quarta-feira, 6 de maio de 2020

COVID-19: COMEÇA A APARECER O CORPO DO ICEBERG

No dia em que país registrou novo recorde (600 mortes), pesquisador da USP revela: em cidades como Manaus, para cada 5,6 óbitos apenas um é atribuído à doença. Subnotificação é geral. Leia também: governo insiste em negligenciar os testes






Por Maíra Mathias e Raquel Torres
 

O NOVO RECORDE, A VELHA INCERTEZA

O Brasil bateu um novo recorde nas mortes pelo novo coronavírus em 24 horas: o Ministério da Saúde informou que foram registrados 600 óbitos de segunda para terça-feira, levando o total a 7.921, em 114.715 casos confirmados. O boom já era esperado. Entre quem estuda a evolução da pandemia no Brasil havia um consenso de que a queda nos óbitos diários verificada nos últimos dias se devia a um atraso nos registros por conta do feriadão e, com isso, o número provavelmente subiria muito ontem.

Infelizmente, é certo que haverá novos recordes. Ontem foram publicados dois estudos apontando que o Brasil deve se tornar o novo epicentro global da pandemia. O InfoGripe, sistema da Fiocruz que acompanha internações por SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave), confirmou que a tendência de aumento segue firme. A taxa de crescimento da disseminação da covid-19 (mesmo com a subnotificação) está entre as 25% piores do mundo, e o aumento da letalidade é o pior da América Latina. A Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) alertou sobre o crescente número de casos no país, especialmente com o aumento nas cidades menores.

Mesmo assim, antes da divulgação dos dados, o presidente Jair Bolsonaro garantiu estar esperançoso: se houvesse nova queda, seria uma mostra de que  “o pior já passou“, afirmou ele. Desnecessário dizer que isso não faria o menor sentido. Com a imensa demora no registro dos óbitos, não dá nem para determinar qual foi o dia do recorde real de mortes até o momento. Na coletiva de imprensa de ontem, o secretário de Vigilância em Saúde Wanderson de Oliveira notou que, dos 600 registros, só 25 se referem a ontem, 51 são de segunda-feira e 48 são de domingo. Os outros quase 500 são de outras datas. “Quando nós avaliamos o número de óbito, é uma conclusão de duas, três semanas atrás”, disse ele. Hoje, ainda estão em análise mais de 1,5 mil mortes que só vão aparecer depois.

Oliveira, que chegou a pedir demissão quando soube que o ex-ministro Mandetta seria exonerado, acabou ficando, e foi responsável por dar os informes e responder às perguntas na coletiva. Reconheceu que “não dá para saber quando chegaria o pico da crise”. De acordo com ele, vai ser em algum ponto entre maio e julho. “Não tenho dúvida”, afirmou. Até março, o Ministério acreditava que o pico seria em abril…

Incrivelmente, só na coletiva de ontem fomos brindados com uma valiosa e chocante informação: o Brasil desconhece os resultados de quase 200 mil testes já realizados. Cerca de 90 mil amostras estão aguardando análise laboratorial, e cada laboratório central continua analisando só de cem a 150 amostras por dia. Outros mais de cem mil foram feitos na rede privada, que não compartilhou os resultados com o Ministério da Saúde. “A instituição que deve notificar, isso está previsto em uma lei de 1975, a notificação compulsória”, destacou Oliveira. Mas o fato é que a notificação não vem, e aparentemente fica por isso mesmo. Quando se trata dos testes sorológicos, ou rápidos, a situação é ainda mais nebulosa: “Distribuímos os testes rápidos. Os dados de quem usou e deu negativo, ou de quem usou e deu positivo não estão chegando ao Ministério da Saúde”, prosseguiu o secretário, afirmando que foram entregues 3,5 milhões de kits.

