quarta-feira, 22 de junho de 2011

VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA

Mesmo com feriadão, liminar de Tadeu Cury e ameaças da Seduc, trabalhadores da Educação sustentam acampamento de protesto contra governo Silval. Em assembléia, na segunda, grevistas definirão novas etapas da luta

Acampamento diante do Shopping Pantanal, em Cuiabá, segue firme até segunda, quando nova assembléia decidirá rumos da greve contra descaso da administração de Silval Barbosa


 Da pagina do Enock

Vigília marca protesto da Educação contra governo do Estado

Os trabalhadores da educação de Mato Grosso seguiram em passeata, hoje (22) de manhã, até o Palácio Paiaguás, onde está localizado o gabinete do governador Silval Barbosa, para uma vigília. Durante todo o dia, com pausa apenas para o almoço, a categoria permanece no local em protesto contra o posicionamento do governo do Estado em relação à greve, deflagrada no dia 06 de junho. Durante a manifestação, os profissionais foram notificados sobre a liminar que decreta a ilegalidade da paralisação.

Ainda de manhã, os manifestantes foram recebidos pelo secretário-chefe da Casa Civil de Mato Grosso, José Lacerda, e pelo líder do governo na Assembleia Legislativa de Mato Grosso (ALMT), deputado estadual Romoaldo Junior, que garantiram intermediar as negociações com o governador a fim de apresentar uma nova proposta. O Sindicato dos Trabalhadores no Ensino Público de Mato Grosso (Sintep/MT) irá convocar uma assembleia geral para a próxima segunda-feira (27), às 14h, na Escola Estadual Presidente Médici, em Cuiabá, para analisar a paralisação e tomar novos encaminhamentos. Antes, no domingo (26), a partir das 10 horas, a Direção Central e dirigentes das subsedes realizarão reunião ampliada, no auditório do Sintep/MT.


A liminar foi concedida pelo desembargador José Tadeu Cury em favor do governo do Estado, sob a alegação de falta de recursos financeiros para o atendimento das reivindicações, argumento que o Sindicato já demonstrou ser infundado por meio de estudos que comprovam a viabilidade do piso salarial imediato de R$ 1.312,00. O presidente do Sintep/MT, Gilmar Soares Ferreira, disse que irá recorrer da decisão e que a greve continua, já que o fim da paralisação só pode ser deliberado pelos próprios trabalhadores da educação. “Esta é mais uma manobra para tentar desestruturar o movimento”.


A ação declaratória de ilegalidade da greve foi assinada pelo procurador Geral do Estado, Jenz Prochnow, e pelo procurador Victor Gargaglione. Estrategicamente posicionados entre o Palácio Paiaguás e o Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT), os manifestantes também protestaram contra os juízes. “Onde está a Justiça para julgar ilegais os repasses feitos à Educação, para decretar que o Estado pague multa por não investir os 35% previstos na Constituição Estadual, ao invés dos 25% investidos atualmente?”, indagou Gilmar Soares.


Assim como no acampamento, a vigília conta com a participação de diversos profissionais da educação do interior do Estado. A professora da rede estadual de Cláudia, a 608 km de Cuiabá, Suzana Antoniezzi, disse que a categoria não aceita ser tratada com indiferença. “Estamos aqui para que o governador saiba que não vamos nos intimidar, pois estamos indignados e mobilizados não só pelo piso salarial, mas pela posse de todos os concursados e hora atividade para os interinos”.


Acampamento também continua – Mesmo com feriado, final de semana e decisão judicial, os trabalhadores da educação continuarão acampados na Praça Ulisses Guimarães, na Av. do CPA. “A categoria continua firme, seguindo a decisão soberana da assembleia geral”, assegurou o coordenador do acampamento, secretário de Assuntos Jurídicos e Legislativos do Sintep/MT, João Dias de Moura.


FONTE SINTEP MT


VERÁS QUE UM FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA - Governo consegue, de desembargador sub-júdice, liminar contra greve da Educação. Assebléia dos grevistas deve definir pisição diante deste ataque do governo repressor do PMDB-PT-PR, comandado por Silval



Por Enock Cavalcante

O governador Silval Barbosa - que se mantém escondido e até agora não desceu do salto para negociar com os trabalhadores da Educação que estão em greve em defesa da Escola Pública -, resolveu radicalizar na repressão contra o movimento. Ao invés de negociar, Silval acionou a procuradoria geral do Estado (que só aparece no noticiário em momentos lastimáveis como este) e conseguiu uma liminar no Tribunal de Justiça determinando a suspensão da greve num prazo de 72 horas.

A liminar foi deferida pelo desembargador José Tadeu Cury que, imagino eu, entende muito de liminar, já que é uma liminar do STF que o mantém no cargo no Tribunal de Justiça, na condição de desembargador com sua judicatura sub-júdice. Se os professores não retornarem às salas de aula, findo o período de 72 horas, a ameaça que a Justiça acaba de lançar sobre os grevistas - a famosa Espada de Damocles -, é que o sindicato da categoria, o combativo Sintep, pode ser penalizado com multa diária de até R$ 50 mil.


