A sociedade deve ficar vigilante e toda vez que assuntos importantes
forem levados a julgamento deve comparecer em peso para ver de perto
como agem os ungidos com o poder de decidir a vida da nossa terra.
por Ademar Adams
Após a sessão do TRE na noite de terça-feira, cheguei em casa às 10
da noite cansado e deprimido. Não me saía da cabeça a mediocridade da
Corte Eleitoral, constatada após o voto do relator e a manifestação dos
demais pares.
A fora o estilo sempre sereno do desembargador Rui Ramos, que deu novos
ares ao Tribunal e não tem culpa das toscas companhias, e a posição
corajosa do juiz federal Pedro Francisco, que acompanho de longa data, o
resto foi de doer na alma.
Fiquei a me perguntar, o porquê de sermos obrigados a nos submeter a um
tribunal tão fraco, que deveria na verdade ser composto pelos luminares
do direito. O relator nos submeteu a um voto longo recheado de críticas
ao instituto da reeleição, escancarou a verdade de fundo do processo, ou
seja, a convocação dos servidores da Empaer para um evento eleitoreiro à
custa do erário.
E daí, após dar a entender que votaria pela cassação, passou a defender
de forma apaixonada o evento ilegal, concluindo que não teria o condão
de mudar o resultado eleitoral, como se isso era o que de fato contava.
Aí começou a sessão caititu. O primeiro começou bem, que me fez
concentrar a atenção no seu voto. Ledo e Ivo engano. Era apenas um
contorcionismo jurídico para aparentar erudição e tecnicidade, mas
restou concluindo por entrar no carreiro aberto. Veio um voto ridículo,
como se fosse num tambor de rinhadeiro, onde o dono do galo julga a luta
do seu próprio bicudo.
O pedido de vistas do juiz federal não brecou a carreira da vara. Votou
um que confessou mal conhecer os autos, mas que parece que conhecia bem o
caminho traçado. Porque não esperar o tempo da vista requerida, para
conhecer melhor o processo? E por fim a grande decepção da noite, o
jovem com a oportunidade de justificar sua presença no sodalício, perdeu
a chance de pelo menos mostrar seriedade, resguardando o voto, aderiu
sem a mínima justificativa.
Foi justamente sobre os dois votos dados após o pedido de vistas, que me
chamou a atenção um amigo. Mostrou-me que este fato aponta para uma
combinação prévia, que levou os dois membros a não esperar um eventual
voto divergente. E eles não se arriscaram, nem para mostrar um laivo de
sobriedade, nem para ficar bem com a sociedade.
Agora resta esperar um eventual voto divergente do juiz federal, que
como os membros da mesma origem que o antecederam, mostrou
independência. Não foi na onda, na avalanche que tolerou e incentivou o
uso da máquina pública pelos governantes que buscam a reeleição. E aí,
na subida ao TSE, o voto divergente poderá ter mais atenção do que a
lengalenga que tangeu os caititus.
Firme também foi a postura da jovem procuradora eleitoral que mesmo
cercada pela composição machista do Tribunal, leu seu lúcido parecer,
que também foi ignorado pelos votantes.
O tumulto causado pela tentativa de exposição de uma faixa, foi a única
novidade na sessão. Um sopro de rebeldia, uma marola de liberdade de
manifestação, que quebrou um pouco a frieza dura da solenidade. Foi uma
aguinha no chope governista, uma mera ameaça de retardar eventuais
prebendas extraordinárias.
A sociedade deve ficar vigilante e toda vez que assuntos importantes
foram levados a julgamento e deve comparecer em peso para ver de perto
como agem os ungidos com o poder de decidir a vida da nossa terra.
-Ademar Adams é jornalista em Cuiabá
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