Para efeitos da pandemia, quando cada dia conta muito, podemos dizer que já faz uma eternidade desde que o Ministério da Saúde anunciou a distribuição de 46 milhões de testes, ainda sob Mandetta. Mas até agora só 5,1 milhões foram entregues: os 3,5 milhões de sorológicos e mais 1,6 milhão do tipo PCR. Outros 24,6 milhões “estão sendo adquiridos, ou foram uma parte já recebidos; ou seja, já estão pagos ou entregues”, declarou Oliveira, mas não sabemos exatamente o que esperar disso. Apesar de dizer que “tem uma grade de distribuição planejada” e que a Fiocruz entregaria 3,6 milhões até maio, ele não informou o cronograma. Tampouco explicou quantos desses testes são sorológicos e quantos são PCR, nem qual a garantia da qualidade dos produtos (falamos disso ontem). Além disso, não falou sobre o que acontece com os outros milhões de testes que faltam para completar a promessa inicial.

Pelo menos, ainda que insuficientes, os dados mais detalhados da Pasta vão enfim começar a ficar disponíveis para consulta. Segundo o secretário, eles devem ser lançados ainda esta semana, sem identificação dos pacientes.

Em tempo: Guilherme Benchimol, presidente empresa de investimentos XP e, agora, também palpiteiro em saúde pública, disse ontem que “o Brasil está bem” em relação ao coronavírus e que “vamos sair dessa mais rápido do que as pessoas imaginam”. “Nossas curvas não estão tão exponenciais ainda, a gente vem conseguindo achatar. O pico da doença já passou quando a gente analisa a classe média, classe média alta. O desafio é que o Brasil é um país com muita comunidade, muita favela”, declarou, em transmissão ao vivo do Estadão. Difícil entender por que ele foi convidado pelo jornal para analisar a situação.

NO SUS?

O ministro da Saúde Nelson Teich decidiu dar um ‘chega pra lá’ no ex-presidente Lula, que o acusou no Twitter de nunca ter entrado em uma unidade básica de saúde. “Um dos pontos mais graves da covid-19 é a propagação da desinformação. Iniciei minha carreira há 39 anos no SUS“, retrucou Teich. Só que há 39 anos o SUS nem existia…

A VER

Os secretários estaduais de saúde aproveitaram a ocasião em que, finalmente, Nelson Teich se reuniu com eles para colocá-lo contra a parede. Eles cobraram uma diretriz objetiva de sua gestão para o combate ao coronavírus. O ministro prometeu divulgar uma campanha publicitária em defesa do isolamento social. “Os estados e municípios não podem mais continuar pregando sozinhos sobre a necessidade de isolamento social. É preciso que o SUS tenha um único discurso”, afirmou o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) em nota na qual se posiciona dizendo que a entidade  espera que o Ministério da Saúde se junte ao “esforço para salvar vidas.” A expectativa do Conass é que as ações definidas com o ministro sejam colocadas em prática a partir da próxima segunda-feira (11).

ASSIM CAMINHAM OS BLOQUEIOS

No Maranhão, o primeiro dia de lockdown teve saldo positivo. As coisas parecem estar bem organizadas por lá. A Polícia Militar instalou 50 pontos de bloqueio nas quatro cidades da ilha de São Luís contempladas pela medida. Para passar por eles, os trabalhadores de serviços essenciais tiveram que mostrar uma declaração fornecida pelas empresas e emitida em papel timbrado. Também é permitido circular de carro dentro das cidades para comprar alimentos e medicamentos ou buscar atendimento de saúde. Pontos movimentados da capital tiveram menor circulação, segundo avaliação do governo do estado. A exceção ficou por conta da desesperada busca por informações e tentativas de saque do auxílio emergencial de R$ 600 em agências da Caixa Econômica Federal e lotéricas. Foram registradas grandes filas, mas o governo informou que conseguiu organizar melhor esses pontos de aglomeração. O funcionamento do porto e das indústrias que trabalham em turnos de 24 horas não foi atingido pelo lockdown, que tem prazo de dez dias.

