Este ano haverá um exército de celebridades dispostas a encarar o desafio das urnas e alguns até já lançaram suas candidaturas ou declararam sua intenção de concorrer a uma cadeira no parlamento federal e nas câmaras municipais ou estaduais. Exatamente como nos anos anteriores essas celebridades atuam como puxa-votos para partidos nanicos e inexpressivos ou candidatos de partidos maiores – mas sem expressão – e políticos profissionais que jamais conseguiriam eleger-se sem elas. Um exemplo claro disso é o próprio presidente da Câmara dos Deputados em Brasília Michel Temer. Há anos Temer não consegue eleger-se por si só e assume hoje um dos papéis de maior importância na república sem ter representatividade alguma para isso.
Mas, você pode perguntar, como isso acontece? A resposta é muito simples: o sistema eleitoral brasileiro usa a proporcionalidade para preencher as vagas no legislativo, nas três esferas de governo, isso quer dizer que a cada certo número de votos recebidos – em comparação ao total de eleitores – o partido tem o direito de escolher mais alguns candidatos para preencher as vagas disponíveis. Assim, digamos que o partido “A” tenha obtido 30% dos votos nas eleições. Esse partido deverá ficar com 30% das cadeiras disponíveis para as legendas que disputem as eleições (é bom lembrar que isso se dá nível a nível). Esse cálculo usa como base o coeficiente eleitoral, que é a quantidade de votos válidos alcançados na eleição. É justamente aí que entra a grande polêmica dos votos nulos e “em branco”. Afinal, como não são votos válidos, eles não entram no cálculo do coeficiente eleitoral e tornam mais fácil a eleição de políticos sem representatividade. A fórmula é simples: digamos que haja 3 milhões de eleitores numa cidade e que com 100 mil votos você consiga eleger-se vereador. Esse seria o quórum mínimo para eleger um vereador, quem não atingi-lo; está fora. No entanto, dos 3 milhões de eleitores, metade votou nulo ou em branco. Agora, para eleger-se vereador, bastará que você consiga 50 mil votos. Viu como ficou mais fácil?
Da mesma forma a celebridade candidata traz para os partidos a chance de empurrar candidatos velhacos, caciques decadentes e filhos de políticos que desejam substituir os pais na dinastia familiar. Trazendo muitos votos para uma legenda, as celebridades são o pote de ouro dos políticos e normalmente são disputadas fortemente pelas legendas. Votar num candidato celebridade, e normalmente vazio de propostas e realizações sociais, é votar no candidato nanico e sem representatividade em detrimento de propostas mais robustas e melhores para a nação. Um exemplo claro disso, aconteceu na eleição de Enéas. Como candidato do voto de protesto e uma celebridade instantânea graças ao bordão “Meu nome é Enéas”; o candidato elegeu-se como o mais votado de todos os tempos e trouxe a reboque a “elite” de candidatos do PRONA. Assim, candidatos com apenas um voto ou candidatos com nenhum voto; tomaram o ligar de candidatos com 20, 30 ou 100 mil votos naquela eleição. Um absurdo ainda maior quando analisamos a produção legislativa dessas celebridades.
Até hoje, o único candidato celebridade que deixou propostas realmente importantes para o cenário nacional e trouxe idéias relevantes para os debates na Câmara Federal foi o controvertido Clodovil. As modificações feitas por ele na lei de adoção são hoje um marco do direito de família no Brasil. Infelizmente, esse desempenho é a exceção e a esmagadora maioria das celebridades apenas tem um retrospecto apagado inexpressivo e mesmo abaixo do medíocre no legislativo.
Por isso, não dê o seu voto aos candidatos celebridade sem que eles apresentem propostas bem definidas e factíveis, eles são a raiz de muitos males da política nacional e a muleta preferida por pessoas que já deveriam estar fora da política faz tempo.
Pense nisso.
Fonte: Visão Panorâmica


