O que o governo fez foi cumprir a sua promessa de campanha. Ao regulamentar a posse de armas apenas gerou a falsa ilusão de que diminuirá o problema da violência. Mas as evidências provam o contrário. Quem viver verá. 
Por Antonio Ozorio,
Promotor de Justiça no 
Ministério Público do Estado de São Paulo
Se me perguntarem se gostei do decreto que regulamenta a posse de arma é claro que vou dizer que não.
Se me perguntarem se gostei do decreto que regulamenta a posse de arma é claro que vou dizer que não.
Com 30 anos de vida forense, dos quais quase 25 como promotor, a 
minha experiência me diz que mais armas mais problemas e cito três 
exemplos neste sentido: 1) mais armas significa mais danos acidentais 
causados por armas de fogo; 2) implica em mais ocorrências de crimes em 
momentos de ímpeto, causados no calor de conflitos; 3) significa mais 
letalidade nas reações armadas a assaltos, em regra com vantagem para o 
assaltante, pois como sabemos, não devemos reagir a assaltos.
Contudo, estes seriam argumentos até menores se fosse verdade que com
 “mais armas” teríamos “menos crimes”, o que não é comprovado por nenhum
 estudo nacional ou internacional; ao contrário, nos países democráticos
 (com exceção dos EUA) há proibições de armas para o cidadão e/ou sérias
 restrições para a posse.
Também não há nenhuma comprovação de que as armas de fogo tenham efeitos dissuasivos e inibitórios sobre os assaltantes.
O fato é que o nosso grande e histórico problema está nas armas 
ilegais, que chegam aos montes e por todos os lados, cujo combate é 
extremamente complexo. Ou seja, os bandidos continuarão bem armados.
Mais armas legais apenas representará mais armamentismo no país, o 
que não significa diminuição da violência, cujo enfrentamento exige uma 
série de outras políticas públicas, muito mais amplas e complexas. Ao 
contrário, mais armas implicará em mais homicídios, violências letais e 
mais crimes em geral.
O que o governo fez foi cumprir a sua promessa de campanha. Ao 
regulamentar a posse de armas apenas gerou a falsa ilusão de que 
diminuirá o problema da violência. Mas as evidências provam o contrário.
 Quem viver verá.

