quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A mídia mente, mas a verdade está nas ruas

Mais uma vez as ruas demonstram que os prognósticos publicados de que a crise havia passado já estão superados




Brasil de Fato
Editorial ed. 451

Em 17 de setembro, menos de uma semana após os espetáculos em memória dos dez anos do 11 de Setembro – denominado pelas elites como o maior atentado terrorista da história –, um grupo de quase mil pessoas se aglomeravam nos arredores da famosa Wall Street, centro financeiro dos EUA. Ali montaram acampamento, declararam área ocupada e rebatizaram a praça como Praça da Liberdade. Os dias foram passando e nada de refluir; pelo contrário, o movimento vem aumentando e se espalha para outras cidades e países.

Não se trata de protestos contra o terrorismo, ou reformas de Washington, ou obra dos republicanos ou democratas. A mensagem central é “a crise não é nossa e por ela não pagaremos”. Mais uma vez as ruas demonstram que os prognósticos publicados de que a crise havia passado já estão superados.

Aqui no Brasil, a grande mídia burguesa anuncia protestos contra a corrupção, estimulados via redes sociais. Chegam a divulgar as convocatórias, com direito a enumerar as adesões e locais onde estavam planejadas. As pautas sempre vêm acompanhadas de um ar de esperança e bradando o combate ao que seria o mal maior do nosso país: a corrupção generalizada. Protestos livres, espontâneos, apartidários e distantes de sindicatos, movimentos organizados. É o povo falando! Na pauta, ataques explícitos aos setores populares, especialmente ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

No caso dos protestos dos Estados Unidos, o descaramento vai perdendo a vergonha. Tratam o movimento Ocupe Wall Street pelo lado folclórico, ridicularizando as mensagens e a presença de diversas personalidades da luta. Tal caricatura convive com pautas descontextualizadas. Já nos protestos fabricados por aqui, o tom é de exaltação, e publica-se entrevistas longas para retratar com detalhes as pretensões de tantos despretensiosos. Sonham em empolgar a sociedade pra recuperar as marchas em defesa da família, Deus e propriedade de tempos atrás. E, claro, silêncio sobre as greves e paralisações dos trabalhadores pelo Brasil afora.

É claro que as elites, representadas nos grandes meios de comunicação, estão fazendo o seu papel de sempre. É verdade que com algum grau de dificuldade a mais graças às redes de comunicação populares que se espalham aos milhares pelo país e aos milhões pelo mundo. A luta de classes é um transtorno para quem vive de criar-distorcer e mentir sobre realidades e esconder as lutas.

Novos tempos

As reações aos protestos em todo o mundo não são de espanto. A crise econômica e financeira é mãe desses atos que se avolumam e tornam-se rotina na Grécia, assim como por muito tempo nas ruas da Espanha, Portugal e em vários centros onde a crise se aprofunda. Análises e mais análises tentam encontrar pontos em comum entre tais protestos, para além do caráter de resistência a crise. Alguns chegam a preconizar novas formas de organização, exaltando redes sociais em detrimento dos “velhos” instrumentos como sindicatos e partidos. Aqui, o tom é igualmente de exaltação às multidões e massas supostamente mais amplas do que classes empurrando a história para frente.

Certamente as ferramentas de comunicação modernas ajudam nas mobilizações. Estiveram presentes na Primavera Árabe, Grécia, Portugal, Londres e Wall Street. Mas não substituem ou suplantam as organizações. São complementares. Essa ansiedade em anunciar novas formas, novos métodos, novas forças, novas bandeiras, é uma velha forma de ler realidades que se repetem no mundo como agora: depois de décadas de neoliberalismo implacável e suas políticas antipopulares, sob controle de governos que combinam muito bem repressão com instrumentos de convencimento, tais forças se levantam e ameaçam explodir.

Que Wall Street se espalhe

Nesta edição, trazemos, nas páginas 3, 14 e 15, análises e reportagens sobre Wall Street. Não temos dúvidas de que são mobilizações importantes, pelo seu simbolismo e por representar a luta como caminho, o grito ante o silêncio e a ocupação como forma de luta. Torcemos para que esse movimento ganhe força, avance sobre as ruas, convoque os milhares de desempregados e trabalhadores e caminhe para minar a força do imperialismo, os falcões do Pentágono e as grandes corporações que controlam o mercado mundial. Cada ocupação nova é um libelo em defesa de uma outra sociedade. Um sinal de que os povos, mesmo submetidos a duras formas de controle e contenção, como o povo estadunidense, não ficam em letargia indefinidamente. Os pobres se levantam!

Fonte: Brasil de Fato

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