Entre os senadores existem os que percebem o que está em jogo. Que não é um simples mandato mas a própria noção de justiça: quem não tem crime a expiar não merece condenação. Não se trata de um governo ou um governante mas do respeito às regras democráticas: quem tem mais votos vence, quem tem menos perde. A Matemática servindo à Democracia.
SERMÃO AOS VERMES
Por Airton Centeno
Esta não é uma pregação para aqueles animais longilíneos,
invertebrados, sem membros, no máximo com apêndices que usam para
locomoção. Dirige-se a outros animais, teoricamente superiores. Animais
que, embora sendo homens, escolheram ser vermes. Fizeram sua opção
preferencial pela baixeza, as úmidas camadas inferiores da vida pública,
escarafunchando e se empanturrando de matéria orgânica em decomposição.
Mas onde estão tais vermes por escolha? Em muitos lugares,
em toda parte, em qualquer profissão. Em todos os poderes da república:
no Judiciário, no Legislativo, no Executivo. Cada um de nós, por certo,
conhece alguém que se enquadra na descrição. Mas o que interessa, agora,
é saber onde estão no Senado Federal.
O Brasil está prestes a obter uma radiografia moral do
Senado, instituição que muitos países sequer abrigam. Saberá quem são e
como agem aqueles e aquelas a quem paga mais de R$ 33 milhões por ano. É
apenas o custo unitário por senador, mais seus 11 assessores! E são 81
senadores! Se a choldra tem direito ao 13º salário, as excelências
embolsam 14º e 15º salários. Sem prejuízo de auxílio-moradia e
torrencial verba pública para despesas com aluguel, alimentação,
passagens aéreas, gasolina, telefone, serviços gráficos, correios e
jornais e revistas. E absolutamente tudo sai do mesmo bolso: o seu. Do
contribuinte. Resta saber qual o tratamento que a porção eleitor do
contribuinte receberá daqueles a quem sustenta tão regiamente.
Quem sobreviverá ao escrutínio da nação? Quem escapará da
mácula definitiva da História? É o que se verá. Estarão, todos e todas,
com suas vísceras expostas. Abertos, devassados, completamente nus se
apresentarão -- num possível ensaio de pornografia extrema e levada às
últimas conseqüências -- nas casas dos brasileiros de ponta a ponta do
território nacional. Os eleitores terão acesso a essa tomografia
computadorizada do caráter de cada senador e senadora. Destes, há os que
viverão e há os que morrerão. Enquanto figuras públicas, entenda-se.
Mas morte política é também fatal ao menos no seu âmbito.
Entre os senadores existem os que percebem o que está em
jogo. Que não é um simples mandato mas a própria noção de justiça: quem
não tem crime a expiar não merece condenação. Não se trata de um governo
ou um governante mas do respeito às regras democráticas: quem tem mais
votos vence, quem tem menos perde. A Matemática servindo à Democracia.
Os homens e mulheres aptos a votar no Senado sabem que,
aberta a porteira, não haverá mais prefeito, governador, presidente com a
menor segurança no seu posto. Terão que irrigar continuamente de
bênçãos as casas legislativas. O que farão como única forma de
sobrevivência às custas da boa gestão, da racionalidade administrativa,
da ética e, por óbvio, do dinheiro público. Ou isso ou a degola.
Há os toscos – e são muitos – que pensam apenas no
curtíssimo prazo. Emplacar aquela indicação no ministério, descolar uma
grande vantagem para meu financiador de campanha, acertar o lado do meu
parente... Pensam com os bolsos e negociam com o diabo mesmo que isto
represente imolar-se em prol de uma fraude aberrante, sem vez nem voto.
Há os que são adversários e sempre o foram. Menos pelos
erros do governo e do governante no patíbulo. Mais pelos seus acertos.
Os primeiros perdoáveis, os últimos jamais. E por isso a decisão a
priori – mesmo sem provas, mesmo calcada em farrapos de argumentação --
de condená-los. Mantê-los significaria correr o risco de mais acertos,
algo intolerável.
E há – os piores entre os piores – os aliados de ontem e
algozes de hoje. Aqueles que, punhais sob as vestes, traíram seu próprio
governo e se dispõem a trair novamente. Traíram para salvar o próprio
couro, para sepultar a investigação que os denunciou ou denunciaria. E
trairão sempre.
Há ainda aqueles que, diante do destino avaro, deixarão de
concorrer. Antes de votar, fizeram da consciência comércio. São os
velhos prestidigitadores prontos a se refugiarem num cargo no exterior,
numa indicação para algum órgão internacional, alguma sinecura distante
do longo braço do eleitor.
Mas ainda não está disponível a cirurgia plástica de
caráter, tampouco botox para alma. Não haverá, portanto, salvação para
quem proceder sem respeito e sem decência.
Vagando pela névoa do auto-engano, alguns acreditam que,
depois do voto infame, ainda estarão vivos. Falso. Cadáveres insepultos,
espalhando o odor pestilento dos zumbis, serão descartados
politicamente. À moda do Zorro terão, no espírito, não o Z escarlate que
flui do florete do justiceiro mascarado mas o G eterno da humilhação e
da desonra. Um G perpétuo. Diante desse G, invisível mas denunciador, as
ruas lhes gritarão nas fuças: “Golpista”. Nas escolas, lhes gritarão
“Golpista”, nas fábricas lhes gritarão “Golpista” e até mesmo em casa,
com portas e janelas fechadas, alguém muito próximo lhe dirá “Golpista”.
Esteja onde estiver será perseguido pela palavra-pedrada: “Golpista!”
Seus descendentes receberão o legado. “É o filho do golpista!” E nada se
poderá fazer diante dessa realidade assombrosa. Virá para ficar. Eterna
e inabalável.
Seu gesto será esquadrinhado pela História, a Política, a
Sociologia, a Psicologia. Mas também pelos ramos da ciência menos comuns
nesse esforço para apurar os fatos e detectar a verdade de modo
integral. Pela Paleontologia, por exemplo. Pela Zoologia. E,
inapelavelmente, pela Microbiologia.
Os vermes? Os autênticos? Bem, perdão a eles. Cumprem uma
missão crucial na terra revolvendo e reciclando. Estão justificados
biológica e ecologicamente. São indispensáveis. São chaves da
existência. Dão continuidade ao ciclo que encadeia vida, morte e
novamente vida. Não se vendem. Não regateiam. Não traem sua missão.
Trabalham na água e no solo. Nos intestinos, são os imprescindíveis
operários da imundície.
Dignos, corretos, laboriosos, não merecem a comparação
reiterada com semelhantes tão vis. Mesmo assim, seu nome será usado como
chicote para açoitar aqueles cínicos e hipócritas que, na hora da
eleição, perseguirão o eleitor para implorar-lhe o voto. Nesta procura,
em algum momento, alguém lhes dará uma resposta ríspida como uma
bofetada:
-- Como você ousa, verme, pedir-me aquilo que me roubou?
Fonte Brasil 247
NÃO ACEITO UM TRAIDOR, CONSPIRADOR, USURPADOR, CORRUPTO, E GOLPISTA COMO PRESIDENTE. QUEM VOTA CONSCIENTE NÃO VOTA EM CANDIDATOS OU EM PARTIDOS QUE APOIARAM O GOLPE CONTRA A DEMOCRACIA
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