"Nos indivíduos, a loucura é algo raro - mas nos grupos, nos partidos, nos povos, nas épocas, é regra" (Friedrich Nietzsche).
"Qualquer idiota pode fazer uma regra e qualquer idiota a seguirá" (Henry Thoreau )
O Taborita
"Enquanto houver uma classe inferior, eu pertenço a ela. Enquanto houver um elemento criminoso, eu também o sou. Enquanto houver uma única alma aprisionada, eu não serei livre". (Voto bodhisattva)
Votar no PCdoB, PSTU, PCB, PCO ou PSOL ajudará melhorar nosso país?
Os partidos leninistas, trotskystas ou estalinistas (PCdoB, PSTU, PCB, PCO, PSOL) argumentam que deveríamos votar neles porque serão capazes de crescer devido ao seu apelo popular, por suas palavras de órdem por mudança, por se considerarem a vanguarda de amplas seções da classe trabalhadora, as quais estarão expostas ao perigo da alienação se votarem nos partidos de centro e direita, que são explicitamente pró-capitalistas.
Argumentam também que os partidos de centro que alçaram maior ou menor gráu de poder nos últimos 20 anos (PSDB, PT, PTB, PMDB) imprimiram em grande parcela da sociedade indignação, revolta, decepção e arrependimento por tê-los colocado no poder. O povo não tem mais ilusões para com esses partidos. Em outras palavras, alçar reformistas ao poder foi um teste de experiência que não deu certo. E na medida em que tais partidos, por manterem o status quo, trairam as expectativas populares, perderão seus partidários que, por sua vez, migrarão para as fileiras dos radicais, as pessoas irão a procura de outros partidos, os verdadeiros partidos socialistas (PCdoB, PSTU, PCB, PCO, PSOL).
Esses argumentos estão completamente equivocados por três razões.:
Primeiro, é uma tática profundamente desonesta esconder as verdadeiras intenções daqueles que apóiam tal tática. Para falar a verdade é um ato contra-revolucionário. Os radicais não deveriam ir até a mídia capitalista contando meias verdades ou torcendo os fatos sobre aquilo que acreditam. Eles não deveriam esconder suas políticas, nem sugerir o apoio a um sistema ou partidos aos quais eles se opõem. Se isso significa perder popularidade, então que assim seja. O capitalismo, as religiões, -- como matriz de hierarquia e autoritarismo bem ao gosto de oligarcas, latifundiários e coronéis, etc. -- aliena as pessoas mas poucos radicais aproveitam a ocasião para soltar o verbo dizendo o que realmente pensam. No final das contas, ser honesto sobre suas idéias é o melhor modo de produzir um movimento que aponta em direção à libertação de um sistema social corrupto. O movimento que começa com meias verdades está sentenciado ao fracasso.
Em segundo lugar, a lógica dessa teoria que fundamenta este argumento é que ao desiludir-se com seus líderes e partidos reformistas, os eleitores procurarão por novos e "melhores" líderes e partidos. Isso, porém, não atinge a raiz do problema, ou seja, a dependência de líderes que uma sociedade hierárquica cria nas pessoas. O grande movimento revolucionário denominado Power of the People (Poder Popular) iniciado na Tunísia, que passou para o Egito e que promete alastrar-se por todo mundo árabe e guiçá, além, chama a atenção do mundo inteiro pela ausência de bandeiras partidárias de qualquer coloração. O grande desejo expresso pelas multidões na Praça Tahir pode ser condensado em poucas palavras: "Rejeitamos não apenas Mubarak e o regime, rejeitamos também todas e quaisquer versões de líderes "melhores", eles querem o poder popular, ou seja o povo governando a si mesmo, gente autônoma, administrando seus próprios interesses e não seguindo um ou outro líder que aparece. Se você seriamente acha que a libertação da opressão é uma tarefa que cabe aos próprios oprimidos (como os leninistas e trotskystas proclamam) então você precisa rejeitar essa tática em favor daquelas que promovam a auto-atividade do proletariado.
