domingo, 8 de maio de 2011

Leopoldino inspira “juiz sem rosto” e testemunha diz que corpo foi sequestrado

Um homem morador de Poconé conversou por mais de três horas com a reportagem e trouxe à tona algumas revelações até então desconhecidas, mas que também podem estar na pauta de investigações da Polícia Federal (PF), que não fala sobre o caso por que ele corre em segredo de Justiça

Josino Guimarães, suspeito, no destaque o Juiz juiz Leopoldino Marques do Amaral



José Ribamar Trindade e Edilson Almeida
Redação 24 Horas News


O corpo do juiz Leopoldino Marques do Amaral, - ele sabia que estava sendo perseguido e que iria morrer, conforme afirmou em uma entrevista inédita dias antes de morrer à Revista IstoÉ  -, pode ter sido seqüestrado e não estar mais dentro do túmulo no Cemitério Municipal de Poconé (Baixada Cuiabana, a 100 quilômetros da Capital). Uma testemunha disse que um dia do ano passado três homens foram até o cemitério à noite podem ter levado o corpo. Um parente de Leopoldino,  acredita que o corpo do magistrado foi trocado da última vez que fizeram uma exumação clandestina.  O seqüestro dos ossos do juiz Leopoldino,  segundo a família, pode estar envolvido em uma farsa montada para inocentar o principal acusado de contratar as pessoas para matar o magistrado: o empresário Josino Guimarães, a mando de pessoas que o juiz estava investigando e fazendo denúncias de vendas de sentença e outras falcatruas dentro do Tribunal de Justiça de Mato Grosso.

O professor Eduardo Daruge, da área de Odontologia Legal da Universidade de Campinas (Unicamp), afirma que o corpo enterrado em Poconé é do juiz Leopoldino Marques do Amaral. “Não há a menor dúvida que o corpo enterrado seja o do juiz Leopoldino”.



Josino está bem perto de ir a julgamento. A defesa dele tem como tese a uma elucubração antiga: matreiro, Leopoldino Marques do Amaral simulou a sua própria morte. De ascendência paraguaia, o magistrado fugiu do Brasil e se refugiou no país vizinho, levando consigo uma “bolada” de dinheiro suprimido de contas judiciais que administrava como juiz da Vara de Família. O corpo – ou o que a defesa diz não ser o corpo – do juiz Leopoldino apareceu semi-carbonizado numa estrada a esmo da localidade denominada Concepcion, no Paraguai. Junto dele, documentos pessoais do juiz. Na época, exames confirmaram que se tratava, de fato, do juiz polêmico.

A teoria da conspiração ainda, em verdade, move o conjunto de fatos que cercam os mistérios da morte e corpo do juiz. Os desvios nas contas judiciais foram comprovados, mas boa parte das denuncias firmadas pelo juiz em vida, através de dossiês e outras coisas mais, também acabaram vindo à tona, como o tal esquema de venda de sentenças e outras mazelas adminsitrativas – situações que desde 1999, quando houve as revelações, seguem consumindo a credibilidade do Judiciário de Mato Grosso.

Leopoldino está na listado no rol elaborado pelo Senado Federal e Câmara dos Deputados como um dos magistrados vítimas do crime organizado – o que ajudou a inspirar a figura da “sentença coletiva” – projeto de lei que está em tramitação no Congresso Nacional que permite ao juiz decidir pela formação excepcional de um colegiado - com mais outros dois juízes - para julgar processos nos quais ele se sinta ameaçado por organizações criminosas integradas pelos réus. Junto com Leopoldino estão Antonio José Machado Dias, corregedor da Vara de Execuções Penais de Presidente Prudente (SP), foi assassinado quando deixava o fórum local. Sua morte teria sido encomendada pelo PCC. Também em 2003, o juiz de Execuções Penais do Espírito Santo, Alexandre Martins de Castro Filho, tombou vítima de tiros, ao chegar a uma academia de ginástica de Vila Velha. O juiz federal Odilon de Oliveira, da Vara de Campo Grande (MS), sofre ameaças de traficantes de drogas desde 2006, e trabalha sob escolta da policiais federais. No ano passado, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Sergipe, desembargador Luiz Antônio Araújo Mendonça, saiu ferido de um atentado.

