quarta-feira, 28 de outubro de 2009

CEARÁ RELEMBRA LAVAGEM DA ASSEMBLÉIA, EM 2003



A covardia é a via errada para a cidadania 


"Todos os dias somos noticiados pelos meios de comunicação a triste realidade que assola nosso país. Vivemos em um mar de corrupção, abuso de poder, malversação do erário público, prevaricação, impunidade, ineficiência do serviço público, nepotismo, desrespeito as leis e aos direitos, etc.A quem devemos culpar?

Basta olhar para um espelho e descobriremos.

Nossa postura omissa dá margem para estes desvios. Coragem é o que falta para muitos de nós.

Coragem para magistrados, advogados, promotores, políticos, professores, médicos…para o povo.

Cobrar, exigir, fiscalizar, denunciar, punir, falar, reagir às injustiças, participar, questionar, não aceitar ilegalidades…

Na Sociedade somos atores e não meros expectadores do que ocorre e influência nossas vidas."
(GEORGE HAMILTON LINS BARROSO)


CEARÁ RELEMBRA LAVAGEM DA ASSEMBLÉIA, EM 2003: "Aquele foi um ato pedagógico que impulsionou a luta contra a corrupção em Mato Grosso"

Antônio Cavalcanti Filho, o Ceará (na foto, à esquerda, ao lado de Francisco Whitaker, um dos coordenadores nacionais do MCCE), é o mais emblemático dos militantes do movimento contra a corrupção em Mato Grosso. Ceará concedeu à PÁGINA DO E a seguinte entrevista:

PAGINA DO E - Os episódios de corrupção na Assembléia já causaram maior indignação popular. Tanto que, no passado, já tivemos uma Lavagem da Assembléia, por conta das denuncias do Ministério Público contra as roubalheiras atribuidas ao Riva, Bosaipo e todo o seu grupo. Como é que surgiu esta proposta?

ANTONIO CAVALCANTE, CEARÁ - Nessa época, na medida em que as denúncias iam se tornando públicas, geraram um descontentamento, uma indignação de populares, ao ponto de nós, do então Movimento Cívico de Combate à Corrupção, as pessoas nos cobrarem nas ruas, nas praças, por onde a gente passava, se a gente não ia fazer alguma coisa, tomar alguma medida. É que os escandalos da Assembléia estavam em todas as manchetes. A rede Globo fez sucessivas matérias sobre o assunto. O episódio das calcinhas virou uma gozação nacional contra Mato Grosso. Nos passamos, então, a ouvir diversas entidades, sindicatos, associações, sobre a possibilidade de se unir forças no sentido de demonstrar para o Brasil a nossa indignação e surgiu a idéia de se fazer a lavagem simbólida da Assembléia Legislativa, em março de 2003.

PAGINA DO E - A imprensa daqui cobriu tanto este episódio quanto a imprensa nacional?

CEARÁ - Sim, os escândalos que envolveram o Arcanjo, as investigações com relação ao comendador se foram aprofundando e mostrando que havia esta conexão do desvio do dinheiro da Assembléia com as empresas do Arcanjo. Reunimos, então, as entidades, partidos politicos, inclusive, o PT, principalmente, quando o presidente era o hoje deputado Alexandre César. Estavam lá, em nossas reuniões, o Sintep, a CUT, o Sindicato dos Bancários, era nos bancários que nos reuníamos, inclusive, e havia as pastorais sociais, associações de bairro, foi uma mobilização grande. Havia toda uma cobertura da imprensa. Se você pesquisar nos jornais, vai ver que o movimento teve muito espaço, até mesmo no plano nacional. Para voce ver, demos entrevista ao vivo, no dia da Lavagem, para o Bom Dia, Mato Grosso, da TV centro América e para o Bom Dia, Brasil, da Rede Globo. Quem deu as entrevistas, naquele dia, fui eu, pelos movimentos populares, e o Alexandre César, falando como presidente do Partido dos Trabalhadores de Mato Grosso. Nós queriamos mostrar para o Brasil, que nestas terras de Rondon não aceitavamos que nosso Estado demonstrasse omissão de seus cidadãos diante daqueles fatos. Queriamos mostrar toda a nossa indignação, cobrando das autoridades providências e o aprofundamento das investigações e que os culpados fossem punidos, efetivamente. Aquele era o sentimento de todos. Era uma ação da cidadania, procurando despertar nos demais cidadãos deste Estado, esta consciência crítica para acompanharem o que hoje já se tornou tão comum através da proposta de controle social, da qual nos tornamos pioneiros.

