quarta-feira, 18 de julho de 2012

Caso Cachoeira: Juiz com medo, promotora ameaçada, policial morto



"Cachoeira quase saiu da prisão por decisão do desembargador Tourinho Neto, do TRF, que resumiu o caso a um esquema de jogos, amplamente tolerado pela sociedade brasileira.

Após a prisão do cunhado de Cachoeira, que vinha ameaçando a promotora Léa Batista, Tourinho Neto foi duramente criticado pelo senador Pedro Taques (PDT/MT): 'Como fica agora o desembargador Tourinho Neto?', indagou Taques, da tribuna do Senado. 'Estamos diante do crime organizado, que ameaça servidores públicos' ”. ( ABC )


  Juiz com medo, promotora ameaçada, policial morto



O MAGISTRADO PAULO AUGUSTO MOREIRA LEITE PEDIU PARA DEIXAR O CASO, A PROMOTORA LÉA BATISTA FOI AMEAÇADA E O AGENTE WILTON TAPAJÓS ACABA DE SER ASSASSINADO (DIR.); ATÉ AGORA, ESTE É O SALDO DA OPERAÇÃO MONTE CARLO, O QUE REVELA QUE A PF PODE TER DESBARATADO BEM MAIS DO QUE UM ESQUEMA DE JOGOS ILEGAIS E ACHAQUES A PODEROSOS, COM APOIO DA IMPRENSA 

  
247 – Há pouco mais de duas semanas, o juiz Paulo Augusto Moreira Leite, responsável pela prisão do bicheiro Carlos Cachoeira e de todos os seus comparsas, como os espiões Idalberto Matias e Jairo Martins, pediu para deixar a condução da Operação Monte Carlo. Estava amedrontado.

Depois disso, a Polícia Federal prendeu, em Anápolis, o cunhado de Cachoeira, Adriano Aprígio, que estaria enviando ameaças anônimas à promotora Léa Batista.

Nesta quinta-feira, com dois tiros à queima-roupa, foi assassinado o policial federal Wilton Tapajós Macedo, num cemitério em Brasília.

O que une os três personagens é o fato de terem participado da Operação Monte Carlo, a ação da policial federal de maior repercussão nos últimos anos por ter desbaratado uma quadrilha de jogos ilegais, mas também com ampla influência em todos os poderes, inclusive nos meios de comunicação.

Por ora, a polícia do Distrito Federal trabalha com a hipótese de latrocínio: roubo seguido de morte. Mas não descarta as hipóteses de queima de arquivo ou de vingança. Tido como policial exemplar, Wilton Tapajós Macedo trabalhou também em casos de pedofilia e tráfico de drogas, além da Operação Monte Carlo.

Dos presos na Operação Monte Carlo, já foram soltos os policiais Jairo Martins e Dadá, bem como o diretor Claudio Abreu, da Delta, e o ex-vereador Wladimir Garcez. Cachoeira quase saiu da prisão por decisão do desembargador Tourinho Neto, do TRF, que resumiu o caso a um esquema de jogos, amplamente tolerado pela sociedade brasileira.

Após a prisão do cunhado de Cachoeira, que vinha ameaçando a promotora Léa Batista, Tourinho Neto foi duramente criticado pelo senador Pedro Taques (PDT/MT). “Como fica agora o desembargador Tourinho Neto?”, indagou Taques, da tribuna do Senado. “Estamos diante do crime organizado, que ameaça servidores públicos”.

Brasil 247



Saiba mais:

 

As ligações entre Cachoeira, escolas chinesas em Goiás e Veja

 

Gravações da Operação Monte Carlo indicam como Cachoeira seria beneficiado pela Secretaria de Educação de Goiás para a construção de escolas no modelo chinês e como o contraventor buscou a revista Veja para emplacar seu projeto. Cachoeira ligou para o editor da Veja em Brasília, Policarpo Junior, pedindo que fosse feita uma matéria sobre a "revolução na educação" que estaria sendo feita em Goiás. A revista não fez a matéria sobre essa "revolução", mas destacou o modelo educacional chinês e suas escolas. Ouça os áudios. A reportagem é de Vinicius Mansur. 

