Ninguém jamais havia investigado Ronnie Lessa. Embora os corredores das delegacias conhecessem a fama do sargento reformado, de 48 anos, associada a crimes de mando pela eficiência no gatilho e pela frieza na ação, Lessa era até a operação desta quarta-feira um ficha limpa.
Extra: Sargento matador de Marielle, vizinho de Bolsonaro, atuava com Adriano, que empregou mulher e filha em gabinete do hoje senador Flávio
Pela ordem, a partir do alto, à esquerda: condomínio onde moram a
família Bolsonaro e o matador de Marielle; o modelo de automóvel que ele
possui; Ronnie; Bolsonaro com o homem acusado de dirigir o carro;
Queiroz com os Bolsonaro; a medalha Tiradentes; Adriano, o chefão
foragido; a família Bolsonaro; almoço "em família"; Jair discursando na
Câmara e no centro o Condomínio Portogalo, em Angra, onde o matador de
Marielle tinha casa. Fotos Google, reprodução de redes sociais, Câmara
dos Deputados e reprodução de vídeo.
Pela ordem, a partir do alto, à esquerda: condomínio onde moram a
família Bolsonaro e o matador de Marielle; o modelo de automóvel que ele
possui; Ronnie; Bolsonaro com o homem acusado de dirigir o carro;
Queiroz com os Bolsonaro; a medalha Tiradentes; Adriano, o chefão
foragido; a família Bolsonaro; almoço "em família"; Jair discursando na
Câmara e no centro o Condomínio Portogalo, em Angra, onde o matador de
Marielle tinha casa. Fotos Google, reprodução de redes sociais, Câmara
dos Deputados e reprodução de vídeo. i
Segundo o diário carioca Extra, em reportagem assinada por
Rafael Soares, o homem preso hoje como assassino de Marielle Franco,
Ronnie Lessa, atuava com Adriano Magalhães da Nóbrega, apontado como
chefe do grupo de matadores da região de Rio das Pedras, na Zona Oeste
do Rio de Janeiro.
Ronnie Lessa é vizinho da família Bolsonaro num condomínio da Barra da Tijuca.
Com um salário líquido de menos de R$ 7.500,00, o sargento reformado
tem casa no luxuoso condomínio Portogalo, em Angra dos Reis, e andava em
um automóvel importado e blindado, que custa mais de R$ 100 mil.
Adriano, por sua vez, está foragido.
Ele empregou a esposa Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega e a mãe
Raimunda Veras Magalhães no gabinete do então deputado estadual Flávio
Bolsonaro.
O hoje senador disse que ambas foram contratadas por Fabrício Queiroz, que em depoimento assumiu ser laranja
dos Bolsonaro, ou seja, teria tomado “por conta própria” a decisão de
desviar dinheiro de funcionários da Alerj para impulsionar o mandato do
patrão.
Raimunda, a mãe do miliciano, fez uma transferência de R$ 4,6 mil para a conta de Fabrício.
Adriano foi homenageado duas vezes por Flávio, em 2003 e 2005. Na
segunda ocasião, Adriano recebeu a mais alta condecoração do Rio de
Janeiro, a medalha Tiradentes, quando estava preso, suspeito de
homicídio.
Três meses depois, em outubro de 2005, o então deputado federal Jair
Bolsonaro fez um discurso na Câmara dos Deputados informando que havia
assistido ao julgamento de Adriano.
Bolsonaro protestou: segundo ele, a condenação tinha sido resultado de um único depoimento de um coronel da PM (leia íntegra no pé do post):
Um dos coronéis mais antigos do Rio de Janeiro compareceu
fardado, ao lado da Promotoria, e disse o que quis e o que não quis
contra o tenente, acusando-o de tudo que foi possível, esquecendo-se até
do fato de ele sempre ter sido um brilhante oficial e, se não me
engano, o primeiro da Academia da Polícia Militar.
Reprodução O Globo
Sargento acusado de matar Marielle tem mansão em condomínio de luxo em Angra dos Reis
O sargento reformado Ronnie Lessa, de 48 anos, preso na manhã desta
terça-feira acusado de ser o responsável pelos disparos que mataram a
vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes, tinha uma mansão
de luxo no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis, na Costa Verde.
O local ficou famoso na década de 1990, quando o piloto de Fórmula 1 Ayrton Senna comprou uma casa lá.
A mansão, que tem uma lancha em seu interior, foi um dos bens do
policial rastreados por agentes da Delegacia de Homicídios e do Grupo de
Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MP do Rio
durante a investigação.
Lessa ganhava uma aposentadoria bruta de R$ 8.191,53. Com os
descontos, o valor líquido chegou, no último mês de fevereiro, a R$
7.463,86.
Os agentes se surpreenderam com a quantidade de bens do policial.
Lessa foi preso em sua casa no condomínio Vivendas da Barra, na Avenida
Lúcio Costa, 3.100, Barra da Tijuca.
O local, por coincidência, é o mesmo onde o presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), mora.
O condomínio fica de frente para o mar, com seguranças na portaria.