PÁGINA DO E - E como foi o ato?

CEARA - Começou às 9 horas da manhã, numa segunda-feira. Chegamos a fazer uma chamada, no horário nobre do domingo, na Rede Globo, durante o horário do Fantástico. Distribuimos pela cidade cerca de 100 mil panfletos convocatórios. Colocamos 20 out-doors pela cidade, tudo financiado pelo fundo comum, sustentado pelas entidades e alguns cidadãos. Fomos muito ousados e o povo respondeu a nosso apelo, compareceu em massa, fechando a Barão de Melçao. Ficamos a manhã inteira, das 9 nove às 11 horas, fazendo o ato público, com o microfone à disposição das entidades. Houve um culto ecumênico e muita água, sabão, desinfetante, vassouras, foram usados na entrada da Assembléia, com ampla cobertura da imprensa. Os pronunciamentos foram feitos pelas entidades, pelas pastorais, pelos sindicatos. Nenhum parlamentar apareceu para falar. É uma pena que nosso movimento, sempre tão improvisado, não tenha guardado uma memória deste momento. Mas a memória está aí, no arquivo dos jornais, no arquivo da TV Centro América e demais emissoras.

PÁGINA DO E - Seis anos se passaram. Hoje, em outubro de 2009, os crimes denunciados pelo MP na Assembléia Legislativa continuam, basicamente, impunes. O que se tem hoje é uma primeira sentença, de primeira instância, que afastou o deputado Riva do comando administrativo da Assembléia e suspendeu seus direitos politicos por 5 anos. Você acha que valeu a pena aquele ato?

CEARÁ - Apesar dos resultados tão lentos com relação à punição serem frustrantes porque uma pessoa acusada de tantos crimes, acusada de desvio de dinheiro público, falsidade ideológica, falsificação de documentos públicos e privados e formação de quadrilha, continuou se reelegendo deputado, continuou comandando a Mesa Diretora da Assembléia, ora secretário geral, ora presidente. É muito pouco ver apenas esta punição apenas administrativa. Por outro lado, o ato também serviu para despertar nos cidadãos o exercício da cidadania, despertar esta consciência de que o cidadão não é cidadão apenas no período eleitoral, quando deposita seu voto seja lá no candidato de que partido for. Então, esta formação de consciência no sentido da organização da sociedade civil foi importante, é importante, porque por causa disto, em todo o Estado, nos municipios, as pessoas estão se organizando, discutindo o controle social, a cassação de prefeitos, vereadores, deputado federal, são coisas que aconteceram depois graças a esta pressão dos cidadãos que se organizam. Então, aquela manifestação serviu do ponto de vista pedagógico. Então, aquela foi uma conquista para que a gente possa estar avançando e efetivando, passo a passo, a conquista desta nossa Cidadania. Durante todos estes anos, tem surgido outros grupos preocupados com a questão da corrupção. Aqui em Cuiabá, temos o exemplo da ONG Moral. Há vários outros, em vários municipios. As pessoas entram em contato conosco, querendo saber como investigar, como fazer representação contra políticos suspeitos. A partir daí, cidadãos comuns, tendo conhecimento de corrupção em orgão públicos, tem nos passado informações, documentos importantes. O caso da Chica Nunes, na Camara da Cuiabá, foi um exemplo. Na mudança da Câmara, da Getúlio Vargas para a antiga Assembléia, um cidadão que trabalhava no transporte das caixas, encontrou alguns documentos que achou suspeitos, colocou num envelope e depositou na frente da sede do Sintep, endereçada ao MCCE, fazendo então uma ligação telefonica pra mim. Foi assim que começou a investigação sobre a ex-vereadora Chica Nunes. Aqueles documentos apontavam indícios de fraudes, de clonagem de notas, que acabaram levando à ação civil publica que a Chica e o Lutero Ponce hoje respondem perante o Tribunal do Justiça

PAGINA E - Passado todo este tempo, muita gente estranha que o Alexandre César, por exemplo, que liderou aquela manifestação não esteja hoje ao lado do MCCE na sustentação das denuncias contra a roubalheira na Assembléia, sendo ele um deputado estadual. Voce tem conversado com Alexandre, como é que voce avalia esta atitude?

