A leitura deste livro é fundamental para
compreender o modus operandi do esquema que teria sido recrutado em
Minas Gerais passando para um ganho de escala nacional
Por Bruno Lima Rocha
Estamos às vésperas do começo do julgamento do Mensalão e quase tudo já foi dito, desdito, defendido ou atacado em relação aos seus protagonistas e algozes. Particularmente, eu mesmo muito já escrevi a tal respeito nesta própria publicação. Partindo do princípio de que resta pouca novidade quanto ao tema, reforço algumas afirmações, que por sinal independem dos resultados advindos do Supremo.
Estamos às vésperas do começo do julgamento do Mensalão e quase tudo já foi dito, desdito, defendido ou atacado em relação aos seus protagonistas e algozes. Particularmente, eu mesmo muito já escrevi a tal respeito nesta própria publicação. Partindo do princípio de que resta pouca novidade quanto ao tema, reforço algumas afirmações, que por sinal independem dos resultados advindos do Supremo.
Primeiro, considero haver sido o esquema e seus
operadores recrutados a partir de algo já existente. Para tanto, o
livro O Operador, do jornalista Lucas Figueiredo (Record, 2006) é
leitura obrigatória para formar esta convicção. Esta premissa indica uma
primeira análise de tipo política. Infelizmente, atitudes como estas
são bastante comuns ao longo da história. Supondo que seja verdadeira,
então os dirigentes do partido de governo teriam ampliado o formato de
assegurar maioria pró-governo em escala (ampliando do estado para o
país), mas não em sua natureza.
Esta constatação já indica a segunda premissa. Ainda supondo haver o Mensalão existido, tal comprova a tese – por sinal inúmeras vezes alvo de estudos - da intangibilidade dos valores publicitários. Qualquer pessoa minimamente dotada de bom senso compreende que os gastos com difusão, campanha, peças de propaganda e marketing, podem ser o escoadouro perfeito para recursos financeiros de origem ou trajetória duvidosa. O chamado descolamento de preços - justamente pela falta de lastro - opera como fator inflacionário em diversas ocasiões. No caso, em sendo comprovada a existência do esquema, tal tinha como âncora o fluxo de recursos justificados como gastos com publicidade e a chancela destes através de bancos formais.
Assim, temos evidências de gastos alegados com bens intangíveis, a passagem através de registros bancários e a liquidez em espécie, destinada para a “nobre causa” de governar a qualquer custo. Assimilar procedimentos funcionais, mesmo que se fundados sob outra hegemonia, é típico dos arrependidos de alguma terem acreditado em algo além do pragmatismo político. Derrotados ideologicamente, assumem o comportamento dos ex-inimigos, imitando-os em tudo ou quase tudo.
No fundo, a vitória política é de quem transforma aqueles que outrora teriam podido ser transformadores das relações sociais. Certa vez afirmei aqui também que militantes com trajetória da envergadura dos réus teriam se transformado em grotescas caricaturas de si mesmos. Infelizmente, sinto dizer que tal caracterização continua apropriada.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat
Esta constatação já indica a segunda premissa. Ainda supondo haver o Mensalão existido, tal comprova a tese – por sinal inúmeras vezes alvo de estudos - da intangibilidade dos valores publicitários. Qualquer pessoa minimamente dotada de bom senso compreende que os gastos com difusão, campanha, peças de propaganda e marketing, podem ser o escoadouro perfeito para recursos financeiros de origem ou trajetória duvidosa. O chamado descolamento de preços - justamente pela falta de lastro - opera como fator inflacionário em diversas ocasiões. No caso, em sendo comprovada a existência do esquema, tal tinha como âncora o fluxo de recursos justificados como gastos com publicidade e a chancela destes através de bancos formais.
Assim, temos evidências de gastos alegados com bens intangíveis, a passagem através de registros bancários e a liquidez em espécie, destinada para a “nobre causa” de governar a qualquer custo. Assimilar procedimentos funcionais, mesmo que se fundados sob outra hegemonia, é típico dos arrependidos de alguma terem acreditado em algo além do pragmatismo político. Derrotados ideologicamente, assumem o comportamento dos ex-inimigos, imitando-os em tudo ou quase tudo.
No fundo, a vitória política é de quem transforma aqueles que outrora teriam podido ser transformadores das relações sociais. Certa vez afirmei aqui também que militantes com trajetória da envergadura dos réus teriam se transformado em grotescas caricaturas de si mesmos. Infelizmente, sinto dizer que tal caracterização continua apropriada.
Este artigo foi originalmente publicado no blog de Ricardo Noblat
Fonte: Estratégia e Análise
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A FRASE DO DIA: "QUE FOSSEM TODOS JUNTOS!"
"...a partir do mensalão,
ficou claro como o Brasil era um país no qual a característica
fundamental dos escândalos de corrupção é envolver todos os grandes
partidos.
Mas, em vez de essa situação nos mobilizar para exigir mudanças estruturais na política brasileira (...), ela serve atualmente apenas para simpatizantes de um partido jogar nas costas do outro a conta do 'maior caso de corrupção do pais'.
No entanto essa conta deve ser paga por mais gente do que os réus arrolados no caso do mensalão. O STF teria feito um serviço ao Brasil se colocasse os acusados do PT e do PSDB na mesma barra do tribunal. Que fossem todos juntos!" (Vladimir Safatle, filósofo, professor universitário e colunista)
Mas, em vez de essa situação nos mobilizar para exigir mudanças estruturais na política brasileira (...), ela serve atualmente apenas para simpatizantes de um partido jogar nas costas do outro a conta do 'maior caso de corrupção do pais'.
No entanto essa conta deve ser paga por mais gente do que os réus arrolados no caso do mensalão. O STF teria feito um serviço ao Brasil se colocasse os acusados do PT e do PSDB na mesma barra do tribunal. Que fossem todos juntos!" (Vladimir Safatle, filósofo, professor universitário e colunista)
Fonte: Náufrago da Utopia
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