No local, os agentes apreenderam o carro de Lessa, um Infiniti FX35 V6
AWD blindado.
O modelo custa em média R$ 120 mil. Os agentes também descobriram que o policial viajava com frequência para o exterior.
Lessa é um caveira — como são conhecidos os agentes que tem o curso
de Operações Especiais. Ele foi promovido, na década de 1990, por ato de
bravura na PM.
Por isso, teve o salário aumentado, à época, em 40% por ser um dos agentes agraciados com a premiação por pecúnia.
A gratificação foi criada em 1995, durante o governo Marcello Alencar, para premiar quem participava de grandes operações.
Ela acabou após três anos de polêmica, já que o número de homicídios
subiu no estado, o que fez o bônus ser apelidado de “gratificação
faroeste”.
Ninguém jamais havia investigado Ronnie Lessa. Embora os corredores
das delegacias conhecessem a fama do sargento reformado, de 48 anos,
associada a crimes de mando pela eficiência no gatilho e pela frieza na
ação, Lessa era até a operação desta quarta-feira um ficha limpa.
Egresso dos quadros do Exército, foi incorporado à Polícia Militar do
Rio em 1992, atuando principalmente no 9º BPM (Rocha Miranda), até
virar adido da Polícia Civil, trabalhando na extinta Delegacia de
Repressão a Armas e Explosivos (DRAE), com a mesma função da atual
Desarme, na Delegacia de Repressão à Roubo de Cargas (DRFC) e na extinta
Divisão de Capturas da Polinter Sul. A experiência como adido foi o
motor da carreira mercenária de Lessa.
Também foi preso o ex-PM Elcio Vieira de Queiroz por envolvimento no
crime. Segundo a denúncia do MP do Rio, Lessa teria atirado nas vítimas,
e Elcio era quem dirigia o Cobalt prata usado na emboscada. Elcio de
Queiroz foi expulso da corporação.
O condomínio onde moram Bolsonaro e o matador de Marielle. Google Maps
Arregimentado por contraventor
Lessa, como outros adidos, conhecia mais das ruas do que qualquer
policial civil. Logo, destacou-se e ganhou respeito pela agilidade e
pela coragem na solução dos casos. Esta fama, segundo os bastidores da
polícia, chegou aos ouvidos do contraventor Rogério Andrade, na época
cada vez mais ocupado em fortalecer o seu exército numa sangrenta
disputa territorial com o também contraventor Fernando Ignácio de
Miranda. Em jogo, o legado do bicheiro Castor de Andrade, morto em 1997.
Arregimentado por Andrade, Lessa não demorou a crescer na organização e ocupar o destacado posto de homem de confiança do chefe.
Até que, em abril de 2010, a explosão de uma bomba no carro do
bicheiro não apenas matou o filho dele, Diogo Andrade, de 17 anos, como
fulminou a credibilidade de Lessa junto ao chefe, por não conseguir
protegê-lo, assim como sua família.
O guarda-costa e exímio atirador foi incapaz de evitar a morte do jovem.
Chama atenção que o método de detonação da bomba usada no atentado
que matou o filho do contraventor, segundo peritos da época, foi o mesmo
usado no atentado ao sargento da PM, em 2 de outubro de 2009.
Na ocasião, o sargento perdeu a perna. Um laudo do Esquadrão
Antibombas da Polícia Civil revelou que para explodir o Toyota Corolla
blindado de Andrade foi usado um dispositivo acionado à distância por
meio de um telefone celular.
Com a sua reforma por invalidez, Lessa acabou deixando de ser adido,
mas ainda frequentava as delegacias da Polícia Civil, principalmente a
antiga Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE).
Até que, em 2011, ciente da migração dos adidos para as fileiras do
crime, a Secretaria de Segurança do Estado vetou para sempre a cessão de
quadros da PM para a Polícia Civil e acabou com a DRAE.
A medida foi resultado da Operação Guilhotina da Polícia Federal, que
investigou a corrupção policial envolvendo policiais civis e os adidos,
além de integrantes da cúpula da instituição.
Com as portas fechadas na polícia, o ambiente mafioso tornou-se um caminho sem volta para Lessa.
A mira certeira, decisiva para a expansão territorial de Rogério
Andrade, foi também o passaporte do ex-sargento para a organização
criminosa formada por matadores de aluguel, considerada mais temida e
eficiente do Rio.
Segundo a investigação, Lessa atuava junto com o ex-capitão Adriano
Magalhães da Nóbrega, um dos fundadores do Escritório do Crime, grupo de
matadores de aluguel alvo da operação Os Intocáveis, do Ministério Público. Adriano está foragido até hoje.
Num cenário em que o dinheiro da corrupção garantia a impunidade
destes mercenários, Lessa nem sequer se dava ao trabalho de agir às
sombras. Para agenciá-lo, bastava dar uma passada no bar onde o ex-adido
fazia ponto no Quebra-Mar, na Barra da Tijuca.
Uma opinião unânime assombra os que conheceram Lessa pessoalmente. Há
quem diga que ele é capaz de tudo para cumprir as empreitadas
criminosas, sem medir as consequências.
