quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

MENSALÃO: NÃO ADIANTA CHORAR SOBRE O LEITE DERRAMADO


O PT do século 21 não é revolucionário. O PT fez. E, por conta do seu passado, enlameou a esquerda aos olhos dos cidadãos comuns. 


Já senti prazer em participar de fóruns virtuais, quando a internet ainda não era terreno minado, com fanatismo característico de torcidas de futebol.

Ultimamente, confesso, cada vez eu me sinto menos animado em afirmar que dois mais dois são quatro para depois ter de responder às mais primárias contestações.

P. ex., o caso do  mensalão. Antes mesmo do julgamento começar, eu alertava que, fincando pé na inocência dos réus, daríamos murro em ponta de faca. Saltava aos olhos que o PIG nos faria o cabelo, a barba e o bigode. 


O que aconteceu? A maioria bovinizada engoliu a ladainha da indústria cultural, de que se obteve um formidável êxito no combate à corrupção. E a banda de música petista ficou com o mico de haver implicitamente defendido práticas inaceitáveis à luz dos próprios princípios que nortearam a fundação do partido.

Parafraseando o título de um filminho erótico do Tinto Brass, o desvio de recursos públicos para outras finalidades é algo que  todos os governos fazem, salvo, às vezes, os revolucionários. 


O PT do século 21 não é revolucionário. O PT fez. E, por conta do seu passado, enlameou a esquerda aos olhos dos cidadãos comuns. 

Ao invés de salvar antigos companheiros que trocaram o marxismo pelo utilitarismo e, na pior das hipóteses, passarão um tempinho na prisão com infinitas mordomias, a minha prioridade foi sempre a de tentar salvar a imagem da esquerda. O dever do revolucionário é fazer a revolução, lembram? 

Clamei no deserto, mais uma vez. Em terra de cego, quem tem um olho... todos querem furar! 


 Rui Falcão: o PT jamais deveria
ter enveredado por tais práticas


Só agora, depois do mais amargo fim, é que a questão começa a ser abordada com um mínimo de racionalidade. 

Falando sobre os erros cometidos durante os 10 anos em que o partido detém a Presidência da República, o presidente do PT, Rui Falcão, reconheceu que "o principal foi, em alguns momentos, termos enveredado por práticas comuns a outros partidos, mas que o PT não deveria ter enveredado por elas".
O mesmo Rui Falcão, aliás, foi quem abortou uma incendiária manobra do Zé Dirceu para que a Executiva Nacional do PT não reconhecesse o resultado do julgamento do mensalão e lançasse uma campanha de rua contra o Supremo Tribunal Federal. Como James Joyce, o Zé é daqueles que preferem ver seu país morrer por eles...

Já o ex-ministro da Justiça e atual governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, admitiu que, no julgamento do mensalão, "a ampla maioria das condenações foi adequada", dando como exemplo Delúbio Soares: "Ele era réu confesso, é natural que fosse condenado".

No seu entender, dentre os dirigentes petistas sentenciados, as únicas exceções foram os Zés Dirceu e Genoíno, cujas responsabilidades seriam apenas "de natureza política".

Sensatamente, Genro conclama os petistas a não continuarem dando quilometragem a uma acachapante derrota, pois  jus sperniandi  é consolo para imaturos:
"Nossa agenda não pode ser ficar a vida inteira explicando a ação penal 470. E nem uma agenda que seja predominantemente de solidariedade aos companheiros condenados. Eles têm de ter a solidariedade devida em função de um julgamento sem provas, mas é uma agenda que o partido tem de esgotar. Quando falo que nossa agenda não pode ser composta por um escritório de explicações quero dizer que já falamos o suficiente sobre isso. A ação penal, para nós, é história agora".

Tarso Genro considera adequada
a ampla maioria das condenações


Perfeito. Está mais do que na hora de olharmos para a frente.

No caso dos petistas, cabe-lhes tentarem provar que, no final das contas, compensou o Dirceu ter fechado aquela barganha imunda com os senhores do Brasil em 2002, quando assegurou que a política econômica neoliberal de FHC seria escrupulosamente mantida desde que eles dessem seu consentimento para o PT gerir as miudezas do estado burguês. 


Dito e feito: a mais-valia continuou intocável e em patamares escandalosos,  enquanto as políticas que tão somente atenuam a desumanidade capitalista têm sido suficientes para perpetuar esse  descaracterizado  (para não dizer castrado) PT no poder, exatamente como acontecia com o PRI mexicano.