No Pará, Helder Barbalho (MDB) e prefeitos decretaram a suspensão de todas as atividades não essenciais em Belém e nove cidades próximas: Ananindeua, Marituba, Benevides, Castanhal, Santa Izabel do Pará, Santa Bárbara do Pará, Breves, Vigia e Santo Antônio do Tauá. O primeiro lockdown que parte do poder Executivo começa amanhã e dura dez dias. Mas terá uma “fase educativa” até domingo (10), quando as multas – de R$ 150 para pessoas e de até R$ 50 mil para empresas – não serão aplicadas. Calha de pegar justamente o Dia das Mães, quando a circulação deve aumentar…

O decreto proíbe as visitas a casas e prédios, com exceção dos trabalhadores de serviços essenciais. Além disso, só permite a circulação nas ruas de quem busca atendimento e precisa comprar alimentos, medicamentos, produtos de limpeza e higiene pessoal. Os estabelecimentos comerciais devem controlar a entrada das pessoas, limitado a um membro por família e respeitando a lotação máxima de 50% da sua capacidade. Fica também proibida a circulação entre cidades, com exceção de profissionais das atividades essenciais ou pessoas em busca de tratamento de saúde, mediante comprovação. O Pará registra uma taxa de ocupação de 97,38% de leitos de UTI, segundo a secretaria estadual de saúde.

No Ceará, o governador Camilo Santana (PT) estendeu a quarentena no estado até o dia 20 de maio e estabeleceu – em conjunto com a Prefeitura – regras mais duras para Fortaleza. Agora, a capital cearense segue outras, como Recife e Salvador, e passa a proibir o acesso às praias. Também não será permitido circular em praças e algumas vias serão bloqueadas na tentativa de restringir o número de carros nas ruas. O prefeito Roberto Cláudio (PDT) ficou de publicar novos parâmetros de funcionamento para supermercados, farmácias, etc. As regras começam a valer a partir da sexta-feira (8).

É preciso ver o quão parecidas essas restrições serão em relação ao lockdown, já que não faltam sinais de que a capital precisa de um. Por lá, estão sendo instaladas câmaras frigoríficas em UPAs para guardar corpos das vítimas da covid-19. Segundo a Prefeitura, as agências funerárias têm demorado para fazer a retirada dos corpos. Mas o Sindicato das Funerárias do Ceará rebate, apontando um problema de fluxo, com aumento de 30% nos funerais desde o início da pandemia.

No Amazonas, o Ministério Público estadual ingressou ontem com uma ação civil pública para que a prefeitura e governo decretem lockdown em Manaus. O bloqueio duraria dez dias, no mínimo. O MP pede que, junto com o fechamento, haja uma limitação do número de pessoas nos estabelecimentos considerados essenciais, dentre outras medidas. Também é solicitado o veto absoluto às carreatas da morte. A ação é assinada por 11 promotores, que pedem que a Justiça decida até hoje sobre o bloqueio.

Enquanto isso, o governador Wilson Lima (PSC) prefere insistir em um plano para reabrir indústria e comércio a partir de 14 de maio. A decisão foi tomada com base em um “estudo” coordenado pelo economista e comentarista de rádio e TV, Samy Dana. Foi feito pela empresa Easynvest, que se descreve como “a maior plataforma de investimentos independente do Brasil”. A base para a reabertura leva em conta a crença de que o pico de casos ficou para trás, em abril. Para contabilizar a capacidade de leitos do SUS e do setor privado no estado, Dana admite ter consultado o Data-SUS sem ter checado com o próprio governo estadual se os dados ali estão atualizados. “Acho que a gente deve esperar um pouco mais. Ver o comportamento, o que pode acontecer. Fazer relaxamento nesse momento é inoportuno. Vai provocar um rebote na curva. Ou seja, diminuir a infecção e depois aumentar novamente a curva”, alertou Bernardino Albuquerque, presidente do Comitê Central de Combate à Covid-19 da UFAM, ao site Amazônia Real.

No Rio, o Ministério Público estadual pediu que o governo providencie até sexta-feira um estudo sobre a decretação do lockdown. Mas na semana passada, um conselho composto por profissionais renomados de saúde já havia recomendado o bloqueio. Ontem, eles entregaram uma carta ao governador Wilson Witzel (PSC). O político tem se mostrado escorregadio nesse sentido. Em entrevista ao Roda Viva, ele defendeu que o bloqueio total é uma decisão que deve partir… do Judiciário. Ontem, ele se restringiu a anunciar que vai aumentar a fiscalização e mandar a PM punir quem está descumprindo as medidas de isolamento social.