CEARÁ - Não temos conversado com ele porque, desde a campanha dele para prefeito, acabamos fazendo denúncias também contra ele por seu envolvimento com a prática do Caixa 2. Isso nos distanciou bastante, ao ponto de não termos nenhum contato mais. Mesmo assim, nada impediria que ele, enquanto deputado mantivesse a coerencia com seu discurso de 2003, quando fizemos a lavagem da Assembléia, acusando o Riva de vários crimes. Isto tem servido para levar os cidadãos a desacreditar nos seus representantes e nos seus partidos. O que vemos aí é que inimigos e adversários de ontem são aliados hoje. Isto pode levar à crença generalizada de que todos os politicos e partidos são farinha do mesmo saco. Se de um lado pode levar as pessoas à desesperança, à apatia e ao imobilismo, também, por outro lado, pode levar alguns cidadãos que tenham a consciência crítica mais aguçada a abandonarem a militância partidária e proporem até mesmo a necessidade de os cidadãos votarem nulo e se absterem no processo eleitoral.

PAGINA E - Depois da condenação do Riva pelo juiz Bertolucci, o deputado acena com um processo por danos morais contra seus pretensos caluniadores e difamadores, voce entre eles. Como você acha que este luta pela moralização da Assembléia irá se desdobrar?

CEARÁ - Para nós, náo é nenhuma novidade este tipo de pressão e intimidação. Porque também, como consequencia da Lavagem da Assembléia, em 2003, o mesmo deputado Riva, juntamente com o hoje conselheiro do TCE, Humberto Bosaipo, eles entraram com uma ação por danos morais contra mim. Esse processo tramitou durante uns três anos e eles mesmos, talvez temendo que nós iríamos provar que em todas as denúncias que fizemos não havia de forma alguma nenhuma calunia nem difamação mas simplesmente a constatação, baseada em documentos, inclusive cópias de cheques, etc, nós iriamos provar que estavamos apenas falando para a sociedade de que haviam indícios robustos de que aqueles deputados tinham de fato cometido diversos crimes contra os cofres públicos da Assembléia. Isso aí não intimida. Ainda bem que hoje eles utilizam a Justiça para pressionar e intimidar os que denunciam seus crimes. Os criminosos organizados, no passado, usavam eram pistoleiros de alugueis para responder àqueles que atentassem contra seus interesses escusos. Como, de fato, já sofremos, ao longo destes anos, ameaças de morte, invasão de nossa casa, espancamento de minha esposa, filhos, por bandidos a mando daqueles que viram seus interesses serem atropelados por nossa ação de cidadania. Nosso empenho hoje e para ver aprovada no Congresso Nacional, o novo projeto de iniciativa popular que propõe que os candidatos com ficha suja não possam mais ser candidatos a coisa nenhuma neste país. A proposta teve mais de 1 milhão e 300 mil assinaturas em todo o País e esperamos que os parlamentares não frustrem este multidão de pessoas. É um absurdo que um político que roubou, que matou, que estuprou, possa continuar se candidatando indefinidamente. Esse absurdo é que nós estamos tentando corrigir, através de uma mudança na Lei das Inelegibilidades e espero que valha ainda para as eleições de 2010.

Fonte: Pagina do Enock


POEMA DA ÉTICA

A cantora de MPB, Ana Carolina, antes de iniciar um show, faz um desabafo contra a corrupção através do poema "Só de Sacanagem" de Elisa Lucinda. Para assistir clique abaixo:



Um vídeo para parar e pensar, sobre tudo aquilo que estamos passando no Brasil de hoje


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