“Olha seu menino, vieram uns homem numa madrugada dessas. Não seis quantos homem era não. Pude ver três, mas parece que tinha mais. Não sei o que fizeram não. Eu estou falando porque lembrei agora depois que me contaram que o corpo do homem que estava lá dentro havia sumido”, afirmou a fonte à reportagem do Portal 24 Horas News com exclusividade.

A mesma testemunha contou que os homens foram ao cemitério no final do ano passado, possivelmente em novembro: “Eu me lembro porque minha mulher me acordou para ver o que estava acontecendo, pois haviam algumas lanternas acesas no túmulo do juiz em pena madrugada.
“Me lembro dessa noite. Dessa noite não, dessa madrugada, e também me lembro da madrugada já desse ano. Parece que foi em março, que alguns homem , também vieram para “escavucar” (sic) o mesmo túmulo. Não sei o que eles levaram, mas sei que os homem levaram alguma coisa”, disse a testemunha.

Para concluir, o homem que não escondia o medo de falar sobre o assunto foi bem taxativo: “Olha moço, não vai colocar o meu nome ai nesse negócio que o senhor está escrevendo. Eu tenho medo e eu também não quero botar em risco a minha mulher e meus filhos ainda muito criança”.

Já um membro da família do juiz Leopoldino tem outra versão, mas não descarta a hipótese do corpo do magistrado ter sido seqüestrado numa madrugada do final do ano passado conforme a testemunha está contando.

“Ainda não sabemos o que aconteceu, mas desconfiamos que o corpo do doutor Leopoldino pode não está mais lá naquele túmulo. Não sei se ele foi seqüestrado de dentro do cemitério, ou se foi trocado após a última exumação aqui dentro do Instituto Médico Legal (IML) para concretizar a farsa de que ele está vivo” - comenta o parente.

Revoltados com atos classificados como criminosos e desumanos, familiares do juiz Leopoldino continuam pedindo Justiça e já admitem que a Justiça Federal determine uma nova exumação para colocar um final nessa história macabra e para desmascarar os responsáveis pela suposta farsa que está sendo investigada pela Polícia Federal.

Até 2006, segundo conta um parente do juiz, Leopoldino, com certeza o corpo estava lá. Daquele ano, segundo denuncia a família, teria começado a farsa. O delegado Márcio Pieroni, então na Delegacia de Meio Ambiente (Dema), estranhamente representou pela exumação do corpo, ele que na época nem da Delegacia de Homicídio estava.

O delegado Pieroni foi afastado das investigações, e o delegado Luciano Inácio ddo Grupo de Combate ao Crime Organizado (GCCO) tomou a frente das investigações, pediu a exumação e mais uma vez os resultados foram claros de que o corpo sepultado era do doutor Leopoldino Marques do Amaral.

“Queremos uma solução para o caso. Confiamos na Polícia Federal, mas está angústia é muito grande. Sabemos que todos os envolvidos nesta farsa serão desmascarados, mas precisamos acabar, também as histórias de que o doutor Leopoldino está vivo. Esse teatro foi montado apenas para inocentar oi Josino e os poderosos da época do Tribunal de Justiça. Confiamos em Deus e na Justiça”, desabafou um membro da família.

O juiz Leopoldino Marques do Amaral, na época com 52 anos, foi visto pela última vez no dia cinco de setembro de 1997 entrando em uma hotel às marques do rio Cuiabá, pelko lado de Várzea Grande (Grande Cuiabá).

O corpo do magistrado foi localizado dois dias depois, em sete de stembro jogado Em uma vala às margens de uma estrada de chão na zona rural da cidade de Concepción, no Paraguai.

O corpo de Leopoldino que apresentava dois tiros: um na nuca e outra atrás de uma das orelhas e estava parcialmente carbonizado, foi reconhecido ainda no local do crime pelo próprio filho, Leopoldo Amaral.

O magistrado, segundo Leopoldo, possuía um defeito num dos dedos do pé, alvo, inclussife de brincadeira entre pai e filho ainda quando criança. Trazido para o IML de Cuiabá, foi realizado um exeme de DNA e de4 arcada dentária, cujos laudos da Universidade de Campinas, em São Paulo, comprovaram que o corpo se tratava de Leopoldino pai de três filhos do primeiro casamento.

