sexta-feira, 13 de março de 2009

Júlio Uemura 'herda' de João Arcanjo a Máfia da Cobrança


Grupo criminoso utilizava de coação moral, violência física, atentado e até terrorismo


BRUNO GARCIA

Para garantir seus interesses, a organização criminosa supostamente chefiada pelo empresário do ramo hortifrutigranjeiro, Julio Uemura, utilizava de coação moral, violência física, ameaças, extorsões, atentados e, até mesmo, a prática de terrorismo. Uemura conseguiu reeditar a tristemente famosa “Máfia da Cobrança”, tendo como chefe operacional o ex-policial civil Ailton Fernandes de Oliveira, conhecido como Berimbau.
A revelação está na denúncia que o Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) fez à Justiça, apontando Uemura e outras 22 pessoas como ligadas ao crime organizado em Mato Grosso. A quadrilha foi desbaratada durante a execução da Operação Gafanhoto, coordenada pelo Gaeco, no dia 4 de fevereiro passado.O Ministério Público ofereceu denúncias contra essas pessoas, entre as quais, o ex-deputado estadual e apresentador de TV, Walter Rabello (PP), acusado de fazer tráfico de influência para o grupo criminoso. MidiaNews teve acesso ao teor das denúncias formuladas pelo Gaeco. Além de Berimbau, a organização buscava apoio em outros policiais como Onésimo Martins de Campos, o “Poconé”, Francisco Lourenço, o “Chicão”, o cobrador que se passava por policial Edivaldo Tavares Vilela, o “Corda”, e os policiais civisl Erivaldo Vicente Pereira Junior, José Ferreira dos Santos e Ronaldo Alves de Oliveira. Na denúncia do Gaeco, há a informação de que a quadrilha tinha influência junto a delegados e era formada por policias e ex-policias civis. O grupo agia com truculência e brutalidade, chegando ao ponto de incendiar casas e barracões, ameaçar filhos dos alvos, utilizar armamento pesado e bombas para amedrontar as vítimas. Em interceptações telefônicas entre os dias 15 e 24 de abril de 2008, autorizadas pela Justiça, o Gaeco registrou conversas entre Júlio Uemura e o cobrador Berimbau. Ele detalham como funcionou a ação do ex-policial, ordenado a fazer uma cobrança ao empresário e “laranja” do bando, Claudiomiro Alexandre de Lima, o “Miro”. As conversas entre os criminosos, segundo denúncia, são reveladoras e demonstram os métodos utilizados pelo “braço armado”. “Berimbau chega a comentar que vai tomar o barracão de Claudiomiro, caso o mesmo não faça o pagamento do débito”, revela denúncia. Após iniciar as cobranças, Berimbau, em outra conversa telefônica, informa a Júlio Uemura que a esposa de Miro, identificada como Maria Lucinéia Rosa de Lima, a Néia, ameaçou acionar a Polícia, mas que "estaria tudo sobre controle". Mesmo assim, Julio Uemura “decreta” que a ameaça de morte seja contra o filho do casal Miro e Néia. Como referência a essa ação de Néia, conforme a denúncia, Berimbau comenta com Uemura que teria telefonado para o delegado Antônio Carlos Garcia de Matos – delegado regional de Várzea Grande – “informando a situação, deixando claro, não só que iriam invadir barracão, mas também, a suposta cumplicidade do mencionado delegado”.“As constantes ameaças e terrorismo sofrido pelo referido casal acarretaram na lavratura de vários boletins de ocorrência, registrando até um incêndio. A propósito, o mencionado episódio foi tema de várias conversas mantidas por Júlio Uemura, o qual sempre usando de ironia, diz ser difícil saber quem ocasionou o atentado, pois ele [Claudiomiro] possui débito com muita gente”, relata trecho do relatório. Ainda sobre a cobrança ao casal, eles foram alvos de novos atentados como disparo de arma de fogo, que tiveram como alvo o veículo e residência da família, até mesmo a deflagração de uma bomba de efeito moral e tentativa de homicídio contra o casal. “As ações truculentas e ameaçadoras praticadas em desfavor do mencionado casal foram executadas a partir de ordens diretas do superior hierárquico do grupo criminoso: Júlio Uemura”, diz a denúncia. Outras vítimas foram submetidas a ações semelhantes e por outros grupos do braço armado do grupo e constam nos relatos na denúncia acatada pela Justiça. Após a deflagração da “Operação Gafanhoto”, conforme MidiaNews apurou, os Gaeco investiga se o grupo teria tirado a vida de algum desafeto de Júlio Uemura. Operação A Organização Uemura foi desbaratada no dia 4 de fevereiro, por meio da “Operação Gafanhoto”, comandada pelo Gaeco, após um ano e meio de investigações. No total, oito pessoas foram presas e 25 buscas apreensões foram realizadas. Foram presos: Júlio Uemura, Rene dos Santos Oliveira, Ronaldo Luiz Mateus, Lupércio Augusto de Campos (Teco), Onésimo Martins de Campos (Poconé), Ailton Fernandes de Oliveira (Berimbau), Francisco Lourenço (Chicão) e Edivaldo Tavares Vilela (Corda). Denunciados 1) Kazuoyoshi Uemura (“Júlio Uemura”) – preso 2) Renê dos Santos Oliveira – preso 3) Laerte Botelho Feijó 4) Ronaldo Luiz Mateus - preso 5) Lupércio Augusto de Campos (Teco) - preso 6) Durvalino Amaral da Silva 7) Valdomiro Fernandes da Silva 8) Onésimo Martins de Campos (Poconé) - preso 9) Ailton Fernandes de Oliveira (Berimbau) – preso 10) Francisco Lourenço (Chicão) – preso 11) Edivaldo Tavares Vilela (Corda) – preso 12) Francisco Fernandes Sobrinho (Nandinho) 13) Roseli Aparecida de Souza (Rose) 14) José Firmino da Silva 15) José Aparecido Boleta 16) Waldecir Lohn 17) Erivaldo Vicente Pereira Junior 18) José Ferreira dos Santos 19) Ronaldo Alves de Oliveira 20) Rafael Junior da Silva Camargo 21) Lucas Farias de Souza 22) Walter Machado Rabello Junior * Apenas um nome não foi divulgado, por uma questão estratégica
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Fonte:Midia News