quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A pensar nas eleições


A rebelião dos indignados está se tornando uma tsunami política…

Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. O artigo é de Boaventura de Sousa Santos.




A pensar nas eleições



Por Boaventura de Sousa Santos.


Nos próximos tempos, as elites conservadoras europeias, tanto políticas como culturais, vão ter um choque: os europeus são gente comum e, quando sujeitos às mesmas provações ou às mesmas frustrações por que têm passado outros povos noutras regiões do mundo, em vez de reagir à europeia, reagem como eles. Para essas elites, reagir à europeia é acreditar nas instituições e agir sempre nos limites que elas impõem. Um bom cidadão é um cidadão bem comportado, e este é o que vive entre as comportas das instituições.

Dado o desigual desenvolvimento do mundo, não é de prever que os europeus venham a ser sujeitos, nos tempos mais próximos, às mesmas provações a que têm sido sujeitos os africanos, os latino-americanos ou os asiáticos. Mas tudo indica que possam vir a ser sujeitos às mesmas frustrações. Formulado de modos muito diversos, o desejo de uma sociedade mais democrática e mais justa é hoje um bem comum da humanidade. O papel das instituições é regular as expectativas dos cidadãos de modo a evitar que o abismo entre esse desejo e a sua realização não seja tão grande que a frustração atinja níveis perturbadores.

Ora é observável um pouco por toda a parte que as instituições existentes estão a desempenhar pior o seu papel, sendo-lhes cada vez mais difícil conter a frustração dos cidadãos. Se as instituições existentes não servem, é necessário reformá-las ou criar outras. Enquanto tal não ocorre, é legítimo e democrático atuar à margem delas, pacificamente, nas ruas e nas praças. Estamos a entrar num período pós-institucional.

Os jovens acampados no Rossio e nas praças de Espanha são os primeiros sinais da emergência de um novo espaço público – a rua e a praça – onde se discute o sequestro das atuais democracias pelos interesses de minorias poderosas e se apontam os caminhos da construção de democracias mais robustas, mais capazes de salvaguardar os interesses das maiorias. A importância da sua luta mede-se pela ira com que investem contra eles as forças conservadoras. Os acampados não têm de ser impecáveis nas suas análises, exaustivos nas suas denúncias ou rigorosos nas suas propostas. 
Basta-lhes ser clarividentes na urgência em ampliar a agenda política e o horizonte de possibilidades democráticas, e genuínos na aspiração a uma vida digna e social e ecologicamente mais justa. 

Para contextualizar a luta das acampadas e dos acampados, são oportunas duas observações. A primeira é que, ao contrário dos jovens (anarquistas e outros) das ruas de Londres, Paris e Moscou no início do século XX, os acampados não lançam bombas nem atentam contra a vida dos dirigentes políticos. Manifestam-se pacificamente e a favor de mais democracia. É um avanço histórico notável que só a miopia das ideologias e a estreiteza dos interesses não permite ver. Apesar de todas as armadilhas do liberalismo, a democracia entrou no imaginário das grandes maiorias como um ideal libertador, o ideal da democracia verdadeira ou real. É um ideal que, se levado a sério, constitui uma ameaça fatal para aqueles cujo dinheiro ou posição social lhes tem permitido manipular impunemente o jogo democrático.

A segunda observação é que os momentos mais criativos da democracia raramente ocorreram nas salas dos parlamentos. Ocorreram nas ruas, onde os cidadãos revoltados forçaram as mudanças de regime ou a ampliação das agendas políticas. Entre muitas outras demandas, os acampados exigem a resistência às imposições da troika para que a vida dos cidadãos tenha prioridade sobre os lucros dos banqueiros e especuladores; a recusa ou a renegociação da dívida; um modelo de desenvolvimento social e ecologicamente justo; o fim da discriminação sexual e racial e da xenofobia contra os imigrantes; a não privatização de bens comuns da humanidade, como a água, ou de bens públicos, como os correios; a reforma do sistema político para o tornar mais participativo, mais transparente e imune à corrupção.

A pensar nas eleições acabei por não falar das eleições. Não falei?

Fonte:Carta Maior

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Saiba mais:



Acampadas


“Entusiasmo, vem de uma palavra grega que significa “ter os deuses dentro”. E cada vez que vejo que os deuses estão dentro de uma pessoa, ou de muitas, ou de coisas, ou da natureza... digo: 'Isso é o que falta para me convencer de que viver vale a pena'...Vivemos num mundo infame, muito pouco alentador. Mas há outro mundo na barriga deste, esperando. Que é um mundo diferente. Diferente e de parto difícil. Não nasce facilmente. Mas com certeza pulsa no mundo em que estamos.” (Eduardo Galeano)

A "acampada" das Portas do Sol. Foto de Júlio Albarrán

O texto abaixo foi preparado pel@s indignad@s da Acampada Puerta del Sol (#acampadasol) com o intuito de explicar como nasceu o movimento, o que são as acampadas, seus valores, seus objetivos e como se organizam.