A determinação do juiz Leopoldino Marques do Amaral era maior que o medo de morrer. Aparentemente tranquilo, de fala pausada, o juiz chegou admitir em uma entrevista que vinha investigando as denúncias apresentadas por ele e que corria risco de vida: "Vou adiante. Não tem mais volta”. Leopoldino, que não perdia o bom humor, disse que pretendia se aposentar e, por isso, se sentia mais seguro para fazer as denúncias. "Eles não poderão me perseguir, me tirar o cargo."

Veja a íntegra da última entrevista do juiz que teve a coragem de desafiar o pacto de silêncio de um dos poderes mais fechados do País.

ISTOÉ – Por que o sr. resolveu fazer estas denúncias?

Leopoldino Marques do Amaral – Não é de hoje que brigo com parte do Judiciário de Mato Grosso. São dez anos de crítica. Sou o juiz mais antigo do Estado, teria direito à promoção, mas provavelmente serei rejeitado, pois a maioria dos desembargadores é composta por inimigos meus. Já fui processado administrativamente em decorrência das críticas. Abriram uma sindicância, mas não conseguiram nada.

ISTOÉ – Por que esta inimizade?

Leopoldino – Acho que foi porque eu não entrei no esquema.

ISTOÉ – Mas o sr. foi convidado a entrar?

Leopoldino – Recebi uma vez um bilhete, assinado por um desembargador, em que estava escrito o seguinte: "Ou você entra no ritmo ou sai da dança."

ISTOÉ – Bilhete de quem? Quando?

Leopoldino – De um desembargador. Está assinado, mas não posso entrar em detalhes ainda. Esse bilhete vai fazer parte de outras denúncias que ainda vou fazer. Há um grupo dominador que faz as promoções, dá acesso a desembargadores novos, manipula o Judiciário de Mato Grosso. Os outros juízes perceberam que, se criassem inimizades, se não entrassem no esquema, seriam penalizados como eu fui. Eu sou o exemplo para os demais.

ISTOÉ – Há provas das denúncias de venda de sentenças?

Leopoldino – Isso é público em Cuiabá. Advogados, funcionários, sindicalistas, até cachorros da rua sabem. Um deles, posso provar, fez a corretagem do julgamento de um caso de dissolução de união estável. A sentença foi proferida por mim e dificilmente seria reformada. Eu sei que a confirmação desta decisão custou R$ 250 mil.

ISTOÉ – Sabe como?

Leopoldino – Porque a parte interessada, que pagou, me contou. Coagida, pressionada, fez o acerto. Para pagar a primeira parcela, de R$ 30 mil, teve de pegar emprestado dinheiro com um fazendeiro seu amigo. Tenho conhecimento de outros fatos, mas sem provas, não posso falar.

ISTOÉ – O sr. tem como provar que o presidente do Tribunal, Clait Duarte, vendeu a liberdade de um traficante por R$ 300 mil?

Leopoldino – Foi a ex-mulher dele, Rosângela Cardoso Pereira, que me contou, depois de separada. Ela costuma me dizer o seguinte: "Mal sabe ele que eu sou uma bomba ambulante."

ISTOÉ – E se ela disser que é mentira?

Leopoldino – Eu tenho testemunha da conversa reservada que nós tivemos. Local, data e hora.

ISTOÉ – Mas a testemunha ouviu tudo?

Leopoldino – Não. Quando a conversa começou a entrar em detalhes, a testemunha se afastou. Mas, olha, possivelmente ela sabe de coisa muito mais séria. Não pediu sigilo disso. Quando me procurou, estava fazendo uma denúncia. Eu podia ter gravado, né? Mas seria uma traição.

ISTOÉ – O sr. não pediu para ela assinar um papel, nada?

Leopoldino – Não, mas talvez agora, voltando a Cuiabá, eu faça isso.

ISTOÉ – É que são denúncias graves e como juiz, melhor do que ninguém, o sr. sabe da consequência delas ...

Leopoldino – Estou tomando precauções.

Fonte: 24 Horas News

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