 

Por Vinicius Mansur 

Brasília - No dia nove de junho de 2011, em ligação telefônica interceptada pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), às 14:59, o contraventor Carlos Cachoeira revelou a Gleyb Ferreira da Cruz, um de seus auxiliares, de acordo com a PF, o seu projeto para construção de escolas em Goiás. “Comenta com ninguém não, mas o Thiago passou modelo pra nós, tá? Vai alugar várias escolas no estado, entendeu? E vamos construir, porque na hora que sair, tá pronta, é só oferecer”, disse Cachoeira. O nome do secretário de educação de Goiás é Thiago Peixoto.



A partir dos 35 segundos desta ligação o contraventor pede a Cruz que busque o “Alex da China” para obter modelos de escola sem citar que “é do secretário essas coisas”. Cruz afirma que o Alex “tá na mão” e que entrará em contato com ele. (Ouça abaixo)


Audio 1


Em pouco menos de um mês, no dia sete de julho de 2011, às 10:09, Cachoeira liga para o editor da Veja em Brasília, Policarpo Junior, afirma que o secretário de educação de Goiás “ta fazendo uma revolução na educação” e pergunta “com quem que ele vê? (...) Como é que a gente pode fazer uma divulgação disso?”. Junior afirma que a ligação está cortando e não responde mais. (Ouça abaixo)


Audio 2


Às 10:48, do mesmo dia, o então diretor da Construtora Delta no Centro-Oeste, Claudio Abreu, durante um encontro com Policarpo Junior, liga para Cachoeira para solicitar informações sobre a compra de uma fazenda em Nova Crixás (GO) por “Juquinha” - José Francisco das Neves, ex-presidente da Valec, estatal responsável pelas ferrovias. À época a revista Veja publicava denúncias envolvendo o Ministério dos Transportes. Na ligação, Abreu chega a pedir um dossiê. Cachoeira diz não saber e muda de assunto . “Você tá com o Poli... Fala para ele fazer a reportagem aí, o Thiago ta fazendo uma revolução na educação aqui. Manda ele designar um repórter para cobrir”. Ouça abaixo:


Audio 3


O contraventor ainda cita que o secretário de educação colocou 14 mil professores para a sala de aula e que ele está fazendo um projeto com a Gerdau. “Vai revolucionar a educação aqui em Goiás”, insiste. Abreu se compromete em passar o recado.


Em outra ligação, às 10:57, Abreu volta a falar do dossiê, Cachoeira diz que vai averiguar com João Bosco e, em seguida, pergunta sobre seu pedido ao editor da Veja. “Ele vai conversar com você sobre isso aí e vai dar um jeito”, respondeu Abreu, que ainda pediu a Cachoeira que arrumasse um rádio para Policarpo Júnior. O contraventor negou. Ouça abaixo:


Audio 4


A matéria na Veja

O assunto não é explicitado em nenhuma outra gravação entre o editor da Veja em Brasília e os homens de Cachoeira. As gravações às quais Carta Maior teve acesso registram 29 conversas diretas entre Policarpo Júnior e membros da quadrilha de Cachoeira investigados pela PF.


Entre as matérias da Veja no período, nenhuma abordou a “revolução educacional” em Goiás. Entretanto, em dezembro de 2011, a matéria de capa da edição 2248 da revista diz “A arma secreta da China: a educação de qualidade e baixo custo para milhões é o verdadeiro segredo dos chineses em sua corrida para a liderança mundial”.


Em 12 páginas, o jornalista Gustavo Ioschpe relata o modelo educacional chinês, incluindo as construções. “Os prédios são parecidos com os de muitas escolas brasileiras, ainda que um pouco mais verticalizados. São escolas grandes, a maioria com mais de mil alunos (…) em algumas, cada série ocupava um andar. Essa organização do espaço é relevante. Pois em cada andar há uma sala de professores…”


Em abril deste ano, a Secretaria de Estado da Educação de Goiás emitiu nota alegando que “nunca discutiu projetos de construções de escolas ‘inspirados’ em modelos de outros países” e negou “informações sobre construção de unidades de ensino que seriam, posteriormente, alugadas”. Thiago Peixoto segue no cargo de secretário estadual de Educação do governo de Marconi Perillo (PSDB).















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