O imaginário coletivo sobre o agora
ex-presidente da República Bolivariana da Venezuela se torna o novo
desafio para a análise política da América Latina. Pós-chavismo?
Para refletir. A Venezuela se encontra diante
de um impasse. Na arena externa, o vice-presidente em exercício,
Nicolás Maduro, teve de expulsar dois diplomatas dos Estados Unidos
hoje, pouco antes do anúncio do falecimento de Hugo Rafael Chávez Frías.
Ou a inteligência do país, auxiliada de fato pelo G2 (serviços de
inteligência cubanos), de fato identificaram sondagens nas FFAA (o que
ocorre sempre), ou então se tratou de manobra diversionista. Mas a
probabilidade de alguma articulação para desestabilizar o país é bem
alta.
Pouco
depois, foi anunciada a morte de Hugo Chávez. Na semana passada, o
baita jornalista Elias Aredes Junior me perguntou exatamente se eu
achava que Chávez voltara à sua terra natal para falecer? Entendo que
sim. Já terminal, optou por morrer no país e com isso ajudar o
condicionamento da sucessão. O problema não reside aí, e sim nas
múltiplas possibilidades de cenários no futuro próximo.
A cancha está aberta...
Projetando cenários para a Venezuela pós-Chávez
1) Cabello assume como presidente do Poder Legislativo e Maduro concorre pelo PSUV; já Capriles, pela oposição unificada. Seria uma eleição única, onde o Departamento de Estado e o continente, além dos capitais Ibero-americanos e as petroleiras, estarão presentes.
2) Maduro garante o exercício do Poder Executivo e não transfere no prazo constitucional o poder para o Parlamento. A oposição ameaça não participar do processo. Neste caso, o papel das FFAA é fundamental para a manutenção chavista do poder.
3) O PSUV racha e a oposição também. Este cenário é muito improvável, mas pode vir a ocorrer no campo da oposição, caso a direita não tenha uma eleição agendada para logo. No caso, a cancha fica aberta, inclusive com maior agressividade do Império.
4) Mesmo que Nicolás Maduro saia vencedor das eleições marcadas - o mais provável - abre-se uma segunda rodada no exercício do poder pelo líder chavista. A interna do PSUV está terrível e pode haver racha interno; mas isto seria após uma provável vitória nas urnas.
PSUV no poder
Para concluir a primeira projeção, lembro do populismo na Argentina.
O peronismo sem Perón é diferente do peronismo com Juan Domingo, o que também já não era muita coisa diante das propostas de juventude de esquerda que se somou ao movimento no final dos anos '60. No caso venezuelano, a reprodução da cultura política do país por dentro do PSUV (formado por caudilhos e mesmo politiqueiros reconvertidos, os setores são chamados de direita endógena) é marcante. O problema seria a quebra do pacto.
O PSUV existe em função de Chávez. Na sua ausência, a dimensão ideológica não é tão forte como a conveniência de estar bem com o Executivo. Hoje existem diversos peronismos e existirão diversos chavismos em um par de anos. O mais provável é que, até as próximas eleições, nada venha a ocorrer. Até porque a tendência é que Maduro seja o candidato oficial e vença nas urnas.
Mas se o PSUV perder, dificilmente a direita leva o poder, mesmo que o ganhe nas urnas. Seria também uma quebra de pacto, assim como os rasgos de constitucionalidade se rompem ao não serem convocadas as eleições nos prazos legais. O chavismo sempre se baseou na legalização e constitucionalização do processo, quase sempre deixando como pauta do longuíssimo prazo, ou da terra do nunca, o câmbio social profundo ou o problema da sucessão.
Agora o problema chegou e a balança só pode pender para o processo bolivariano se houver um grau elevado de unidade pelas forças sociais - como rádios comunitárias, o que existe de sindicalismo combativo, movimento indígena, palenqueros (equivale a quilombolas) e o que sobrou da comunidade urbana organizada e mobilizada em Caracas e nos estados vizinhos.
