quarta-feira, 25 de abril de 2012

Uma CPI para punir os corruptores


É hora de mostrar a todo o povo quais interesses a revista Veja defende





Desde a fundação do Estado republicano com a revolução francesa, sempre houve setores da classe dominante que se utilizam dos cargos públicos, das influências nos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário para se locupletar e acumular com dinheiro público. Na sociologia foram classificados como a fração lumpen-burguesa, que preferia surrupiar parcela da mais-valia recolhida pelo Estado, e de mais fácil acesso, a dedicar-se a investimentos na produção e extrair diretamente a mais-valia da exploração do trabalho da classe operária.

Aqui no Brasil não foi diferente. Desde a República velha, setores da burguesia sempre se locupletaram com recursos públicos, de forma legal e ilegal. Porém, essa mesma burguesia, muito esperta, nas últimas décadas se apropriou do discurso ideológico da luta contra a corrupção. Como se a corrupção fosse um mal genérico, sem nome, classe, ou pior, fossem setores da classe trabalhadora que tirassem proveito de governos progressistas. O símbolo maior dessa hipocrisia foi o governador Lacerda, do Rio de Janeiro, na década de 1950 e 1960 e seu partido União Democrática Nacional (UDN). No fundo, essa forma de transformar a denúncia da corrupção apenas como uma questão moral, não passa de uma tática da classe dominante para desviar o debate sobre a verdadeira natureza do Estado brasileiro, que por si só, na sua lógica de funcionar proporciona a parcelas da classe dominante que se apropriem dos recursos públicos. Às vezes de forma legal e outras vezes ilegalmente. Nos casos ilegais se chama de corrupção, e aí seus beneficiários precisam construir uma ampla rede de “proteção pública” aos seus atos, que em geral, envolve juristas e advogados famosos, juízes, desembargadores, senadores, deputados, delegados de polícia e, sobretudo, os proprietários dos meios de comunicação de massa. Basta lembrar como a televisão e a Veja transformaram o Collor de Mello em caçador de marajás, Demóstenes no senador vestal, Yeda Crusius a gestora da RBS e tantos outros que foram desmascarados pela realidade.



Nos anos recentes, depois da vitória eleitoral do presidente Lula, os setores da burguesia derrotados se utilizam desse expediente: denuncismo e tentativa de centrar o debate no combate à corrupção, como uma forma de engessar o governo, deixá-lo inerte, e impedir que as verdadeiras demandas da classe trabalhadora e a questão de um projeto para o país seja o centro do debate).

Assim surgiu o “mensalão” no governo Lula. Amplificado ao extremo, que quase levou a um processo de impeachment. Agora, veio à tona que até o sinistro bicheiro Cachoeira estava por trás dessa manipulação, junto com a sua Veja.

No governo Dilma, esses mesmos setores da burguesia – derrotados no seu projeto de subordinação ao neoliberalismo e aos interesses imperiais – se agarrou na imprensa e no Judiciário, para deixar o governo refém de seus interesses. Com isso já derrubaram sete ministros. Independente da natureza ideológica dos ministros, do seu não compromisso popular, de que tenhamos até gostado das mudanças ou de culpas reais, o fato é que não houve nenhum processo ou algo concreto comprovado. Se os interesses da imprensa fossem democráticos e os ministros tivessem caído culpados pelo desvio de recursos públicos, então eles deveriam estar na cadeia! Mas como diz o ditado popular, “o diabo faz panela mas esquece da tampa”.



Agora veio à tona a rede de corrupção montada entre uma quadrilha de jogos ilícitos, empreiteiras, senadores, desembargadores, governadores e a imprensa de direita, em especial a revista Veja, com quem o contraventor Cachoeira discutia com o chefe da sucursal de Brasília as pautas, as denúncias. Como se eles tivessem o direito de decidir a quem iriam derrubar ou a quem condenar perante a opinião pública.

Felizmente os parlamentares tiveram um pouco de coragem e instalaram a CPMI para investigar esses fatos. A panela está destampada. Agora será necessário revolver toda a podridão que tem dentro dela.

Pela primeira vez as forças populares, representadas por alguns congressistas, terão a oportunidade de investigar e denunciar os corruptores: as empresas e a grande mídia que as acobertam. É hora de mostrar a todo o povo quais interesses a revista Veja defende. Seus bicheiros e parlamentares. É hora do povo saber as redes que se montam dentro do estado brasileiro para que meia dúzia de lumpen-burgueses se locupletem e ainda usem a mascara da legalidade e da defesa dos interesses públicos.

