
Na TV, vereador considera fato normal e não teme cassação do mandato
ANTONIO DE SOUZA
DA REDAÇÃO
O vereador Ralf Leite (PRTB) considerou "normal" o fato de se envolver num escândalo sexual com um travesti de 17 anos - o que caracteriza quebra de decoro parlamentar, motivo mais do que suficiente para perder o mandato - e afirmou que o episódio, mesmo tendo provocado um desgaste sem precedentes na imagem do Poder, não é motivo para ele ser cassado pela Comissão de Ética da Câmara Municipal de Cuiabá.
Gente que habita o mesmo teto - no caso, o Legislativo Municipal -, segundo ele, "fez coisas piores" e, no entanto, não é alvo de investigação e sequer corre o risco de ser cassada.
As afirmações foram feitas numa entrevista exclusiva que o parlamentar concedeu ao programa "Resumo do Dia", apresentado pelo deputado estadual Roberto França (sem partido), na TV Rondon, na noite de quarta-feira (15).
Ralf Leite tentou aparentar tranqüilidade, se esforçou para demonstrar auto-confiança, buscou passar uma imagem de humildade, mas o máximo que conseguiu foi atropelar as palavras, num visivel estado de ansiedade.
Na prática, deixou transparecer que, caso seja cassado pelos seus colegas, só porque foi flagrado numa sessão de sexo oral com um adolescente, em plena via pública; foi detido por dirigir supostamente embriagado; tentou subornar policiais militares e abusou da autoridade, será vítima de "uma injustiça".
Todos esses crimes, vale ressaltar, constam de Boletim de Ocorrência elaborado pelos soldados da PM que detiveram o vereador e o travesti, no dia 6 de fevereiro, na região do Zero Km, tristemente famosa área de prostituição e de tráfico de drogas, na cidade de Várzea Grande.
Na entrevista que concedeu ao repórter Augusto Roberto, da TV Rondon, o vereador Ralf Leite falou de trabalho, de prejuízo moral, de um suposto apoio da população, afirmou que não está arrependido, embora tenha pedido desculpas em público. No cômputo geral, a entrevista só não foi truncada porque a produção do programa utilizou os providenciais recursos de edição.
Confira a seguir alguns dos principais trechos da entrevista de Ralf Leite à TV Rondon, na íntegra:
Trabalho: "Nos continuamos nosso trabalho de parlamentar; nós fomos eleito pelo povo para trabalhar pelo povo, independentemente do acontecido, do suposto acontecido. Vamos continuar nosso trabalho até o final do mandato. Estamos transmitindo as reivindicações da população, cumprindo meu papel de parlamentar, pois foi para isso que fui eleito".
Prejuízo: Fui prejudicado porque têm algumas coisas que não são verdades, que não posso entrar no mérito da questão, até por causa da defesa minha, senão vai prejudicar minha defesa. Hoje, eu acho que, de certa forma, fui injustiçado. Porque eu não tirei o pão da boca de uma criança, eu não mexi no bolso de ninguém, não tirei dinheiro de conta de ninguém, não roubei ninguém. Vou resolver na Justiça (...)".
Avaliação: "A população está indignada. Por onde passo, tenho recebido apoio, manifestação de confiança. Indignada porque já houve casos piores na Câmara - sem querer julgar algum vereador. Mas têm pessoas que já se envolveram com coisas piores. Que se envolveram com corrupção. E não foi tão massacrada como a minha pessoa. Por onde eu passo, graças a Deus, tenho recebido muito apoio. As pessoas afirmam, taxativamente, 'vereador, o senhor está sendo injustiçado'".
Arrependimento: "Eu não estou 100% certo, e também não estou 100% errado. Não estou arrependido, porque tenho que esclarecer a verdades".
Desculpas: "Se, de alguma forma, eu feri alguém, eu peço, com humildade e com o coração, as desculpas. Peço desculpa à população cuiabana, aos munícipes (...)".
Cassação: "Não tenho medo de ser cassado, porque tudo mundo sabe que eu não mexi em dinheiro público. Acho que isso aí [o escândalo sexual] não é motivo para cassação".
Mágoa: "Não guardo mágoa de ninguém. Fui exposto muito pela imprensa. Mas ela está no seu papel".
Fonte: Midia News
