Num país onde Constituição determina que a República funcione com base em três poderes, independentes e harmônicos entre si, um ato contra um deles não passa de uma provocação antidemocrática, a ser repudiada por todo cidadão e toda cidadã consciente da necessidade de preservar uma democracia conquistada após tantos sacrifícios.
Opera Mundi
Por Paulo Moreira Leite
Incluído na propaganda do ato "Foda-se, " convocado por Jair Bolsonaro por vídeo distribuído nas redes sociais, o general da reserva Roberto Peternelli, deputado federal do PSL-SP, partido do presidente, deixa claro que o eleitor está sendo vítima de propaganda enganosa.
Incluído na propaganda do ato "Foda-se, " convocado por Jair Bolsonaro por vídeo distribuído nas redes sociais, o general da reserva Roberto Peternelli, deputado federal do PSL-SP, partido do presidente, deixa claro que o eleitor está sendo vítima de propaganda enganosa.
"Ninguém pediu para usar minha imagem,"disse ele a Marcelo Godoy, do Estado de S. Paulo, esclarecendo
que discorda da iniciativa. "Atrito entre Executivo e Legislativo não
contribui para o País," acrescenta Peternelli, que acrescenta: "'Fora
Maia e Alcolumbe é impróprio, como 'Fora Bolsonaro'".
Não
se trata da única voz do universo militar a condenar a iniciativa.
Afastado do governo em junho do ano passado, numa conspiração da família
presidencial para que fosse derrubado da Secretaria do Governo, o
general Santos Cruz, um dos mais respeitados oficiais do Exército
brasileiro, denuncia o dia 15 como armadilha para as Forças Armadas:
"confundir o Exército com alguns assuntos temporários de governo,
partidos políticos e pessoas é usar de má fé, mentir, enganar a
população".
Num
país onde Constituição determina que a República funcione com base em
três poderes, independentes e harmônicos entre si, um ato contra um
deles não passa de uma provocação antidemocrática, a ser repudiada por
todo cidadão e toda cidadã consciente da necessidade de preservar uma
democracia conquistada após tantos sacrifícios.
Cabe
até debater se, pelo seu caráter antidemocrático, incompatível com a
Constituição em vigor, uma manifestação dessa natureza pode ser
autorizada pela Justiça.
Não
há o menor sinal, de qualquer forma, de que o protesto do dia 15 será
capaz de produzir uma mobilização com a envergadura capaz de tirar o
governo Bolsonaro do sufoco político em que se encontra e permitir que
recupere a iniciativa política.
Depois
de enfrentar um carnaval de vexames e humilhações, onde o educador
Paulo Freire foi consagrado em São Paulo, Marcelo Adnet brilhou fazendo a
parodia presidencial no Rio, enquanto grandes escolas e blocos do país
inteiro faziam sua parte, a partir de hoje o Planalto volta a encarar a
dura realidade de seus fracasso.
Agora
que se demonstrou sua incapacidade para melhorar o salário, diminuir o
desemprego ou respeitar os direitos dos aposentados, descobre-se que
são as contas do Bolsa Família que apresentam um rombo nunca visto desde
o lançamento do programa, uma década e meia atrás.
Deixando
de lado os interesses e necessidades da maioria dos brasileiros e
brasileiras, que nunca foram prioridade de Bolsonaro e sua turma, cabe
reconhecer a questão política deste governo.
Reside
na incapacidade de resolver problemas concretos para fazer o país
funcionar conforme os interesses da própria elite que garantiu a vitória
das fake news em 2018 -- e já recebeu um pacote de reformas e
benefícios sem paralelo na história do capitalismo de nossos dias.
A
cada dia que passa, diminui a paciência do empresariado com um
ministro da Economia perdido entre frases feitas do neoliberalismo e
afirmações preconceituosas sobre empregadas domésticas e funcionários
públicos. O desarranjo profundo estimula candidaturas alternativas --
como Huck, como Moro -- que podem comprometer o único projeto que
importa para o Planalto, a reeleição. Nos comandos militares, surgem
iniciativas destinadas a mostrar uma postura de compromisso com a defesa
do Estado, mas independência perante o governo.
Este é o jogo para o dia 15.
Alguma dúvida?