Hábil no manejo principalmente de fuzis, é conhecido por gostar de
atirar sentado, embora uma prótese moderna disfarce bem o problema
físico quando em pé. Jamais volta para a base sem ter cumprido o que
fora acertado com o contratante.
Adriano, foragido. Reprodução de vídeo
O SR. JAIR BOLSONARO (PP-RJ. Sem revisão do orador.) – Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, antes de iniciar, peço à Deputada
Juíza Denise Frossard que ouça minhas palavras, pois não tenho
experiência nessa área e quero depois me aconselhar com S.Exa.
Na segunda-feira próxima passada, pela primeira vez compareci a um tribunal do júri.
Estava sendo julgado um tenente da Polícia Militar de nome Adriano,
acusado de ter feito incursão em uma favela, onde teria sido executado
um elemento que, apesar de envolvido com o narcotráfico, foi considerado
pela imprensa um simples flanelinha.
Todas as testemunhas de acusação — seis no total — tinham envolvimento com o tráfico, o que é muito comum na área em que vivem.
O Tenente Adriano era o décimo militar a ser julgado pelo episódio. Cinco haviam sido condenados e quatro absolvidos.
O curioso é que o militar que apertou o gatilho e matou aquele
elemento foi absolvido, e o tenente, que era o comandante da operação,
condenado a 19 anos e 6 meses de prisão, sendo enquadrado inclusive em
crime hediondo.
O que é importante analisar no caso?
Não considero que a Promotoria o condenou, Deputada Denise Frossard.
Um dos coronéis mais antigos do Rio de Janeiro compareceu fardado, ao
lado da Promotoria, e disse o que quis e o que não quis contra o
tenente, acusando-o de tudo que foi possível, esquecendo-se até do fato
de ele sempre ter sido um brilhante oficial e, se não me engano, o
primeiro da Academia da Polícia Militar.
Terminado o julgamento, ao conversar com a Defesa, fiquei sabendo que
ela não conseguira trazer para depor o outro coronel que havia
comandado o tenente acusado.
Por quê? Porque qualquer outro coronel que fosse depor favoravelmente
ao tenente bateria de frente com o Coronel Menick, e, com toda a
certeza, seria enquadrado por estar chamando de mentiroso o colega
coronel.
Esse fato não poderia ter passado despercebido pelo juiz. Se bem que,
nesse episódio, o juiz só entrou na parte final, na sala secreta.
Apesar disso tudo, poderia ter sido discutido o porquê de a Defesa
não ter podido trazer nenhum outro superior ou comandante de batalhão em
que tivesse servido o tenente.
E o que serviu para fazer com que os jurados o condenassem por 5 a 2
foi exatamente o depoimento do Coronel Menick, que falou sobre uma
sindicância feita por ele à época.
Não vou entrar em detalhes sobre a desqualificação dos acusados ou
sobre o fato em si. Entendo também, e V.Exa., Deputada Denise Frossard,
deve concordar comigo, que o que tem de ser discutido é o que está nos
autos, o que está fora dos autos não existe. Mas a palavra do coronel
foi considerada.
Estou completando 16 anos de Brasília. É importante saber a quem
interessa a condenação pura e simples de militares da Polícia do Rio de
Janeiro, sejam eles culpados ou não.
Interessa ao casal Garotinho, porque a Anistia Internacional cobra a punição de policiais em nosso País, insistentemente.
É preciso ter um número xis ou certo percentual de policiais presos.
O Rio é o Estado que mais prende percentualmente policiais militares
e, ao mesmo tempo, o que mais se posiciona ao lado dos direitos humanos.
Então, Sr. Presidente, não sei como podemos colaborar. O advogado vai
recorrer da sentença, mas os outros coronéis mais modernos não podem
depor, senão vão para a geladeira, vão ser perseguidos. E o tenente,
coitado, um jovem de vinte e poucos anos, foi condenado.
Mas não foi ele quem matou, Deputada Denise Frossard! Quem matou foi o
sargento, que confessou e, mesmo assim, foi absolvido no tribunal do
júri.
A decisão, portanto, tem de ser revista.
Ao que parece, há um interesse muito grande por trás disso. Eu não
sei como funcionam as promoções na magistratura, mas está mais do que
comprovado que Coronel Menick está ao lado do Governo do Estado, que,
repito, quer atender à Anistia Internacional e simplesmente punir por
punir.
Isso não pode acontecer. Essa prática desqualifica, desmoraliza o
tribunal do júri. E o tenente, como qualquer outro policial militar, não
tem dinheiro para pagar um bom advogado, tem de se valer de um
profissional sem muitos conhecimentos, que, numa hora dessas, não
levanta todos os fatos. Eu, que não sou advogado, percebi isso e depois
comprovei.
Esse comportamento não está certo, Deputado Reinaldo Betão.
Quero me assessorar com a Deputada Juíza Denise Frossard e com outros juízes para saber como podemos proceder no futuro.
Se um coronel vai depor e outro não pode fazê-lo porque será
perseguido, o depoimento dessa autoridade tem de ser desqualificado.
https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante