sexta-feira, 22 de outubro de 2010

SE NÃO ROUBA, FAZ MAIS

"Na verdade a sociedade tem que entender (mas isso é um processo lento) que aquele (político) que não rouba, faz mais"


*Vilson Nery e Antonio Cavalcante Filho

Uma das frases folclóricas que atribui adjetivos ao multi processado político paulista Paulo Maluf é de que ele “rouba, mas faz”. Na verdade a origem da menção ‘qualificadora’ é bem mais remota. Vem da eleição municipal de 1.957, em que Ademar de Barros disputava, como candidato a prefeito, o pleito no município de São Paulo. Seu adversário lançou o slogan “Ademar, rouba mas faz!”que ‘pegou’.

Na época não existia a palavra ‘corrupção’; o termo usado era ‘negociata’. O então candidato a prefeito, dizem, era muito bom em negociatas. O ‘rouba, mas faz’ teve sucesso no pleito.

Mas vivemos novos tempos.

A Lei Ficha Limpa vem mudando os hábitos políticos, tanto que Paulo Maluf (o ‘rouba mas faz’ contemporâneo) foi içado pra fora do processo eleitoral e, mesmo eleito, não tomará posse como deputado federal pelo Estado de São Paulo. Seus votos foram anulados.

Na verdade a sociedade tem que entender (mas isso é um processo lento) que aquele (político) que não rouba, faz mais.

A Transparência Internacional, organização não governamental que mede a corrupção de 133 países, deu nota 3,9 para o Brasil em 2003, mantendo a performance negativa verificada nos anos anteriores. Recente estudo da ONU revelou que a corrupção consome 5% do PIB brasileiro, todos os anos, o equivalente a US$ 25 bilhões. Isso corresponde a cinco vezes o orçamento anual (2011) do Estado de Mato Grosso. Mas há quem diga que a sangria pode ser bem maior. Mesmo porque a corrupção é subterrânea. Há as ‘taxas de sucesso’, os 30 por cento etc.

Veja só.

O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) destinado a moradias e saneamento, ‘empacou’ em Cuiabá e Várzea Grande, porque a cleptomania da classe política tentou desviar R$ 700 milhões. Pois bem. Com esse dinheiro seria possível construir 50 mil casas populares (55 m2) a um custo unitário de R$ 14 mil reais, conforme cálculo apresentado na 6ª Conferência das Cidades, no Auditório Nereu Ramos (Câmara dos Deputados), em Brasília.

Nada, nada, isso significa que o dinheiro (do PAC) surrupiado daria para construir casas e abrigar todos moradores de dez municípios mato-grossenses com população igual à progressista Alto Taquari (população cf. IBGE, Censo 2000).

Mas a corrupção mata!

De acordo com relatório exarado pela Auditoria Geral do Estado (AGE/MT) o prejuízo com a aquisição de caminhões no Programa ‘Mato Grosso 100% Equipado’ foi de R$ 44 milhões de reais.

Esse ‘desperdício’ poderia se transformar em ambulâncias do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência 192) nos moldes do que prevê o Ministério da Saúde (Portaria 1864/2003). Na ambulância do SAMU é possível fazer atendimentos de urgência e emergência, inclusive partos. O custo médio, a depender de equipamentos, é de R$ 100 mil reais para cada unidade. Então só a ‘grana roubada’ na aquisição dos caminhões daria para atender 1/3 dos municípios de Mato Grosso com a implantação do SAMU.

Porém ainda há pessoas morrendo, por falta de atendimento. E desalmados roubando recursos públicos.

Os exemplos de como é prejudicial a corrupção, que desemboca na falta de escola, de hospital decente e de comida na mesa das pessoas, deveria ser de amplo conhecimento popular. Deste modo os incautos não venderiam mais o voto nas eleições ou não mais cairiam no conto do ‘rouba mas faz’.

Afinal, se não rouba, o político faz mais!

*Vilson Nery e Antonio Cavalcante Filho são militantes do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral).