terça-feira, 30 de outubro de 2012

MALA PRETA


Há um esforço inusitado para que as investigações sobre os R$ 8 milhões caiam no esquecimento, ou, ao menos saiam de pauta. Qualquer relação desse valor com alguma das campanhas pode implicar na perda de mandato.

Depois do grande alarde criado pela Policia Federal às vésperas da votação do segundo turno, a mala preta com R$ 8 milhões de reais continua sendo um mistério. Qual o desfeixo das investigações do delegado Cristiano Nascimento? Essa é a pergunta parada no ar 


Isolado, mais renitente, o repórter Itamar Perenha mantém o mistério dos R$ 8 milhões de reais que teriam sido apreendidos em Cuiabá, na véspera da votação em segundo turno, na sua pauta de investigação. Mas, para a maioria dos jornais amigos e jornalistas amestrados, o assunto já caiu no esquecimento – e o povo que se prepare para as emoções de uma nova novela, na novela e na política. Até quando estaremos submetidos a esse jogo de abafa? Confira o noticiário. (EC) 

Da pagina do Enock 

MALA PRETA 

PF mantém investigações sob sigilo e colhe depoimentos 

A “mala preta” é uma utilidade indispensável nas eleições. Pode até não ser dessa cor ou não ter o formato tradicional, mas, não existe eleição em que o objeto não desperte a cobiça e atenção geral. 

Itamar Perenha 
TURMA DO EPA 


Aqui não foi diferente das histórias que se repetem sobre a famosa “mala preta” nas eleições. A mala é, durante o período eleitoral, um objeto físico e metafórico. As duas dimensões se confundem, pois, tratam de um ingrediente indispensável ao sucesso de qualquer candidato em eleições: contar com uma razoável arrecadação para levar a mensagem ao eleitorado e, com as “sobras”, convencer os mais renitentes. 

Como objeto físico a mala tem diversas finalidades. Entre as mais comuns está o simples transporte de roupas ou vestimentas. As mais sofisticadas têm senhas de abertura, revestimento protegido e se prestam ao transporte de valores. 

O dinheiro facilita a obtenção de apoios partidários e define, inclusive, o resultado de convenções. Sem os gastos preliminares à montagem do arcabouço partidário da campanha – obtido à custa de dinheiro e, portanto, com o uso da “mala preta” – a primeira etapa de uma disputa eleitoral pode auxiliar na percepção de um esquema eleitoral frágil, para ficar num exemplo. 

Este é o sentido metafórico, portanto, da “mala preta” elevado à condição de símbolo para apontar quem tem ou não dinheiro suficiente para arcar com os custos de uma campanha eleitoral e, se necessário, valer-se dele para “conquistar a vontade do eleitor”.

 Indecisos mas nem tanto 

Candidatos costumam fazer uma leitura curiosa das pesquisas quando o número de indecisos continua muito alto em período próximo ao das votações (em primeiro ou segundo turno) e tratam de conferir se os “recursos” alocados para a campanha são gastos da forma conveniente. 

A forma conveniente é o pagamento de insumos, serviços gráficos, panfletagem, carros de som, aluguel de veículos, contratação de motoristas, advogados, cabos eleitorais e toda a parafernália necessária à difusão de mensagens. 

Em alguns bairros – quanto mais afastados e pobres mais comuns o procedimento – o eleitor aguarda até o último momento a chegada de algum cabo eleitoral para receber a oferta de algum valor, embolsá-la e, no mais das vezes, empregar o ganho ilegal na farra do dia. 

Ainda não se sabe qual o percentual de “indecisos” que sucumbem à “oferta da vantagem indevida”, mas, cabos eleitorais experientes conseguem identificar eleitores sujeitos a esse tipo de abordagem. 

Sem dinheiro não se faz campanha 

O folclore político consagra dois tipos de candidatos: o “centravante” e o “gandula”. Na primeira condição saem os candidatos ligados a movimentos sociais, sindicatos, pastores de Igreja, sacerdotes, organizações, ocupantes de função de relevo no serviço público e nomeados valendo-se da máquina pública para construir as cadeias de relacionamento. Estes são os “centravantes”. Jogam para marcar gol, quer dizer, elegerem-se. 

Outros candidatos têm grupos familiares numerosos, mas, constituem núcleos sem “poder de fogo” (dinheiro) para elevar as próprias aspirações e se conformam com a simples participação no jogo político e aproximam-se de parentes e amigos para auxiliar na agregação de votos que permitam ao Partido obterem o maior número de cadeiras possível. 

Acabam, se o esforço valeu, recompensados com cargos de livre provimento na administração e mantém-se fiéis ao benfeitor na esperança que este os ajude em alguma circunstância de interesse pessoal e até mesmo a alçar voos políticos. 

De todos os gastos atribui-se o maior à montagem dos horários eleitorais gratuitos em “rádio” e “televisão”. Começam a deixar papel secundário as mídias sociais, mas, à falta de estudos, e de uma concepção teórica, alguns profissionais – mais jornalistas e publicitários do que “nerds” – já caminham para a elaboração de alguns compêndios com razoável grau de sistematização a ponto de já disporem de informações suficientes para criarem e fazerem circular “virais” de boa eficácia durante a campanha. 

8 milhões – a “mala preta” desta campanha 

A mídia deslocou-se para a cobertura jornalística trivial – necessária, inclusive – onde os vencedores costumam apontar os rumos iniciais da gestão e até indicações de quem possa integrar as respectivas equipes. 

Assim, a imprensa cuiabana e matogrossense, neste primeiro dia pós-eleição, centrou-se nas impressões do vencedor e, aos poucos, os demais assuntos vão caindo no esquecimento pela ausência de costume de buscar o diferente já que a “dança das cadeiras”, “equipes de transição”, “projeto para os primeiros 100 dias” e outras orientações subordinam a pauta. 

Há um esforço inusitado para que as investigações sobre os R$ 8 milhões caiam no esquecimento, ou, ao menos saiam de pauta. Qualquer relação desse valor com alguma das campanhas pode implicar na perda de mandato. 

Assim, quanto menos se falar, menos se escrever sobre o assunto melhor para que as investigações acabem perdendo o fôlego e se diluam ante as ocupações tradicionais, pois, é da própria natureza policial que investigações onde os indícios se esgarcem acabem se estiolando em escaninhos à espera de uma ocasional e inesperada solução. 

A marcha inexorável, nestes casos, é o arquivo, pois, a simples materialidade (existência e apreensão do dinheiro) sem indícios suficientes de propriedade (autoria) não propiciam elementos suficientes para a confecção de um relatório final com elementos instrutivos suficientes para a proposição de uma denúncia com o mínimo de possibilidade de vingar perante um juiz. 

Dinheiro no avião e em micro-ônibus (van) 

Turma do EPA, diante da resposta dos leitores, da grande participação na coluna que lhes é dedicada e até pela insistência no tema vai procurar elementos para trazer ao cotidiano de cada um que nos acessa. 

É difícil ultrapassar a barreira imposta pelas investigações conduzidas pela Polícia Federal, mas, com jeito, paciência e, por outro lado, acompanhando quem entra e quem sai consegue-se fazer um quadro com o mínimo de informações para satisfazer, em primeiro lugar, à curiosidade jornalística e, em segundo lugar, fazer com que o assunto não caia no esquecimento e seja rapidamente encaminhado aos escaninhos que abrigam os “crimes de autoria desconhecida”. 

Sempre há formas e fórmulas de se obter algum elemento novo e se acrescentar alguma substância a mais neste mistério que se tornaram as duas apreensões: um avião e uma “van” com expressiva quantia em dinheiro cujo montante as autoridades policiais ainda não revelaram. 

A quem interessava dispor dessa importância em período eleitoral? 

Quem poderia se valer do período eleitoral para “disfarçar” tamanha movimentação de numerário? 

Esses e outras boas perguntas estarão aguardando respostas. 

Turma do EPA vai insistir no assunto



 Quem é o dono dos milhões? 

Compra de votos mexe com o imaginário popular 

Itamar Perenha / Cuiabá-MT 
OLHAR DIRETO 

Véspera do 1º Turno Presidencial em 2006 – “Os Aloprados”- R$ 1.700.000,00 para comprar dossiê fajuto contra José Serra, negociados entre os Vedoin e integrantes da campanha de Aluísio Mercadante. As tratativas foram concluídas em Cuiabá e o dinheiro apreendido em São Paulo. 

Compra do dossiê “Vedoin” às vésperas da eleição de 2006, numa tentativa de envolver o ex-ministro e então candidato ao governo de São Paulo com uma quadrilha que desviava dinheiro da compra de ambulâncias. 

Foi aberto inquérito pela Polícia Federal para apurar a origem do dinheiro e indiciadas 7 pessoas, mas não se conseguiu apontar a origem do dinheiro que ficou depositado, até hoje, em uma conta na Justiça Federal. 

Setembro de 2008 – 3 milhões encontrados em porta-malas de Honda Fit no Bairro Duque de Caxias em Cuiabá. 

Era campanha para prefeito onde disputavam Wilson Santos, Walter Rabelo, Valtenir Pereira, Mauro Mendes e Mauro César Barros (Procurador Mauro), no primeiro turno da eleição quando 3 assaltantes entraram na garagem de um prédio no Bairro Duque de Caxias e retiraram uma caixa de dinheiro guardada no porta-malas de um veículo Honda Fit supondo que continha pelo menos R$ 30.000,00. 