A Secretaria de Estado de Educação (Seduc), comanda pela petista Rosa Neide - a "Rosa de Hiroshima", na versão dos grevistas -, segundo comunicado distribuido pela Secretaria de Comunicação do Estado, é que foi escalada para "adotar as medidas necessárias para que a decisão judicial seja cumprida". Na segunda-feira, no ato de abertura do acampamento dos professores diante do Shopping Pantanal, vários manifestantes já demonstravam sua revolta diante das medidas repressivas adotados pelo governo do PMB-PT-PR.


Surpreendidos pela decisão judicial, os trabalhadores da Educação devem se reunir nesta quarta-feira para definirem, de forma organizada e coletiva, em assembléia geral, a posição a ser adotada pela categoria, em face da decisão, além do evidente recurso judicial. Confira abaixo, o comunicado oficial do Governo do Estado sobre a decisão da Justiça.

Fonte: Pagina do Enock

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OPINIÃO





Greves em pauta
 

Por ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ*


Depois de longo tempo sem que as greves pudessem se manifestar, em função de sindicatos cooptados, o País começa a ver muitas manifestações de trabalhadores insatisfeitos.

Por aqui, destaco a greve dos professores da rede estadual. Recentemente, participei, a convite do Sintep-MT, de um debate sobre o modelo em que está estruturada a rede de ensino público: o ciclo de formação, substituindo o regime das séries.

De início, lamento a ausência – mesmo justificada – da assessora da Seduc ao evento. Por coincidência trata-se de uma colega do Instituto de Educação/UFMT. Há anos tento estabelecer diálogo acadêmico com meus pares especialistas em educação. Orquestradamente, eles permanecem no silêncio.

Registrei essa ausência – não substituída – porque foi um momento rico em que os professores da rede expuseram suas angústias profissionais. Uma se refere ao contingente de professores contratados precariamente. Há escolas em que efetivos sejam minoria. A outra se refere aos tais “ciclos”.

No que toca à efetividade dos docentes, eis uma preocupação. Conheço casos de professores, ex-discentes de Letras, que passaram em concursos da Seduc e pediram exoneração. Motivos: salários, más condições de trabalho e doentia ambiência escolar. Como os dois primeiros itens nos são conhecidos, enfatizo o terceiro ponto, salvando as exceções.

Começo exemplificando com o que ouvi de um professor de Inglês, aprovado em 2º lugar no penúltimo concurso. Em que pese suas qualidades, inclusive a de ser excelente orador, alunos de 14 e 15 anos não lhe permitiram sequer desejar um “bom dia”, nem em português. Além de perceber estudantes drogados, ouviu a seguinte sugestão: “seja bem tranquilo, professor, caso não queira pra sua cabeça”. Resultado: exonerou-se no dia seguinte para preservar sua vida. Ouvir seu relato é desolador. Aqueles alunos já são frutos dos ciclos de “formação humana”. O fracasso dessas experiências é visível a olho nu.

Nesse sentido, tudo isso coaduna com relatos de acadêmicos meus que estão visitando escolas e entrevistando diretores, supervisores, orientadores, professores e alunos. Resguardando exceções, os relatos estarrecem. Em um deles foi exposto que a escola estadual mais próxima geograficamente à UFMT desativou o ensino do noturno por conta do vandalismo. Se for, posso prever o futuro: outras unidades farão o mesmo. Mais: em breve, o turno vespertino também será desativado; pouco depois, será a vez do turno da alvorada. Tudo é questão de poucas décadas. Quem (sobre)viver, verá o desmonte do sistema; ou melhor, do País!

Não tenho dúvidas da complexidade e abrangência político-sociopedagógicas que envolvem tudo isso. Todavia, a flexibilização do rigor na educação é um dos motivos centrais de uma sociedade irresponsavelmente permissiva e corrupta. Nesse sentido, o espanto de um dos meus acadêmicos africanos conveniados com a UFMT chamou atenção. Ele estava assustado com o que viu numa escola: completa falta de respeito dos estudantes com os professores. Perguntei-lhe se em seu país – Guiné-Bissau – era diferente. “Sim. Lá, um aluno não desrespeita um professor. Se tentar, ele é punido pela escola e pelos pais”, respondeu-me.

Pois por aqui é diferente. Essa diferença, que é uma aberração, nos “ranqueia” como uma das piores educações do planeta. Logo, salvar as novas gerações, por meio de rigorosa educação, deve ser nosso maior desafio.

No próximo artigo, falarei da “enturmação dos ciclos”, adotado pela Seduc. Sabem o que isso? Preparem-se.

*ROBERTO BOAVENTURA DA SILVA SÁ - dr. em Ciência da Comunicação/USP e prof. da UFMT mrbentur26@yahoo.com.br 

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