Essa CPMI precisa analisar com detalhes tudo e de forma rápida, antes que a ratazana esconda o queijo e seus comedores.



Mas não basta torcer pela coragem de alguns parlamentares. Será necessário que os movimentos sociais, o movimento estudantil, da juventude, todas as forças populares possam ir às ruas pressionar. Exigir a investigação e punição de todos os envolvidos, sejam governadores, empreiteiros, senadores, donos da Veja etc.

A Globo já começou de novo a campanha do Brasil limpo, da corrupção genérica e de falsos movimentos de jovens burgueses, que são amplificados na televisão.
Portanto, estamos diante de mais um capítulo da luta de classes, travado no campo da ideologia, no campo das ideias e da gestão do Estado. E a burguesia já se deu conta que pode sofrer uma grande derrota ideológica.

Fonte: Brasil de Fato

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É Hora de Punir os Corruptores

 

Por Carlos Zarattini

Em 2012, o Congresso Nacional está diante do desafio histórico de estabelecer um marco legal para a vigência dos valores éticos nas relações entre o público e o privado no país.


Trata-se da apreciação do projeto de lei 6826/2010, encaminhado ao Congresso pelo ex-presidente Lula, para contornar a falta de uma legislação que responsabilize pessoas jurídicas em atos contra a administração pública nacional e estrangeira, em especial pelos atos relacionados à corrupção.


No noticiário, dificilmente se fala do papel das empresas corruptoras nas tramas que solapam os cofres públicos. Não há corrupção sem corruptor e, por trás de todos os escândalos, normalmente há disputas milionárias por contratos.


Há uma tendência de resumir todos os males ao setor público e aos políticos, mas a verdade é que segmentos da iniciativa privada estão ligados aos recorrentes escândalos e ao superfaturamento. Isso não acontece só no Brasil, mas também em democracias já consolidadas.


Empresas que usam artifícios que não são republicanos para obter favores arruínam os princípios morais, semeiam maus exemplos e impregnam a sociedade do sentimento de que se pode levar vantagem em tudo.

O projeto de lei dispõe sobre a responsabilidade administrativa e civil de pessoas jurídicas e dá mais um passo nas ações de combate à corrupção que estão sendo adotadas desde 2003.

Ele é mais rigoroso e abrangente que a Lei de Licitações e inclui, por exemplo, punições a atos de corrupção relacionados ao âmbito tributário, ao sistema bancário público e às agências reguladoras.


Cumpriremos obrigações assumidas perante órgãos como a ONU, a OEA e a OCDE. O projeto de lei prevê multas e sanções administrativas, como a proibição de contratos com o setor público.


Uma comissão especial na Câmara da qual sou relator tem realizado audiências públicas para ouvir empresários, juristas e órgãos de controle. Vamos colocar o Brasil no rol dos países que já contam com uma legislação que responsabiliza pessoas jurídicas por atos de corrupção, como os EUA (1977), a Espanha (1995) e mais recentemente o Reino Unido (2010).


O projeto prevê também a responsabilização objetiva das empresas, afastando a discussão sobre a culpa ou dolo da pessoa física na prática da infração.


Retira-se também a necessidade de identificação da autoria da conduta, com as dificuldades inerentes de comprovação dos elementos subjetivos envolvidos na caracterização do ilícito. Impõe-se a responsabilização da pessoa jurídica, uma vez comprovado o fato, o resultado e o nexo causal entre eles. Isso não significa, porém, eliminar eventual responsabilização da pessoa física em processo apartado.


Defendemos ênfase na responsabilização administrativa e civil porque a realidade mostra que esses processos têm se revelado muito mais rápidos e efetivos no combate à corrupção.


É preciso também um foco especial no sistema financeiro, com punições para as omissões de funcionários públicos que fiscalizam o setor e também para a ação de inescrupulosos operadores.


Na crise de 2008, nos Estados Unidos, foi possível observar que operadores do sistema financeiro estiveram na gênese dos problemas e, a despeito da existência de lei, não foram punidos.


Mas, para a transformação do projeto em lei, vencendo as naturais resistências, será fundamental a participação da sociedade e sua manifestação favorável a essa histórica medida.

Fonte: Blog do Renato Bariani

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