Consumada a renúncia, o palácio começa a pagar o restante da fatura: eleger um presidente da Câmara capaz de ajudar Cunha na luta para manter o mandato.
Por Fernando Brito
Excelente a análise do jornalista André Singer, hoje, na Folha de S. Paulo. Indispensável mesmo para entender – tarefa difícil para quem não tem na mente a lógica dos arranjos e interesses – o jogo político entre Eduardo Cunha e Michel Temer que vai encontrar seu ponto alto na eleição do novo presidente da Câmara, evento-chave, do qual a renúncia do “abominado, mas nem tanto” ex-presidente da Casa foi só o capítulo preparatório do desfecho de fato interessa.
Excelente a análise do jornalista André Singer, hoje, na Folha de S. Paulo. Indispensável mesmo para entender – tarefa difícil para quem não tem na mente a lógica dos arranjos e interesses – o jogo político entre Eduardo Cunha e Michel Temer que vai encontrar seu ponto alto na eleição do novo presidente da Câmara, evento-chave, do qual a renúncia do “abominado, mas nem tanto” ex-presidente da Casa foi só o capítulo preparatório do desfecho de fato interessa.
Sair para Ficar
André Singer, na Folha
A renúncia de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) à presidência da Câmara na
quinta-feira (7) parece resolver o mistério que envolvia o estranho
encontro noturno entre ele e o presidente Michel Temer há duas semanas.
Ali, no Jaburu, certamente foi acordada a liberação do cargo máximo da
Casa do Povo, saída que interessa a ambos. O interino da República,
aliás, quase o explicitou em entrevista à “Veja” nesta semana, ainda que
a seu modo elíptico.
A convergência de pontos de vista entre os responsáveis pelo golpe
constitucional que derrubou Dilma Rousseff tem nome e sobrenome: Waldir
Maranhão (PP-MA). O atual interino no lugar que era de Cunha nutre, por
razões que a minha razão desconhece, visível proximidade com forças
ligadas ao governo deposto. Tanto é assim que no 17 de abril votou
contra o impeachment e logo que assumiu a interinidade tentou nada menos
que anular a votação daquela data fatídica.
Obviamente não convinha nem a Eduardo Cunha nem a Michel Temer que
outras decisões importantes, como a cassação do primeiro ou a PEC do
gasto público, passaporte do segundo para a Presidência definitiva,
fossem presididas por tal personagem. Para ter chance de escapar da
guilhotina, no caso do parlamentar carioca, e de chegar tranquilo à
decisão do Senado sobre o destino da presidente afastada, é necessário
substituir Maranhão por político confiável tanto a um quanto a outro.
O Underwood brasileiro renunciou para abrir tal caminho (o quanto
deve ter se arrependido de ter colocado Maranhão como vice…). Note-se,
contudo, que Cunha não se mexeu antes que o inquilino do Planalto
adiantasse parte do que deve ter prometido na noite daquele obscuro
domingo, 26/6. Na manhã da última quarta-feira (6), o “Diário Oficial da
União” ostentava a nomeação de um afilhado do deputado Ronaldo Fonseca
(PROS-DF) como diretor do Arquivo Nacional. Em seguida, Fonseca leu na
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) o parecer no qual defende
anular a sessão do Conselho de Ética (14/6) que aprovou o pedido de
cassação do congressista fluminense.
Consumada a renúncia, o palácio começa a pagar o restante da fatura:
eleger um presidente da Câmara capaz de ajudar Cunha na luta para manter
o mandato. Note-se que nomes históricos como o de Jarbas Vasconcelos
(PMDB-PE) que, embora do campo governista, poderiam infundir alguma
esperança de mudar, passam longe das cogitações.
O país patina. A Lava Jato, a mídia e o STF derrubaram Cunha da
presidência da Câmara sob o peso de incríveis acusações. Porém o seu
principal aliado no projeto de tirar o PT do poder é agora chefe de
Estado. Juntos vão eleger um sucessor no Parlamento que representa a
continuidade do mesmo sistema agora escancarado.
Fonte Tijolaço
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