...ou um atentado à Constituição foi cometido por todo o Alto Comando do Exército em 2018 – do qual fazia parte, entre outros, o então Ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna, depois Presidente de Itaipu (salário mensal de R$79.000,00), recém nomeado Presidente da Petrobras (salário de até R$400.000,00) –como mostra a imperdível reportagem de Lygia Jobim em Carta Maior
Por Redação Carta Maior
Ou isso, ou aquilo: ou o General Villas Bôas é um mentiroso que tentou
se socorrer na autoridade do Alto Comando do Exército para escorar o
twitter golpista de 3 de abril de 2018 -com o qual intimidava os
ministros do STF, na véspera do julgamento do Habeas Corpus do
ex-presidente Lula, ou pior.
Pior é o que ele relatou no livro ‘General Villas Bôas: conversa com o comandante’ (Editora FGV).
Escrito
a partir de cinco dias de depoimentos –insista-se, 5 dias, tempo
suficiente para releituras, reflexões e revisões- espaçados no biênio
agosto/setembro de 2019, a história do twitter golpista é relatada ali
com riqueza de detalhes.
Abre aspas para a rememoração do militar : ‘"O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos integrantes do Alto Comando residentes em Brasília (grifo de Carta Maior)...
Segue o relato:
‘No
dia seguinte da expedição, remetemos para os comandantes militares de
área. Recebidas as sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou
todo expediente, até por volta das 20h , momento que liberei para o
CComSEx (Setor de comunicação do Exército) para expedição’.
Fecha aspas.
Sublinhe-se:
-o
staff do general fez um rascunho do recado golpista intimidatório aos
ministros do STF para coagi-los a não conceder o HC a Lula, que poderia
devolve-lo à candidatura presidencial de 2018.
Recorde-se:
-Lula,
prestes a ser preso por ordem de Moro, mantinha-se franco favorito ao
pleito presidencial depois do golpe do impeachment, de 2016.
Era preciso tirá-lo da disputa e/ou dos palanques para que a direita pudesse se consolidar no poder, agora pelo voto.
Aos dados:
a)no
Datafolha de janeiro de 2018 Lula despontava com a larga vantagem na
liderança das intenções de votos com 37% das preferências;
b) seu favoritismo seria reafirmado novamente, dias depois do ‘bilhete’ militar à Suprema Corte.
c)
em nova sondagem divulgada em 15 de abril, Luiz Inácio Lula da Silva
–(então já preso por Moro, que expediu ordem dia 5 de abril, graças à
rendição do STF ao twitter golpista do dia 3) liderava todos os cenários
em que aparecia na nova pesquisa nacional do Datafolha.
Uma semana depois de preso, em Curitiba, o petista que o general impediu de concorrer tinha 31% das intenções de voto.
Era o dobro das intenções de voto atribuídas a Jair Bolsonaro; três vezes a votação potencial de Marina Silva.
‘Esse
homem não pode concorrer; se concorrer não poderá ganhar; se ganhar não
deverá governar’, dizia Carlos Lacerda, em junho de 1950, para impedir a
candidatura vitoriosa de Getúlio Vargas, que cometeria suicídio, quatro
anos depois para não se render ao cerco golpista.
O recado
subliminar que o twitter golpista de 2018 disparou aos iminentes juízes
do STF naqueles dias decisivos de abril foi exatamente esse.
‘Esse homem não pode ser candidato; se concorrer vencerá; se vencer fará de novo outro grande governo...’
Ao contrário do que ocorreu com Vargas sessenta e oito anos antes, a coação militar deu certo.
Lula não foi candidato; Bolsonaro venceu e fez do Brasil isso que estamos vivendo.
É
forçoso arguir: pela octanagem do que estava em jogo, o general Villas
Bôas, adestrado na obediência da caserna, agiria como um franco
atirador?
Ou, de fato, como detalha em seu livro-depoimento, o aviso prévio de golpe foi obra coletiva de todo Alto Comando do Exército...
Importante reler suas palavras:
Aspas:
‘O texto teve um 'rascunho' elaborado pelo meu staff e pelos
integrantes do Alto Comando residentes em Brasília. No dia seguinte da
expedição, remetemos para os comandantes militares de área. Recebidas as
sugestões, elaboramos o texto final, o que nos tomou todo expediente,
até por volta das 20h , momento que liberei para o CComSEx (Setor de
comunicação do Exército) para expedição’
Ou isso, ou aquilo.
Ou
o general Villas Bôas agora mente, tentando minimizar ‘o
pronunciamiento de 2018’ como iniciativa pessoal. E deve ser intimado a
depor por isso...
...ou um atentado à Constituição foi cometido
por todo o Alto Comando do Exército em 2018 – do qual fazia parte, entre
outros, o então Ministro da Defesa, General Joaquim Silva e Luna,
depois Presidente de Itaipu (salário mensal de R$79.000,00), recém
nomeado Presidente da Petrobras (salário de até R$400.000,00) –como
mostra a imperdível reportagem de Lygia Jobim em Carta Maior (https://bit.ly/2ZBVHjM).
Nos
dois casos, seja o do improvável voo solo golpista; seja o da
blitzkrieg de todo Alto Comando –após um dia inteiro de planejamento,
como detalha o livro citado- a baioneta digital espetada nas costas da
Suprema Corte não pode ficar ali sangrando impunemente.
Se os
ministros do Supremo, os deputados e senadores do Congresso Nacional
assim o permitirem, estarão se juntando a Villas Bôas e ao Alto Comando
de 2018 como instrutores da matilha da qual Daniel Silveira é só um
aprendiz sôfrego.
Em 2022 os brasileiros devem repactuar seu
futuro nas urnas. Se a picada aberta em 2018 permanecer impune, quem
garante que poderão escolher livremente os artífices dessa repactuação?
Carta
Maior, a exemplo de toda a mídia progressista, desdobra-se como
sentinela diuturna dessa travessia. A parceria política e o apoio
financeiro de seus leitores é mais crucial que nunca para que não
tombemos no caminho desse longo amanhecer.
Contribua, em primeiro
lugar, organizando-se coletivamente para as lutas que virão e, no que
for possível, ajude financeiramente a mídia progressista,
Joaquim Palhares
Diretor de Redação
Fonte Carta Maior
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