Há mais de um século, Marx e Engels, em favor da união da classe trabalhadora, contra sua espoliação, já diziam: “trabalhadores do mundo, uni-vos”! Agora, mais do que nunca, se faz necessária essa união. Afinal, diria Paulo Freire, “Seria uma atitude ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de maneira crítica”.
Por Antonio Cavalcante Filho

Os dias estão nebulosos neste meu país de outrora, de matas
verdejantes e águas límpidas. Não estou me referindo aqui das ameaças de
destruição de nossos recursos naturais ou da promessa de privatização
das águas para satisfazer a lascívia capitalista de alguns
muito-endinheirados que na época de Euclides da Cunha seria impensável.
Falo da mordaça que os “homesn-pulhas” da republiqueta bolsonarista
querem impor a alunos e professores com a tal “ideologia” da “Escola sem
Partido”.
Uma das grandes defensoras desta idéia estapafúrdia é a
deputada Ana Campagnolo que propõe aos alunos serem “cagüetas” e filmem
seus professores em sala de aula, uma espécie de “fiscal” contra os seus
mestres. Num país como o nosso, que já sofre com a carência de
educadores, essa sugestão amplia ainda mais a distância entre o bom
ensino e os resultados que a educação pública deve buscar. O cinismo dos
“Acácios triunfantes” é tão grande que a própria deputada, que é também
professora, comparece em sala de aula com camisetas dos seus ídolos
partidários e seus “Pachecos empavesados”, a começar por Jair Bolsonaro,
recém-eleito presidente pelos votos de uma minoria.
Mas, o que querem essas amebas intelectuais, esses cérebros de
batráquios? Uma escola sem opinião política? Uma escola que forme alunos
sem a menor capacidade de interpretar o mundo? Será que querem formar
mais coxinhas, mais midiotas, mais cidadãos apáticos, mais nazi-doidos?
Nesse debate, há muitas mentiras e muitíssimas dúvidas.
A primeira delas se refere à opinião política dos “professores
vermelhos”, cujos casos identificados são de uma minoria sem relevância
estatística. Eu cito um exemplo: nos períodos eleitorais, os pátios das
escolas em Cuiabá lotam de carros adesivados com propagandas de
candidatos identificados como conservadores e direitistas, muitos até
envolvidos em processos criminais, mas que “conquistam” (a que preço) a
simpatia de inúmeros profissionais da educação.
Tudo isso, sem falar dos numerosos casos de gestores escolares, que
também são trabalhadores da educação, pressionando, intimidando e
perseguindo seus colegas pelo simples fato destes lutarem por seus
direitos trabalhistas.
Logo, não se pode admitir que haja uma ideia político-partidária
dominante nas escolas que deva ser combatida com mordaças. Os equívocos
com relação ao desejo dos defensores das escolas amordaçadas são
possíveis que sejam afastados do ambiente escolar em poucas palavras.
Os defensores da “Escola sem Partido” podem ser tudo, menos idiotas
inúteis. Estão a serviço de uma ideia e de um propósito bem definido: o
de serem capachos da burguesia e lacaios do capitalismo. Muitos são
gratificados com DAS, cargos de confiança (função remunerada). Afinal,
”trabalham” para defender o “patrão” e empobrecer os trabalhadores,
tanto intelectual como economicamente.
Ao invés de uma escola que forme mestres, doutores, pensadores
críticos, cientistas e talentos que inovem as relações econômicas e
sociais, a “Escola sem Partido” quer que seu filho almeje apenas ser
porteiro de prédio, sem nunca sonhar morar num apartamento descente.
Quer que ele seja o gari que recolhe os restos da extravagância
capitalista, sem nunca anseiar os bens de consumo. A “Escola sem
Partido” quer que sua filha seja apenas aquela “criada” que pajeia as
crianças dos ricos, enquanto os pais freqüentam os salões e palácios,
que jamais seja uma menina questionadora capaz de galgar postos
importantes na sociedade.
Qualquer um que defenda a ideia da exploração do homem pelo homem
merece o nosso repúdio. Os livros estão à disposição das pessoas para
leitura e consulta. A procura por determinados autores ou obras não pode
ser considerada uma opção “criminosa”. Qualquer aluno pode defender
outros pontos de vista. (Afinal, a vida não é binária, a riqueza de
ideias e a multiculturalidade é que nos fará crescer enquanto nação e
povo livre).
Passados 109 anos das “nostálgicas e revoltadas” cartas de Euclides
da Cunha, as suas preocupações continuam assombrando nossos dias. Hoje,
como no passado, o requinte cruel dos “homens pulhas”, dos “Pachecos
empavesados” e dos “Acácios triunfantes”, que “apaga o homem” desde o
início da república, com o golpe de 15 de novembro de 1889, liderado por
uma cúpula militar, sem participação popular, apoiado pelas elites
escravocratas que nunca aceitaram a inclusão social da classe
trabalhadora na distribuição de renda e menos ainda sua participação na
diretriz política do país.
Há mais de um século, Marx e Engels, em favor da união da classe
trabalhadora, contra sua espoliação, já diziam: “trabalhadores do mundo,
uni-vos”! Agora, mais do que nunca, se faz necessária essa
união. Afinal, diria Paulo Freire, “Seria uma atitude ingênua esperar
que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que
proporcionasse às classes dominadas perceber as injustiças sociais de
maneira crítica”.
Portanto, para que serve a “Escola sem Partido”, se não é para
perpetuar a relação de exploradores e explorados, de dominados e
dominadores?
Viva a liberdade de ensinar e de aprender! Viva a educação libertadora!
Antonio Cavalcante Filho, o Ceará, é sindicalista e
escreve neste espaço às sextas-feiras - E-mail:
antoniocavalcantefilho@outlook.com
Fonte RD News