terça-feira, 20 de novembro de 2018

ESCOLA DA MORDAÇA NA REPUBLIQUETA BOLSONARISTA


Há mais de um século, Marx e Engels, em favor da união da classe trabalhadora, contra sua espoliação, já diziam: “trabalhadores do mundo, uni-vos”! Agora, mais do que nunca, se faz necessária essa união. Afinal, diria Paulo Freire, “Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica”. 




Por Antonio Cavalcante Filho 


Não imaginava que no findar do ano de 2018 pudesse estar com o mesmo sentimento de nostalgia e revolta de Euclides da Cunha escrevendo aos amigos no longínquo oito de agosto de 1909, 20 anos após o golpe que derrubou Dom Pedro II e sete dias antes do seu trágico assassinato: “Tu não imaginas como andam propícios os tempos a todas as mediocridades. Estamos no período hilariante dos grandes homens-pulhas, dos Pachecos empavesados e dos Acácios triunfantes. Nunca se berrou tão convictamente tanta asneira sob o sol! (...) É asfixiante! A atmosfera moral é magnífica para batráquios. Mas apaga o homem”.

Os dias estão nebulosos neste meu país de outrora, de matas verdejantes e águas límpidas. Não estou me referindo aqui das ameaças de destruição de nossos recursos naturais ou da promessa de privatização das águas para satisfazer a lascívia capitalista de alguns muito-endinheirados que na época de Euclides da Cunha seria impensável. Falo da mordaça que os “homesn-pulhas” da republiqueta bolsonarista querem impor a alunos e professores com a tal “ideologia” da “Escola sem Partido”.

Uma das grandes defensoras desta idéia estapafúrdia é a deputada Ana Campagnolo que propõe aos alunos serem “cagüetas” e filmem seus professores em sala de aula, uma espécie de “fiscal” contra os seus mestres. Num país como o nosso, que já sofre com a carência de educadores, essa sugestão amplia ainda mais a distância entre o bom ensino e os resultados que a educação pública deve buscar. O cinismo dos “Acácios triunfantes” é tão grande que a própria deputada, que é também professora, comparece em sala de aula com camisetas dos seus ídolos partidários e seus “Pachecos empavesados”, a começar por Jair Bolsonaro, recém-eleito presidente pelos votos de uma minoria.

Mas, o que querem essas amebas intelectuais, esses cérebros de batráquios? Uma escola sem opinião política? Uma escola que forme alunos sem a menor capacidade de interpretar o mundo? Será que querem formar mais coxinhas, mais midiotas, mais cidadãos apáticos, mais nazi-doidos? Nesse debate, há muitas mentiras e muitíssimas dúvidas.

A primeira delas se refere à opinião política dos “professores vermelhos”, cujos casos identificados são de uma minoria sem relevância estatística. Eu cito um exemplo: nos períodos eleitorais, os pátios das escolas em Cuiabá lotam de carros adesivados com propagandas de candidatos identificados como conservadores e direitistas, muitos até envolvidos em processos criminais, mas que “conquistam” (a que preço) a simpatia de inúmeros profissionais da educação.

Tudo isso, sem falar dos numerosos casos de gestores escolares, que também são trabalhadores da educação, pressionando, intimidando e perseguindo seus colegas pelo simples fato destes lutarem por seus direitos trabalhistas.

Logo, não se pode admitir que haja uma ideia político-partidária dominante nas escolas que deva ser combatida com mordaças. Os equívocos com relação ao desejo dos defensores das escolas amordaçadas são possíveis que sejam afastados do ambiente escolar em poucas palavras.

Os defensores da “Escola sem Partido” podem ser tudo, menos idiotas inúteis. Estão a serviço de uma ideia e de um propósito bem definido: o de serem capachos da burguesia e lacaios do capitalismo. Muitos são gratificados com DAS, cargos de confiança (função remunerada). Afinal, ”trabalham” para defender o “patrão” e empobrecer os trabalhadores, tanto intelectual como economicamente.

Ao invés de uma escola que forme mestres, doutores, pensadores críticos, cientistas e talentos que inovem as relações econômicas e sociais, a “Escola sem Partido” quer que seu filho almeje apenas ser porteiro de prédio, sem nunca sonhar morar num apartamento descente. Quer que ele seja o gari que recolhe os restos da extravagância capitalista, sem nunca anseiar os bens de consumo. A “Escola sem Partido” quer que sua filha seja apenas aquela “criada” que pajeia as crianças dos ricos, enquanto os pais freqüentam os salões e palácios, que jamais seja uma menina questionadora capaz de galgar postos importantes na sociedade.

Qualquer um que defenda a ideia da exploração do homem pelo homem merece o nosso repúdio. Os livros estão à disposição das pessoas para leitura e consulta. A procura por determinados autores ou obras não pode ser considerada uma opção “criminosa”. Qualquer aluno pode defender outros pontos de vista. (Afinal, a vida não é binária, a riqueza de ideias e a multiculturalidade é que nos fará crescer enquanto nação e povo livre).

Passados 109 anos das “nostálgicas e revoltadas” cartas de Euclides da Cunha, as suas preocupações continuam assombrando nossos dias. Hoje, como no passado, o requinte cruel dos “homens pulhas”, dos “Pachecos empavesados” e dos “Acácios triunfantes”, que “apaga o homem” desde o início da república, com o golpe de 15 de novembro de 1889, liderado por uma cúpula militar, sem participação popular, apoiado pelas elites escravocratas que nunca aceitaram a inclusão social da classe trabalhadora na distribuição de renda e menos ainda sua participação na diretriz política do país.

Há mais de um século, Marx e Engels, em favor da união da classe trabalhadora, contra sua espoliação, já diziam: “trabalhadores do mundo, uni-vos”! Agora, mais do que nunca, se faz necessária essa união. Afinal, diria Paulo Freire, “Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica”.

Portanto, para que serve a “Escola sem Partido”, se não é para perpetuar a relação de exploradores e explorados, de dominados e dominadores?

Viva a liberdade de ensinar e de aprender! Viva a educação libertadora!

Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail: antoniocavalcantefilho@outlook.com

Fonte RD News