será a eleição de um neandertal, recheada de fraudes, que irá intimidar quem acredite que é possível construir um mundo de paz, de justiça e de felicidade para todos.
Do campo da resistência democrática contra o regime de exceção que se instalou no país com o golpe de 2016, não me retiro de jeito nenhum! Não será a eleição de um neandertal, recheada de fraudes, que irá intimidar quem acredite que é possível construir um mundo de paz, de justiça e de felicidade para todos.
Apesar dos impropérios que venho recebendo dos lacaios da
extrema-direita, após conversar com amigos de várias regiões do país,
alguns dos quais não trocávamos idéias há muito tempo, pude perceber,
com mais clareza, que estou do lado certo. E é assim que devo continuar.
O resultado das urnas mostra que apenas 57 milhões de
brasileiros acreditaram no Jair Bolsonaro, ou se contentaram com as
poucas propostas apresentadas por seus marqueteiros nos programas
eleitorais, já que o bufão safou-se dos debates públicos durante a
campanha inteira.
Outros 47 milhões de eleitores apostaram suas fichas em Fernando
Haddad, e outros 31 milhões simplesmente ignoraram as urnas, sendo que
2,5 votaram em branco e 8,6 anularam o voto. A matemática é exata e
cruel com o “mito”: 89 milhões não o aprovaram e estão vigilantes desde
já.
Bolsonaro quer permanecer fingindo ser o guardião da moralidade
pública, o vestal da ética e dos bons costumes, como a “última
bolachinha do pacote” que vai salvar a família cristã brasileira dos
“vermelhos”, dos ladrões de dinheiro público, mas já está montando sua
equipe com as mesmas velhas “figurinhas carimbadas” do passado que
respondem a vários processos por corrupção.
Enquanto indica que seguirá na mesma linha de desmonte do estado e de
traição à soberania nacional, adotada por Michel Temer, Bolsonaro
continua destilando ameaças e praticando a única coisa que sempre fez em
30 anos de vida pública: vomitar suas verborréias truculentas contra a
imprensa livre, contra a oposição, contra os direitos dos trabalhadores,
dos aposentados, dos negros, dos índios, dos sem terra, sem teto e por
aí vai.
Reli “Memórias póstumas de Brás Cubas”, romance de Machado de Assis,
onde o personagem Quincas Borba mostra filosoficamente a sua forma de
dominação. Neste livro, ele apresenta uma fictícia região onde havia
duas numerosas tribos, uma próxima a outra. No meio delas, em distância
equivalente de ambas, era possível identificar uma remansosa lavoura de
batatas. Segundo Borba, o suficiente para alimentar muito bem uma das
tribos, mas, se ambas as comunidades fossem se abastecer ao mesmo tempo
no batatal, as duas pereceriam, não havia alimento suficiente para
todos.
A alternativa, segundo Quincas Borba, era a guerra. E ao vencedor, as batatas.
Bolsonaro, o “Capacitado por Deus”, o “Escolhido do Senhor”, o
“Ungido”, segundo Magno Malta, Feliciano e Malafaia (o mesmos “pastor”
que “profetizava” que o Senhor operava por intermédio do ladrão Eduardo
Cunha), vem arregimentado uma equipe com dezenas de militares e
representantes das oligarquias escravocratas, de exploradores e
torturadores de humanos para o seu governo.
Como não acredito em super-heróis, mitos e semideuses, vejo tudo isso
como mais uma grande farsa para mais uma vez engabelarem o povo
brasileiro, usando o nome de Deus em vão.
Há vários pacotes contra o povo em curso, a começar pela mudança nas
aposentadorias. É bom que os trabalhadores se prepararem para
enfretamentos contra as maldades que serão votadas pelo Congresso nos
próximos dias. Com elas, poderão ser atacadas as aposentadorias, os
benefícios de carreira e ser ampliada a terceirização criminosa.
É possível que diminua o imposto de renda para quem recebe até 5 mil
reais de salário e unificada a contribuição de 20% para todos os demais
trabalhadores. Isso quer dizer que a pessoa que recebe seis mil reais de
salário pague a mesma alíquota de imposto que àquele que recebe 60 mil
reais.
Qual é o resultado disso? O alargamento das diferenças sociais e a
ampliação da miséria e do desemprego da população, além de uma
diminuição da arrecadação de imposto de renda na ordem de 27 bilhões de
reais.
Na disputa eleitoral fraudulenta, Jair Bolsonaro ”ganhou” a eleição,
mas nada garante que já conquistou todas as batatas para si, seus filhos
e a turma da Barra da Tijuca.
Não havendo batatas para todos, a saída não seria a guerra como
sugeriu Quincas Borbas? Mas, quem teria a coragem de entrar numa guerra,
para, como na “Vitória de Pirro”, ganhar perdendo?
Seja lá como for, o povo brasileiro deve se preparar desde já para
grandes turbulências que virão pela frente. Mais uma vitória como esta,
da burguesia corrupta e hipócrita contra a democracia, contra os
interesses nacionais, contra as necessidades sociais e contra os
direitos dos trabalhadores, acarretará enormes prejuízos para esta e
para as futuras gerações.
Os golpistas de 2016, que arrastaram o país aos escombros, a exemplo
dos de 1964, pouco estão ligando de que forma serão lembrados na
história, se foram os que levaram as batatas, ou os que tiveram apenas
uma vitória de Pirro, obtida a alto preço, acarretando prejuízos
irreparáveis ao Brasil e ao seu povo.
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News