O total de mortes diárias pelo coronavírus é o equivalente à queda de três grandes aviões comerciais lotados, mas o número não choca mais. Nesta quarta-feira (29), o número de mortes chegou a 90,2 mil, mas há enorme descumprimento às regras de isolamento social e volta à rotina em praias, restaurantes e festas, como se o Brasil estivesse à margem da tragédia mundial. Embora a média oscile, o país está próximo de mil mortos por dia desde o começo de junho. Assiste-se pressão velada e escancarada do empresariado para a reabertura total dos comércio e a “normalização” da atividade econômica.
O país se mantém acima das mil mortes diárias há seis semanas, desde meados de junho. Para o filósofo Roberto Romano, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pandemia realça a “tremenda ambivalência” humana. “Temos ao mesmo tempo gestos magnânimos, simpatias e heroísmo, mas também momentos de pequenez, egoísmo, auto satisfação com a maldade, o prazer em fazer o mal”, afirma. “Essa duplicidade depende muito das condições de comunicação, visualidade e proximidade do fato. Se um parente próximo estiver no Boeing que caiu, a reação é de consternação, tristeza e até de revolta. Quando o fato não está no campo visual, de percepção imediata, essa reação se torna cada vez mais tênue.”
No caso da pandemia, acredita Romano, a notícia das mil mortes é apenas um número: “Você não vê aquilo acontecendo, como os destroços de um Boeing, das Torres Gêmeas (atentado em Nova York, de 2001)”.
O cenário de indiferença pode sofrer um abalo quando o Brasil chegar aos 100 mil mortos, mas é incerto.
Fonte Brasil 247