Foram três anos de assembleias e fóruns. Bispos de nove países envolvidos. Mais de 87 mil pessoas, em processo de escuta, debateram as florestas. Mas extrema-direita e estelionatários da fé insistem que Sínodo não tem legitimidade…
O mundo das novas mídias permite
que grupos pouco incidentes na sociedade agora ganhem a voz e a potência que
antes não tinham. Assim está acontecendo com os grupos ditos católicos que não
aceitam até hoje o Concílio Vaticano II. Não só eles, mas também
a extrema-direita global que se articula ao redor de Steve Bannon. Estão
por aí com suas missas em latim, condenando os comunistas, abortistas,
heréticos e outros selos que colam nas pessoas que não comungam suas opiniões.
Agora a bola da vez é a oposição
ferrenha ao Sínodo para a Amazônia. Certos grupos estão andando pela Amazônia,
indo até às cidades, entrando nas casas do povo, pregando contra o Sínodo,
coletando assinaturas, mas também pedindo dinheiro, o que fez alguns bispos
chamarem até a polícia para esses estelionatários da fé.
O processo pré-sinodal tem quase
três anos. Começou com quase vinte seminários espalhados pela Amazônia
brasileira sobre a Laudato Sí, promovidos pela Rede Eclesial Pan-amazônica
(REPAM). Depois, a data inaugural em Puerto Maldonado, Peru, quando Francisco
disse: “hoje e aqui começa o Sínodo”.
Na sequência veio a consulta às
bases por meio de um questionário enviado pela equipe que coordena a preparação
do Sínodo, diga-se, sob direção do Vaticano, portanto, do Papa Francisco.
Nesse processo pelos nove países
da Pan-Amazônia houve 57 assembleias, 13 fóruns nacionais, 16 fóruns temáticos,
179 rodas de conversa. Desse processo de escuta participaram 87 mil pessoas,
cerca de 102 bispos, quatrocentos padres e 477 religiosos e religiosas.
Finalmente, o chamado “Instrumento de Trabalho”, passou pela síntese das
Conferências Episcopais locais, pela elaboração da equipe com a coordenação de
Roma, portanto, do Papa Francisco.
Então, é no mínimo estranho que
grupos isolados, sempre avessos a uma Igreja encarnada, arroguem para si o
direito da última palavra sobre a Igreja na Amazônia, até porque não
participaram do processo sinodal até agora. Até mesmo vozes isoladas de
cardeais de outros países, um ou outro bispo emérito do Brasil, não têm
condição de desqualificar o Instrumento, que pode e deve ser debatido, até
porque não é o documento final, mas é fruto de um processo do qual eles não
participaram.
Também as reações de setores
governamentais revelam um descomunal desconhecimento da Igreja e de suas
tarefas. É tarefa da humanidade “cultivar e guardar a criação” (Gênesis 2,15).
É dever da Igreja que está na Pan-Amazônia – logo em mais oito países além do
Brasil -, cultivar e guardar esse bioma para as atuais e futuras gerações. O
Brasil, tal e qual o conhecemos, é uma dádiva da Amazônia.
Esse é o Sínodo para a Amazônia,
um gesto de amor aos povos amazônicos, ao poder da criação, de deferência
Àquele que tudo criou, e que ama tudo e todos que fez (Gênesis 1).
Fonte Outras Palavras