No nosso caso, basta-nos honrar os ideais pelos quais o mesmo Dirceu lutou outrora, mas foi abandonando ao longo do caminho. Eu, pelo menos, deles não abdiquei nem jamais abdicarei. Morrerei revolucionário.

Fonte: Náufrago da Utopia
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BOLA DA VEZ, LULA SE ORGULHA DE TER ENRIQUECIDO OS EMPRESÁRIOS! 


 Se acreditar que estes aqui o defenderão, Lula acabará na mesma cela do Zé Dirceu...

Discursando para a esquerda chique em Paris, o ex-presidente Lula disse não só querer o voto dos empresários se um dia voltar a ser candidato, como ter "orgulho de dizer que eles nunca ganharam tanto dinheiro na vida" quanto nos seus governos.
 

É verdade, mas não por mérito do Lula. Ele apenas manteve a política econômica neoliberal de FHC, cumprindo fielmente o pacto que firmara com os grandes capitalistas em 2002, resumido em quatro palavras: o lucro é sagrado. E, portanto, intocável, ou  imexível  (no jargão lulesco).




Num contexto internacional mais favorável para a economia brasileira, os burguesões nadaram em dinheiro e os principais bancos cansaram de anunciar recordes de faturamento.

Se é DISTO que o Lula se orgulha, então que vá agora procurar sua turma na Fiesp e na Febraban.



Com o risco de os donos do Brasil preferirem hoje outros serviçais. É o que tudo indica estar ocorrendo, pois só ingênuos engolem que a sequência de duros golpes no lulismo seja mera coincidência.


Todos estamos dispostos a defender com unhas e dentes um Lula que volte a confrontar a burguesia, como fazia nos bons tempos.



Mas, se ele preferir mendigar o apoio dos burgueses, não vai ter os melhores ao seu lado e os piores, inevitavelmente, o trairão. Sua queda deverá ser  melancólica.



Quem viver, verá.

Fonte: Celso Lungaretti - O Rebate

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Safatle: PT puxa a esquerda para o buraco do mensalão





O fim do mensalão
 

por Vladimir Safatle*, na Folha

O retorno de José Genoino à Câmara dos Deputados é sintoma de uma bizarra compulsão de seu partido em relação ao chamado mensalão.

É compreensível levantar discussões sobre a extensão e a profundidade das penas, assim como sobre a necessidade de punir com o mesmo rigor a vertente tucana do escândalo. Não é aceitável, porém, agir como se nada tivesse ocorrido, como se o julgamento fosse simplesmente um complô urdido contra a esquerda brasileira.

Ao afirmar que os condenados no mensalão não seriam desligados do partido, ao aceitar organizar uma contribuição para auxiliar tais condenados a pagarem as multas aplicadas pelo STF e, agora, ao achar normal que alguém condenado em última instância assuma uma vaga no Congresso, o PT age como um avestruz que coloca a cabeça na terra e erra de maneira imperdoável.

O mínimo a ser feito depois do julgamento era apresentar uma autocrítica severa para a opinião pública. Tal autocrítica não deveria ser apenas moral, embora ela fosse absolutamente necessária.
 
Ela deveria ser também política, pois se trata de compreender como o maior partido de esquerda do Brasil aceitou, em prol do flerte com as práticas mais arcaicas de “construção da governabilidade”, esvaziar completamente as pautas de transformação política do Estado e de aprofundamento de mecanismos de democracia direta.

Desde que subiu ao poder federal, planos interessantes, como o orçamento participativo, sumiram até mesmo da esfera municipal do PT, o que dirá a discussão a respeito da superação dos impasses da democracia parlamentar.

No seu lugar, setores do partido acharam que poderiam administrar a política brasileira com os mesmos expedientes de sempre e, ainda assim, saírem ilesos. Agora, mostram-se surpresos com o STF.

Para que todos não paguem por isso diante da opinião pública, há de se dizer claramente que não é a esquerda brasileira que foi julgada no mensalão, mas um setor que acreditou, com uma ingenuidade impressionante, poder abandonar a construção de novas práticas políticas sem, com isso, se transformar paulatinamente na imagem invertida daquilo que sempre criticaram.

Se uma autocrítica fosse feita, o Brasil poderia esperar que certos atores políticos começassem, enfim, uma reflexão sobre a necessidade do aprofundamento da participação popular como arma contra a corrupção do poder.

Ao que parece, no entanto, precisaremos de muito mais escândalos para que tal pauta seja, um dia, colocada em cena.

* Vladimir Safatle  é professor no departamento de filosofia da USP

Fonte: Vi o Mundo

cebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante

 

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