"O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais". (Bertolt Brecht)
BOLSA ESCRAVIDÃO
Ontem (13/09) tive um pequeno entrevero no Twitter com uma criatura (vou chamá-lo assim porque esse sujeito não pode ser considerado como alguém relevante) que criticava o fato de eu ter dito que os crimes relacionados à quebra de sigilo da filha de Serra e de outras pessoas, assim como as novas denúncias envolvendo a Casa Civil deveriam ser apuradas e os culpados gozarem da hospedagem do Estado numa penitenciária mais próxima.
O raciocínio da criatura era simples: Há uma “denúncia” de que nos anos FHC a filha de Serra ou seu esposo faziam parte de uma empresa que desejava implantar um sistema semelhante ao SERASA. Para tal, em contrato com a Receita, a tal empresa teria tido acesso a dados do órgão. Para a criatura haveria aí um ilícito que justificaria o crime cometido pela campanha de Dilma.
Ora. Argumentar que o cometimento de um crime pelo indivíduo “X” autoriza o indivíduo “Y” a cometer crime semelhante ou outro é algo absurdo e o raciocínio mais imbecil da face da terra. É o mesmo que eu dizer que o tráfico de drogas ou de armas deve ser liberado porque outros traficam e eu também quero traficar. É o argumento dos canalhas.
Ao explicar que não se tratava de uma defesa da filha do Serra ou mesmo do próprio Serra, mas sim um pedido para que qualquer pessoa que cometer um crime – seja de que corrente política for – vá para a cadeia a criatura “surtou”. Argumentos estapafúrdios e sem nexo do tipo “rouba mais faz” e “se roubaram antes podemos roubar também” foram utilizados como se verdades universais fossem.
Releguei a criatura as profundezas abissais de onde ela saíra e simplesmente não lhe dei mais atenção. Usar o mesmo argumento usado por Lula para defender o pessoal do Mensalão, Sarney, Renan e os petistas envolvidos nos inúmeros escândalos que apareceram (e continuam aparecendo) não pode ser merecedor de crédito em qualquer debate sério.
Não. Um crime não pode ser usado como justificativa para outro. Não. O Presidente da República, qualquer ministro, e mesmo chefe da Receita Federal não podem quebrar o sigilo de ninguém sem uma ordem judicial para tal. Desrespeitar o preceito constitucional da inviolabilidade dos sigilos do cidadão é admitir a vida em um regime fascista.
Infelizmente, ao pesquisar para o artigo de hoje, a criatura me veio novamente à lembrança ao me deparar com essa matéria do site Congresso em Foco. O site realizou uma pesquisa com eleitores das mais diversas classes sociais sobre as expectativas do eleitorado em relação aos políticos e a eleição que se aproxima.
De forma estarrecedora, a conclusão da maioria do eleitorado é a de que o político pode roubar e usar o dinheiro público como desejar. A única exigência para receber o voto e dividir o butim com o eleitor. E ainda foi feita a ressalva de que a partilha não precisa ser em dinheiro; precisa ser em serviços. Ou seja, pode roubar a vontade desde que construa uma praça aqui e ali; inaugure uma obra qualquer ou mesmo distribua cestas básicas, chinelos e outras benesses. (Para assistir o vídeo clique aqui): http://www.visaopanoramica.com/2010/09/14/eleitores-polticos-e-a-criatura-do-twitter/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+VisaoPanoramica+%28Vis%C3%A3o+Panor%C3%A2mica%29
O eleitorado brasileiro ainda não entendeu que sem os roubos e o “rouba, mas faz” seriam necessários menos impostos; sobraria mais dinheiro para cada um viver a sua vida; haveria mais empregos porque as empresas teriam mais capital para investir; haveria saúde de qualidade porque os recursos seriam integralmente aplicados no que interessa; haveria escolas capazes de educar os meninos pobres e capacitá-los para libertarem-se da miséria e da violência que os traga; haveria melhores condições de vida nas cidades e no campo e, finalmente, haveria novas oportunidades de transformar o Brasil e seu povo verdadeiramente numa nação de pessoas mais felizes, mais plenamente atuantes e dispostas a entrar no Primeiro Mundo pela porta da frente.
Em síntese, a frase da eleitora escolhida como símbolo dessa realidade é um tapa na cara de todos aqueles que lutam para que a nossa política seja mais ética, mais justa e menos infestada de ladrões e aproveitadores.
Ao Dizer – “(…) Se ele pegou, é porque dividiu com os pobres. Esses candidatos que estão entrando aqui dentro eles não dividem com nós nem um pouquinho. Não quero que divide [sic] com nós assim dinheiro, dinheiro, não. Quero que divide com nós estrutura, creche, saúde, que nós não temos. Faça alguma coisa por nós. O tanto que eles roubam ali, mas divide. Façam alguma coisa (…)” – ela cospe na cara de todos nós e sepulta as esperanças de um Brasil melhor, mais justo e mais produtivo. Onde nem ela e nem ninguém precisasse se sujeitar a viver de migalhas ou esmolas.
E você leitor, o que pensa disso?
Fonte: Visão Panorâmica