quarta-feira, 29 de abril de 2009

Ralf Leite dá show de cinismo numa Câmara desgastada


Pivô de escândalo sexual, vereador do PRTB arrasta o Legislativo cuiabano para o limbo político


ANTONIO DE SOUZA

DA REDAÇÃO


Pivô de um dos maiores escândalos da história do Legislativo cuiabano - a prática de sexo oral com um travesti de 17 anos -, o vereador Ralf Leite (PRTB), nem de longe, parece preocupado com a possibilidade de ter o mandato cassado por quebra de decoro parlamentar. Sequer demonstra algum tipo de preocupação sobre se seu gesto tresloucado acarretou um profundo desgaste na imagem da Câmara Municipal.


O jovem político (tem apenas 29 anos) voltou a circular com desenvoltura entre seus colegas - muitos dos quais, por sinal, o rejeitaram logo após a deflagração do vexame público, muito provavelmente, temendo uma "contaminação" -; voltou a propor ao prefeito medidas para sanar problemas do cotidiano da cidade; e, ultimamente, passou a utilizar a tribuna do Parlamento para fazer, até mesmo, "virulentos" discursos. Pelo menos por enquanto, não levantou a bandeira da moralidade e dos bons costumes. Nem a defesa das minorias.


Na sessão ordinária de terça-feira (28), por exemplo, Ralf criticou, num inflamado discurso, uma suposta falta de investimento no Corpo de Bombeiros por parte do Governo do Estado. Lembrou que fez parte da corporação, que, pela sua ótica, foi relegada a um plano secundário pelo Executivo Estadual. O governador Blairo Maggi, certamente, terá insônia pelo resto do seu mandato, após a "virulência" do discurso do nobre (?) parlamentar do PRTB.


A primeira impressão que Ralf Leite passa é a de um político acima de qualquer suspeita. Deixa transparecer tranquilidade. Aos menos avisados, o vereador transmite a mensagem de que parte dos seus colegas, ultimamente, se perde em discussões estéreis, quando insistem em levar adiante as investigações sobre o tristemente famoso escândalo que ele protagonizou.


À medida que o processo aberto pela Comissão de Ética da Câmara contra o vereador se arrasta - agora, uma medida judicial empacou de vez as investigações -, Ralf Leite se acha no pleno de direito de insultar a inteligência dos cidadãos. Desafia o bom senso e, definitivamente, passa a apostar todas as suas fichas na certeza de que seu escandaloso caso deve, sim, terminar numa grande "pizza". O que, convenhamos, não parece difícil, considerando o corporativismo que grassa na Câmara Municipal.


A inutilidade do Legislativo cuiabano se revela com o descaso em relação aos interesses coletivos: mais de 100 dias se passaram depois da posse dos "novos" vereadores e o grau de aproveitamento dos debates e das propostas é zero. Há sinais nítidos de que a Câmara tende a se acomodar, para corporativamente, esperar que o Caso Ralf "esfrie" e que seja deixado de lado, na tristemente famosa galeria do esquecimento.


Impassíveis, os dirigentes do Palácio Paschoal Moreira Cabral, ao longo desses dois meses em que se arrasta o polêmico caso, não se deram conta - ou fizeram ouvidos moucos à voz rouca das ruas - de que a imagem do Legislativo Municipal está por um fio. O vereador, por seu turno, talvez pelas escassas condições de raciocinar, não percebeu que, a partir do momento em que virou sinônimo de escândalo, era conveniente a sua retirada da cena pública.


Renunciar, até então, era a saída mais honrosa. Hoje, infelizmente, graças a uma legislação que premia o descalabro, isso não é mais possível. De qualquer forma, a conclusão imperativa é de que o jovem vereador do PRTB, definitivamente, já não reúne mais as condições morais para se apresentar como representante do povo no Parlamento. Não tem o direito de usar as prerrogativas de homem público para fiscalizar atos de quem quer que seja, tampouco para cobrar moralidade pública.


Graças à conivência da maioria dos seus pares, Ralf Leite segue na Câmara, dando verdadeiros shows de cinismo. Logo, será premiado e reconhecido como um "profissional da política", pelo que de pior pode oferecer.


O lamentável é que a sua iminente absolvição, inexoravelmente, contribuirá para que, doravante, só se passe a notar que o Legislativo cuiabano existe pelo noticiário policial que produzir.


Fonte: Midia News