O movimento 15M é formado por centenas de acampadas espalhadas por todo o mundo, todas unidas e conectadas através da rede, elas são os motores dessa revolução, responsáveis pela organização dos grupos de trabalho, assembleias, debates, protestos e tantas outras atividades sociais, são formadas por pessoas normais que dedicam um pouco do seu tempo em prol do bem comum, que deixam as suas diferenças de lado para unir-se contra as injustiças do sistema.
A cada dia novas acampadas surgem, novos grupos independentes, livres da influência de partidos políticos, livres de ideais extremistas, abertas à participação de qualquer pessoa, todas com desejo de escutar, debater e juntas, de forma horizontal, chegarem a um consenso sobre aquilo que será melhor para a maioria.
Esperamos que essa leitura te inspire.
1.  Quem somos nós?    

Somos “os indignados”
No dia 15 de maio de 2011, um grupo de cidadãos com diferentes formas de pensar iniciou um movimento político não-partidário conhecido como 15M. Após a manifestação realizada naquele dia, espontaneamente decidimos acampar nas ruas e praças da nossa cidade, como repúdio visível da situação política e econômica que está se tornando mais insuportável a cada dia, e como um meio de organizar os nossos esforços para encontrar juntos uma maneira de construir um mundo melhor.
Mais de 50 cidades na Espanha se uniram ao movimento, estabelecendo acampamentos em todo o país, e pontos de apoio apareceram em muitos outros países. Já não estamos acampados nas praças do país, mas estamos reunidos em centenas de assembleias de bairros que foram criadas desde então.
Nós não somos representados por partidos políticos, associações ou sindicatos, nem queremos ser, porque acreditamos que o povo pode decidir por si mesmo. Queremos pensar entre nós como construir um mundo onde as pessoas e a sustentabilidade do planeta prevaleçam sobre os interesses econômicos. Queremos criar o mundo mais justo possível. Unidos, podemos e vamos. Sem medo.
Milhares e milhares de pessoas fizeram um "grito silencioso" na Puerta del Sol
2. Por que tomamos as ruas?
Porque os espaços públicos sempre foram nossos, apesar de que isso foi esquecido há muito tempo. Eles nos chamam “os indignados”, os cidadãos indignados que sofreram o suficiente e isso é o que somos.
Estamos cansados de ser tratados como bucha de jornal, estatísticas, consumidores em potencial, números; chega de ser mercadoria para políticos e banqueiros.
Estamos cientes de ter um voto mas nenhuma opinião sobre aquilo que está ocorrendo, estamos frustrados com a falta de vontade dos políticos para criar mecanismos de participação direta no processo de tomada de decisões. Mecanismos que ponham fim à corrupção e à falta de transparência na política e nas instituições públicas, para colocar o cidadão acima das forças de mercado e interesses privados.
Não conseguimos entender por que devemos pagar os custos da crise, enquanto seus instigadores continuam a anunciar lucros recordes. Estamos enojados e cansados de uma injustiça atrás da outra. Queremos a dignidade humana de volta.
Este não é o tipo de mundo que queremos viver, cabe a nós decidir sobre o mundo que queremos, sabemos que podemos mudá-lo e estamos vivendo esse grande momento.
Nós tomamos as ruas e praças pelas mesmas razões que os movimentos da Islândia, dos países Árabes e tantos outros também o fazem, agimos localmente, mas pensamos globalmente. Nossos problemas globais exigem soluções globais.
Insatisfeitos com os rumos políticos, sociais e econômicos do país, um grupo de manifestantes sai às ruas de Madri, no dia 15 de maio, e montam um enorme acampamento na Praça Puerta del Sol
3. O que fazemos?
Sentimos, observamos, pensamos, escutamos, falamos, propomos, discutimos, cooperamos, aprendemos, comunicamos, tentamos mutuamente nos entender, trabalhamos, construimos…
Lutamos… para mudar um sistema injusto, questionamos as leis, os métodos de participação e o sistema econômico e propomos alternativas concretas e possíveis Nosso objetivo é melhorar a vida nesse planeta para todos os seus habitantes.
Criamos… redes humanas digitais que dão origem a novas formas de conhecimento coletivo, aprimorando cada vez mais a nossa capacidade analítica e consequentemente o nosso mecanismo de tomadas de decisões conjuntas. Somos a inteligência coletiva do mundo, em processo de organização.
Desenvolvemos… novos meios de organizar, interagir e viver. Combatemos o êxtase induzido pelo sistema e buscando o nosso desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo, participação ativa, de reflexão e de análise, de decisão e ação.
4. Como fazemos tudo isso?
Recuperando e usando o espaço público: tomando as ruas e praças das nossas cidades para nos conhecer e trabalharmos juntos, aberta e visivelmente. Informando a população sobre os nossos objetivos e convidando a todos para se juntarem a nós. Discutindo problemas, buscando soluções e chamando os cidadãos para a ação e manifestação. Nossas redes digitais e ferramentas são todas de código aberto: toda a informação está disponível online, assim como em nossas ruas e praças.
Nos organizando através de assembleias, tomando decisões de forma aberta, democrática e horizontal. Não temos líderes, nem hierarquia.
Como há muito trabalho a realizar, dividimos todas as tarefas em três grupos: comissões, grupos de trabalho e assembleias gerais.
As comissões e grupos de trabalho operam de forma independente. As comissões têm funções organizacionais e estruturais e servem como ferramentas para o movimento (A comissão Legal e IT são dois exemplos). Os grupos de trabalho são plataformas para o pensamento coletivo, debate e pesquisa sobre temas específicos (temos grupos de trabalho sobre temas como política, economia e meio ambiente, por exemplo).
Estas comissões e grupos de trabalho estão abertos a qualquer pessoa que queira participar. Eles realizam suas reuniões em espaços públicos, anunciando com antecedencia e todas as suas decisões são registradas em atas que são publicadas online. Todos se organizam em torno de assembleias horizontais, mas cada grupo coletivamente estabelece a própria forma de operar, que está permanentemente aberta a mudanças e otimização.
Todas as decisões importantes feitas por essas comissões e grupos de trabalho são posteriormente levadas à assembleia geral para avaliação e ratificação pelo movimento como um todo. Assim, enquanto o nosso trabalho é feito de forma eficiente e independente, ele é coordenado horizontalmente por nossas assembleias.
No domínio virtual, criamos redes sociais e ferramentas para melhorar a comunicação e unir esforços. Usamos a rede social N-1 e outras ferramentas para nos relacionar, assim como nossos próprios websites: takethesquare.net (internacional), tomalaplaza.net (Espanha) e tomalosbarrios.net (Espanha) e também usamos o Twitter e o Facebook para dar maior visibilidade e alcançar todos os cantos e recantos do ciberespaço.