Eles levaram a caixa até o Bairro Santa Izabel para repartirem o dinheiro, ocasião em que descobriram que a quantia era bem maior. Cerca de 100 vezes mais, ou, para se ter uma ideia melhor: R$ 3.000.000,00. A Polícia só chegou a Vilmar da Silva Souza, seu irmão, Anderson da Silva Souza e Marcelo da Silva – um quarto bandido fugiu – porque eles começaram a gastar compulsivamente. 

Compraram uma Pick Up Hillux, moto de 1.000 cilindradas, carreta bitrem e vários imóveis, tudo em dinheiro, levando a Polícia a suspeitar do bando. Os bens foram localizados em nome de um empresário que foi ex-assessor de uma deputada federal, cujo nome não foi revelado. Como não houve queixa de furto ou desaparecimento e ninguém reclamou a propriedade do dinheiro, os bandidos foram liberados, pois, se alguém desse queixa seria indiciado por uso de Caixa 2 em campanha, pois o valor não foi declarado à Justiça Eleitoral. 

Os bandidos se deram bem. Torraram dinheiro a rodo em uma praia do Sul. Foram reconhecidos por um matogrossense que acionou a Polícia para saber se tinha acontecido um grande roubo de dinheiro em Cuiabá. Assim os três foram descobertos. 

Até hoje ninguém reclamou o dinheiro. 

Campanha de 2012 

26 de outubro de 2012 – Um suposto avião teria decolado de Rondonópolis com R$ 8 milhões de reais em dinheiro para a compra de votos nesta eleição. 

Houve a denúncia de que um avião teria decolado com os R$ 8 milhões de reais escoltados por um Capitão PM para dar o impulso final na campanha de Cuiabá. A aeronave não foi localizada. 

Milhões em uma Van 

Durante toda a sexta-feira (26) a Polícia Federal ouviu 15 pessoas, entre elas os coordenadores financeiros das campanhas de Mauro Mendes e de Lúdio Cabral para saber quem é o dono do dinheiro encontrado em uma Van apreendida em Cuiabá. O valor não foi revelado mas a cifra ultrapassa a casa dos milhões. 

A assessoria jurídica da Coligação “Um Novo Caminho para Cuiabá” esteve na Polícia Federal entre 09:00 e 11:00 hs. da manhã e assegura que foram citados nomes ligados à campanha de Lúdio Cabral (PT). 

Turma do EPA constatou que foram citadas, nas intimações expedidas pela Polícia Federal, pessoas e endereços comerciais ligados à campanha do candidato da Coligação “Cuiabá, Mato Grosso, Brasil”, Lúdio Cabral. 

Em coletiva concedida às 04:00 hs da tarde, o deputado petista Alexandre César, diz que o incidente se deve a mais uma ação do “Comitê da Maldade”, sem apresentar qualquer evidência ou indício nesse sentido, exceto a própria acusação. 

As investigações da Polícia Federal 

Notou-se intensa movimentação de agentes da Polícia Federal com todas as indicações de que uma grande ação esteja em andamento para encontrar os donos do dinheiro que já está apreendido. 

O delegado Cristiano Nascimento deixou a sede da Polícia Federal no final da tarde sem dar quaisquer declarações à imprensa. 

A única informação concedida à imprensa é que a PF tem 30 dias para concluir o inquérito, podendo ser prorrogado por igual período e, apesar da insistência dos jornalistas, nada mais foi acrescentado. 

Caixa 2 e compra de votos 

O gasto com valores tão expressivos em campanhas eleitorais, principalmente aqueles que se fazem à margem da contabilidade oficial, impregnam o imaginário popular e contribuem, de certa maneira, para que certo tipo de eleitor mais vulnerável fique aguardando a oferta de alguma vantagem até a última hora. 

É importante que esses eleitores saibam que o crime envolvendo a captação ilícita de sufrágios envolve quem oferece qualquer tipo de vantagem e, também, aquele que vende seu voto. Esta parte, por sinal, parece até que não tem lá grande importância para a própria imprensa que prefere se concentrar nos milhões de reais do que informar sobre as consequências penais a quem vende o voto, pois, a teia corruptor-corrompido é indissociável. 

Se os milhões provocam tanta correria nas Redações não deixam, por sua vez, de incendiar o imaginário popular. Daí se aplicar à política o velho adágio que se aplica às salsichas: “se alguém soubesse como são feitas as salsichas ninguém comeria o comuníssimo sanduiche cachorro quente”. 

De qualquer forma a fantasia da “mala preta” exerce um fascínio sobre jornalistas, candidatos e eleitores e: “Viva a democracia!”

Visite a pagina do MCCE-MT