Pausa para um comentário: no Grajaú, na mesmíssima rua onde o governador tem casa e uma patrulha da Polícia Militar fica eternamente estacionada na esquina guardando esse ‘patrimônio’, dois bares têm funcionado normalmente no fim de semana, com mesas na calçada e tudo. No mesmo bairro, exatamente em frente a um posto policial, há semanas um salão de beleza atende clientes. Enquanto isso, os policiais ficam sentados, conversando com as máscaras no pescoço. Com o anúncio de ontem, Witzel só fez confirmar que, antes, era uma quarentena para inglês ver. Segundo o próprio governador, a adesão tem sido de apenas 40% da população.

Em São Paulo, o nível de 48% de adesão ao isolamento foi ontem caracterizado como “inaceitável” pelo infectologista David Uip, coordenador do Centro de Contingência do Coronavírus do estado. O índice foi detectado mesmo após a vigência dos bloqueios viários. “Não é possível trabalhar com este número”, disse Uip, alertando que o colapso do sistema de saúde pode acontecer em um mês. “As pessoas continuam a não acreditar no vírus”, constatou.

SOBRE A ESCASSEZ

Na capital do Rio, a taxa de ocupação dos hospitais municipais, estaduais e federais (em uso) chegou a 82%. E mesmo a rede particular já opera sob pressão. Segundo a Associação Nacional de Hospitais Privados, a média de ocupação já é de 80%. Mas eis que emergem números absurdos: com mais de 360 pacientes na fila por uma UTI e custosos hospitais de campanha sendo montados, o estado tem 1,8 mil leitos de internação e UTI sem uso nas unidades federais. Para que funcionem, faltam profissionais e insumos básicos, como respiradores e equipamentos de proteção individual. Já havíamos falado aqui da situação do hospital federal de Bonsucesso – que tem mais de cem leitos vazios – mas o panorama geral é bem pior. Os dados foram levantado pelo Cremerj e pelo Coren (os conselhos regionais de medicina e enfermagem, respectivamente).

Quem pode, pode. Sem encontrar leitos em Manaus e Belém, pacientes começam a ir para hospitais particulares de São Paulo. Segundo a colunista da Folha, Monica Bergamo, “são pessoas de maior poder aquisitivo que vieram em jatos particulares ou pagos por empresas”…

MUITO DESIGUAL

O coronavírus não é nada democrático, como volta e meia um ‘sábio’ diz. Novos dados de São Paulo escancaram essa desigualdade. A capital paulista concentra 65% das mortes do estado. Mas a taxa de mortalidade não é homogênea na cidade. Ao contrário: 20 distritos, nas periferias e onde há favelas, puxam esses números para cima. As maiores taxas de letalidade por 100 mil habitantes estão em Campo Limpo (52%), Parelheiros (50%) e Itaim Paulista (42%), bairros onde o IDH é mais baixo. Nesses lugares, ser infectado pelo Sars-Cov-2 significa correr um risco dez vezes maior de morrer em comparação com áreas mais ricas. Na Vila Mariana e Pinheiros, que estão entre os maiores IDHs da capital, a taxa é de 6% e 5%, respectivamente.

ACIMA DA MÉDIA HISTÓRICA

O G1 encomendou ao epidemiologista Paulo Lotufo, da USP, um levantamento que mostra como o número de mortes registradas em cartório está muito acima da média nas cinco capitais brasileiras mais atingidas pela covid-19. A comparação pega o período entre 15 de março até 25 de abril e olha para as médias dos anos anteriores. O lugar mais grave é Manaus, onde foram registrados 2.653 óbitos, 108% a mais do que a média captada entre 2016 e 2019, que ficou em 1.277 pessoas. Das 1.376 mil mortes a mais, apenas 246 foram oficialmente registradas como causadas pelo novo coronavírus – o que revela a gravidade da subnotificação: de cada 5,6 mortes possivelmente provocada pela nova doença, apenas uma foi atribuída a ela.

Em segundo lugar, vem Recife, onde o aumento geral do número de mortes ficou em 44%. Em média, 1.480 morriam nesse período a cada ano; em 2020 foram 2.135 – 655 mortes a mais, das quais apenas 182 foram causadas oficialmente pela covid — 3,7 veze menos! Mas em Pernambuco o governo baixou uma decisão que vai, pelo menos, permitir que parte dessa subnotificação seja corrigida. Os parentes ou representantes legais de falecidos poderão apresentar os exames para coronavírus no cartório e retificar as certidões de óbito. Com isso, talvez as estatísticas oficiais possam refletir um pouco melhor a realidade, já que os resultados demoram tanto a sair que, muitas vezes, os pacientes já morreram.