5. Qual o Organograma?
Lista de algumas das nossas comissões:
Comunicação – A comissão de comunicação é, na verdade, um agrupamento de várias subcomissões. Duas das suas principais tarefas são interagir com a mídia e publicar informações em sites e redes sociais. Sua subcomissão de tradução ajuda a transmitir o desenvolvimento do movimento ao redor do mundo.
Assuntos Legais (Jurídico) – Fornece assessoria jurídica ao movimento, mediações com a polícia, e identifica possíveis riscos legais nas propostas apresentadas.
Dinamização das Assembleias – Prepara a metodologia a ser seguida nas assembleias, elaboração da agenda e estabelece o regime de moderação, os tempos e uso da palavra. Esta comissão também controla o tempo geral das assembleias.
Informação – Instala e mantem postos de informações das ruas para prover todo tipo de informação sobre o movimento aos cidadãos.
Ação – Organiza as atividades internas (conferências, reuniões, protestos) e planeja ações para alertar, prover informação pública ou exercer pressão política.
Coordenação Interna – Coordena trabalhos das comissões, compilando as decisões tomadas por todas as comissões 15M, transmitindo-as aos estandes de informações. Também coordena informações logísticas sobre todas as comissões (tal como onde se encontram e pessoas de contato de cada comissão).
Análise – Analisa o movimento como um todo, realiza discursos internos e externos, bem como questões organizacionais e a forma em que o movimento se expande. Sua tarefa é compilar, analisar, converter, sintetizar e, posteriormente, relançar informações.
Outras comissões focam essencialmente os acampamentos e suas necessidades
Infraestrutura – Fornece os recursos materiais necessários para acampamentos e atividades fora dos seus limites: lonas, estações de trabalho, uso do espaço, stands de informação, energia elétrica (geradores), banheiros e chuveiros, para citar alguns. Muitos desses recursos são doados e distribuídos sob princípios de autogestão.
Respeito – Sua função é trabalhar para manter um ambiente pacífico e seguro, mediação em caso de incidentes ou provocação e prevenção de riscos potenciais. Sua força é apenas verbal: sua tarefa é explicar e persuadir, enquanto transmite a importância de um ambiente respeitoso no acampamento.
Enfermaria – fornece os primeiros socorros quando necessário e gerencia os suprimentos médicos.
Alimentos – Tem a função de gerenciar e coordenar os alimentos doados e estabelece turnos para as refeições.
Limpeza – Organiza o acampamento de forma que o mesmo esteja sempre limpo e saudável. Não é um serviço de limpeza: somos todos responsáveis pela nossa limpeza.
Abaixo listamos alguns dos nossos grupos de trabalho:
Educação e universidade
Cultura
Meio-ambiente
Economia
Trabalho social
Política
Feminismo
Imigração e mobilidade
Ciência e tecnologia
Reflexão
6. Quais os Links?
[Internacional] www.takethesquare.net  contact.takethesquare@gmail.com @takethesquarehttp://www.facebook.com/Take.the.Square 
[Rede Social] www.n-1.cc 

Extraído de 
http://www.democraciarealbrasil.org/?page_id=581

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