Velho amigo da milicada, José Ribamar agora interpreta o tribuno preocupado com as grandes causas que abalam o cotidiano trágico da maioria dos brasileiros
O Brasil é o país dos paradoxos cuja política é o reino das circunstâncias. As feridas e cicatrizes derivadas da tragédia de Realengo forçam o uso de um instrumento de democracia direta como o plebiscito, no caso, sobre a proibição de comercializar armas de fogo. Nada tenho contra os plebiscitos e sim contra o oportunismo dos mentores.
Não há dúvida, o dia 7 de abril de 2011 marcará para sempre a vida dos brasileiros.
A chacina na Escola Municipal Tasso da Silveira poderá ter efeitos de longo prazo, tanto para a vida das crianças sobreviventes, como para o imaginário das escolas públicas brasileiras. Pode ter porque sempre existe a possibilidade da experiência traumática não resultar em aprendizado coletivo. Ocorreram outros episódios de mundo cão vividos na capital fluminense já no período democrático e pouco ou nada se fez. O Rio passou pelo seqüestro do ônibus 174, chacinas da Candelária e Vigário Geral, as mães de Acari, os deslizamentos de 1988 e dezenas de outros mais. A cada tragédia, ao invés de se buscar uma saída de longo prazo, o clamor marca o curto prazo da política.
O comportamento dos profissionais da política no Poder Legislativo é dúbio. Suas agendas permanentes são marcadas por acordos de alianças, interesses paroquianos, patrimonialistas e pautas específicas onde se especializam. Já as temáticas emergenciais se orientam pelo agendamento da mídia e o clamor popular, dos redutos eleitorais ou setores representados.
A atividade enérgica do senador pelo Amapá (PMDB), o maranhense José Sarney no episódio materializam os conceitos acima. Nada pode ser mais antidemocrático do que sua trajetória política e a forma como exerce o controle sobre o mui nobre e ilibado Senado da república. Circunstancialmente, após o ato desumano de Wellington Menezes de Oliveira, José Ribamar passa a ser defensor do mais democrático dos mecanismos de consulta, apelando para um colégio de líderes cujos membros querem livrar-se da pecha de pertencerem a “bancada da bala”. Isso se chama senso de oportunidade, tal como na linguagem publicitária, onde se lançam apelos emotivos relacionados com datas temáticas para o consumo.
Infelizmente, trata-se de paliativo. A maioria das armas em mãos criminosas, ou saem dos paióis das forças da ordem ou entram no país de contrabando. A única boa notícia é quanto ao uso do plebiscito. Isto pode dar a partida para uma nova forma de fazer política, onde as decisões fundamentais da sociedade passem pela decisão das maiorias.
José Sarney o "pacifista" e Santo
Obs do autor: Por vezes, uma idéia é tão estapafúrdia que apanha de todos os lados. O caso do plebiscito costurado às pressas pelo “pacifista” José Ribamar e seu entorno, é onde se materializa o conceito. Da OAB ao brioso portal Estratégia & Análise (não comparando as dimensões, é claro), quase todos estamos contra a convocatória desta consulta pública – já consultada recentemente sob outra forma – e muitos somos mais que a favor de uma série de consultas de decisões de tipo fundamental na sociedade brasileira. Com o perdão da redundância, o oportunismo da direita que se encontra no governo e tenta pegar carona na tragédia de Realengo é o mesmo da direita oposta ao governo a criticar os ex-aliados da Arena (Sarney e cia.) que hoje posam de democratas diretos. Será que cada povo tem as direitas que merece? Para os brasileiros e brasileiras, que tipo de sina e via crucis estamos todos a pagar com juros da Selic para tamanha desfaçatez?
Fonte: Estratégia e Análise
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