São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza tem, respectivamente, 28%, 19% e 14% mais registros de óbitos do que o verificado nos anos anteriores. Nessas cidades o problema se repete: do excedente de mortes, a maior parte não tem confirmação da ligação à pandemia.

OS “FATOS” DA FUNAI

A entrada do coronavírus em aldeias indígenas já matou oito pessoas, sendo seis na região do Alto Solimões, no Amazonas. A política anti-indigenista do presidente Jair Bolsonaro não é segredo para ninguém, seus planos nesse sentido já eram mais do que explícitos na época da campanha eleitoral e a dificuldade para enfrentar a epidemia com esse governo federal tem sido, desde o começo, uma preocupação dos povos indígenas.

Daí que o secretário-executivo do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), Antônio Eduardo de Oliveira, falou sobre isso. E a Funai achou importante publicar uma nota de ‘contra-ataque’, afirmando que a eleição de Bolsonaro representou uma “ruptura” às políticas públicas “socialistas” que vinham sendo implantadas por governos do PT. A  “situação de pobreza, dependência e exclusão em que se encontram atualmente os povos indígenas brasileiros” acontece por conta desse socialismo, diz a delirante nota, intitulada “Os fatos” e publicada no site oficial da Fundação.

Essa semana, a Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas enviou uma carta com cerca de 200 assinaturas para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, recomendando aos países a priorização de medidas específicas para garantir a proteção desses povos na pandemia e a criação de um fundo emergencial.

OS CAMINHOS DO VÍRUS

Alguns pesquisadores estavam na expectativa de descobrir que o novo coronavírus estivesse circulando muitos meses antes de dezembro, que tivesse infectado muito mais gente silenciosamente e que, portanto, algumas populações tivessem imunidade. Mas uma nova análise genética do SARS-CoV-2 apresentada por cientistas britânicos mostra que não. Eles observaram amostras retiradas de 7,6 mil pacientes em todo o mundo e descobriram que o vírus, de fato, circula apenas desde o fim do ano passado, e deve ter se espalhado muito rapidamente depois da primeira infecção.

No trabalho, revisado por pares e publicado na Infection, Genetics, Evolution, é apresentada a descoberta de várias mutações – 200 só no Reino Unido. Isso não quer dizer que o vírus esteja se tornando pior, mas os relatórios sobre mutações podem ser especialmente importantes para a pesquisa de vacinas. Afinal, elas precisam atingir as partes do vírus que não mudam muito ao longo do tempo.  Também foram apontadas evidências que reforçam as suspeitas de que o vírus estava infectando pessoas na Europa, EUA e outros países semanas antes de seus primeiros casos oficiais serem registrados na China. Segundo os autores, é impossível encontrar o ‘paciente zero’ em qualquer país.

Aliás, a OMS recomendou ontem que os países passem um pente fino nos seus casos de pneumonias ‘suspeitas’ do fim de 2019, analisando amostras de pacientes para identificar possivelmente o novo coronavírus. Isso porque, como dissemos ontem, um médico francês decidiu testar seus pacientes antigos e descobriu que um homem internado em Paris em dezembro tinha coronaǘirus – antes que a China anunciasse seu primeiro caso, e um mês antes do primeiro caso oficial na França. O caso é ainda mais instigante porque o homem não tinha relação nenhuma com a China nem tinha viajado recentemente, o que sugere que a doença já estava se espalhando entre a população francesa àquela altura.