A terceira razão é que essa tática sempre falhou. O que a maioria de seus partidários parece não notar é que os eleitores vem colocado muitas vezes no poder os mesmos partidos reformistas (o PSDB primeiro e depois o PT, governaram o país durante 16 anos, foram 16 anos de ataque e investidas contra o proletariado) e não houve nenhuma radicalização no sentido de avanço na luta. Tanto Lenin como Trotsky sugeriram essa tática há 70 anos atrás e não houve nenhuma radicalização da população por esse método, nem mesmo na militância dos partidos reformistas. Na realidade, de forma bem irônica, a maioria destes ativistas acaba mesmo abandonando seus partidos quando eles chegam ao poder desgostosa pelas tentativas do partido de parecer "realístico" para ganhar mais votos nas próximas eleições! E este descontentamento muitas vezes acaba em desmoralização do próprio socialismo, em vez do partido.
Na medida em que consideramos as razões pelas quais rejeitamos essa tática, o total fracasso dela não surpreende. Se essa tática não ataca a hierarquia, não combate a dependência de líderes, nem se contrapõe ao processo e à ideologia eleitoral, obviamente não representa uma real alternativa à população votante (que vê as eleições como a única opção disponível, desprezando a ação direta como a que se vê agora no mundo árabe). Além disso, a visão dos denominados governos "socialistas" ou "radicais" administrando o capitalismo, impondo cortes, reprimindo greves, e geralmente atacando aqueles que os apoiaram provocará um sério dano à credibilidade de qualquer espécie de socialismo, levando a população a desacreditar de todas as idéias radicais e socialistas. Na verdade, a experiência do governo Lula no Brasil nos últimos 8 anos resultou no crescimento da direita que capitalizou essa desilusão dos votantes.
A recusa em aceitar o fato de que nenhum governo "está de nosso lado", por parte de uma parcela de radicais que vive incitando-nos a votar "sem ilusões" em reformistas, acaba mesmo contribuindo para desarmar as pessoas que ouvem suas teorias. O proletariado, surpreso, confuso e desorientado pelas constantes "traições" dos partidos da esquerda acabam simpatizando com os partidos da direita (que podem subir ao poder via eleições) no intuito da manutenção da estabilidade. Em vez de votar ou incentivar a participação no processo eleitoral os radicais deveriam inspirar-se no exemplo que vemos há 17 dis na Praça Tahir, a prática da ação direta. O ato de votar, longe de nos aproximar de uma solução ou melhorar nossas vidas, apenas agrava nossos problemas.
Quantas vezes temos que eleger o mesmo partido, passar pelo mesmo processo, sofrer as mesmas traições, até percebermos que essa tática não funciona? Ora, se o problema é experimentar algo que nunca foi experimentado antes, poucos socialistas estatais encaminham este argumento a uma solução lógica. Nós raramente os ouvimos argumentar que é necessário que o proletariado passe pelo inferno do fascismo ou do estalinismo para que possa aprender "por si mesmo" o que essas coisas representam.
O exemplo da revolução árabe, em contraste, diz que nós podemos elevar nossa voz tanto contra ditadores como contra políticos reformistas, manter distancia, e ao mesmo tempo incitar as pessoas a não votarem neles. O fato de defender a abstenção significa ajudar a armar teoricamente o povo que entrará em conflito com esses partidos tão logo alcancem o poder. Defender a abstenção significa que todo governo necessariamente será forçado a nos atacar (devido às pressões do capital e do estado) e que temos que responder a esse ataque com nossa própria organização, temos que acumular poder para a autodefesa, temos que promover a autoconfiança da classe trabalhadora em sua própria habilidade, e encorajar a rejeição ao capitalismo, ao estado, à liderança hierárquica. Temos que encorajar o proletariado ao uso da ação direta.
Além disso, nós podemos somar. Somar não significa radicais participando da farsa eleitoral para que as pessoas aceitem suas idéias. As massas verão a prática da ação direta, verão nossa ação, verão as alternativas que criamos, verão e terão acesso à nossa propaganda. Não precisamos nos associar à ação parlamentar para alcançar as multidões.
Fonte: O Taborita
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