Para ler com calma: uma compilação das principais descobertas já feitas sobre o SARS-CoV-2 (e dos principais buracos que ainda precisam ser preenchidos) está neste longo artigo da Nature. O texto fala da descoberta dos primeiros coronavírus, há décadas, conta que na verdade eles devem circular há milênios e explica as hipóteses sobre como podem ter passado a infectar humanos. Além, é claro, de abordar o que se pensa até agora sobre o futuro do novo coronavírus. Um dos pontos diz respeito às mutações: parte da comunidade científica espera que elas tornem o vírus mais brando, ficando ao mesmo tempo mais infeccioso e menos mortal. Assim, mais gente ficaria infectada (bom para o vírus) e menos gente morreria (bom para as pessoas). Mas, até agora, não há nenhum sinal de que isso possa mesmo acontecer.
O PAPEL DAS CRIANÇAS

Dois novos estudos esclarecem mais um pouquinho sobre o papel das crianças na pandemia. Isso porque, como sabemos, o coronavírus as afeta muito menos do que aos adultos. Poucas apresentam sintomas, e menos ainda são internadas ou morrem. Mas na medida em que vários países começam a reabrir escolas, surgem dúvidas sobre o impacto dessa retomada nos números da covid-19. Isso poderá recrudescer a epidemia em locais que já controlaram seus surtos?

Um estudo feito em Wuhan e Shanghai revelou que as crianças tem três vezes menos chances de adoecerem, mas também três vezes mais chances de se infectarem. O fechamento de escolas  foi respondeu por uma redução entre 40% e 60% no ritmo da epidemia nesses lugares.

O segundo estudo foi feito na Alemanha. Depois de testar crianças e adultos, os cientistas descobriram que as taxas de infecção dos vírus são as mesmas – às vezes maiores entre os pequenos. Também descobriram que crianças assintomáticas podem ter cargas virais semelhantes à de adultos e crianças sintomáticas, o que pode as transformar em agentes de transmissão eficazes e silenciosos.

Conclusão: a reabertura de escolas pode, sim, aumentar o contágio.  Logo, os governos precisam debater com calma e método essa flexibilização ao isolamento social tão importante para que o resto possa funcionar.

CÂMARA ALTERA PROJETO DE SOCORRO

Ontem, os deputados federais aprovaram alterações no projeto de socorro aos estados e municípios que veio do Senado. O texto-base passou sem problemas, com 437 votos a favor e apenas 34 contra. Mas o projeto, que foi formulado originalmente pela Câmara, recebeu modificações.

Um destaque apresentado pelo Partido Novo alterou as regras de distribuição dos R$ 7 bilhões destinados pelo governo federal obrigatoriamente à saúde. Na versão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, o critério de repasse desse montante levava em conta a taxa de incidência da covid-19 – o que beneficiava estados do Norte, como o dele, Amapá. Agora, a distribuição leva em conta uma equação que soma tamanho da população e quantidade de infectados. Isso beneficia os estados do Sul e Sudeste, que perderam dinheiro com o texto de Alcolumbre, que retirou a compensação da União da perda de arrecadação do ICMS. Segundo as contas d´O Globo, Sul e Sudeste ganharam R$ 1 bi e Norte perdeu R$ 796 milhões com a alteração.

A Câmara também ampliou a lista dos profissionais que estarão a salvo do congelamento de salários e promoções imposto por Paulo Guedes como condição ao pacote de ajuda. Estão no rol: policiais legislativos, técnicos e peritos criminais, agentes socieducativos, de limpeza urbana, assistência social, trabalhadores da saúde e também os professores, categoria incluída por um destaque apresentado pelo PT. Mas o texto ficou confuso porque ficou decidido que os profissionais dessas categorias que não estiverem ligados ao combate ao coronavírus podem ser enquadrados, de acordo com outro destaque aprovado, apresentado pelo PP. Já o PDT conseguiu que o projeto de lei suspenda a validade dos concursos públicos homologados até a data de publicação do decreto de calamidade pública. Isso vai fazer com que instituições possam chamar servidores, burlando em parte a restrição da equipe econômica em relação a contratações. Graças a uma manobra de Alcolumbre, o PL ainda volta para o Senado, que pode derrubar essas mudanças.

Os estados estão arcando com 42% dos custos totais do enfrentamento à epidemia apurados até agora. Suas despesas já somam R$ 3,7 bilhões. A União já gastou R$ 5,2 bi. 



O MUNDO PEDE O “FORA BOLSONARO! QUALQUER SEMELHANÇA ENTRE HITLER E BOLSONARO NÃO É MERA COINCIDÊNCIA.

Assim como foi com Adolf Hitler, Bolsonaro será lembrado pela história como o governo da ignorância, da loucura, da violência, da perversidade, da insensibilidade, da mentira e da morte.