Neste último caso, repousa o controle sobre e das milícias. Se este controle estiver com as lideranças - duvidosas em sua maioria - do PSUV, tudo pode acontecer inclusive durante o provável governo de Maduro. Já se este controle estiver com a parte mais radicalizada dos diversos movimentos bolivarianos, como Tupamaros, Andrés Vive, Comunidades al Mando, Frente Campesina Zamora, entre outro, aí existe alguma chance de câmbio profundo, desde que não se instale um cenário onde as FFAA reprimam diretamente o movimento popular, ao menos não num primeiro momento.
No momento, as urgências dizem respeito ao fato de serem ou não convocadas eleições e se antecipar aos movimentos do Depto de Estado, da mídia palangrista e dos esquálidos. Mas isso é agora; o médio prazo é logo ali, assim que Maduro assumir o poder pelas urnas (de novo).
Fonte: Estratégia e Análise
Saiba mais:
A demonização de Chávez
Eduardo Galeano
(texto escrito em janeiro deste ano)
Hugo Chávez é um demônio. Por quê? Porque alfabetizou 2 milhões de venezuelanos que não sabiam ler nem escrever, mesmo vivendo em um país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo. Eu morei nesse país alguns anos e conheci muito bem o que ele era. O chamavam de “Venezuela Saudita” por causa do petróleo. Havia 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola porque não tinham documentos…
Então, chegou um governo, esse governo diabólico, demoníaco, que faz coisas elementares, como dizer: “As crianças devem ser aceitas nas escolas com ou sem documentos”. Aí, caiu o mundo: isso é a prova de que Chávez é um malvado malvadíssimo.
Já que ele detém essa riqueza, e com a subida do preço do petróleo graças à guerra do Iraque, ele quer usá-la para a solidariedade. Quer ajudar os países sul-americanos, e especialmente Cuba. Cuba envia médicos, ele paga com petróleo. Mas esses médicos também foram fonte de escândalo.
Dizem que os médicos venezuelanos estavam furiosos com a presença desses intrusos trabalhando nos bairros mais pobres. Na época que eu morava lá como correspondente da Prensa Latina, nunca vi um médico. Agora sim há médicos. A presença dos médicos cubanos é outra evidência de que Chávez está na Terra só de visita, porque ele pertence ao inferno.
Então, quando for ler uma notícia, você deve traduzir tudo.O demonismo tem essa origem, para justificar a diabólica máquina da morte.
Fonte: Brasil de Fato
Saiba Mais:
Hugo Chávez quis Nicolás Maduro como sucessor. Mas nada garante que os outros nomes mais próximos tenham aceito a escolha sem ressentimentos. O que fará Diosdado Cabello, presidente da Assembléia Nacional? E Elias Jaua, chavista radical? E Francisco Arias Cárdenas, militar intelectualizado, influente entre os novos governadores? E o físico Adán Chávez, irmão mais velho do presidente morto e seu principal mentor ideológico? A análise é de Eric Nepomuceno.
A cancha está aberta...
Projetando cenários para a Venezuela pós-Chávez
1) Cabello assume como presidente do Poder Legislativo e Maduro concorre pelo PSUV; já Capriles, pela oposição unificada. Seria uma eleição única, onde o Departamento de Estado e o continente, além dos capitais Ibero-americanos e as petroleiras, estarão presentes.
2) Maduro garante o exercício do Poder Executivo e não transfere no prazo constitucional o poder para o Parlamento. A oposição ameaça não participar do processo. Neste caso, o papel das FFAA é fundamental para a manutenção chavista do poder.
3) O PSUV racha e a oposição também. Este cenário é muito improvável, mas pode vir a ocorrer no campo da oposição, caso a direita não tenha uma eleição agendada para logo. No caso, a cancha fica aberta, inclusive com maior agressividade do Império.
4) Mesmo que Nicolás Maduro saia vencedor das eleições marcadas - o mais provável - abre-se uma segunda rodada no exercício do poder pelo líder chavista. A interna do PSUV está terrível e pode haver racha interno; mas isto seria após uma provável vitória nas urnas.
PSUV no poder
Para concluir a primeira projeção, lembro do populismo na Argentina.
O peronismo sem Perón é diferente do peronismo com Juan Domingo, o que também já não era muita coisa diante das propostas de juventude de esquerda que se somou ao movimento no final dos anos '60. No caso venezuelano, a reprodução da cultura política do país por dentro do PSUV (formado por caudilhos e mesmo politiqueiros reconvertidos, os setores são chamados de direita endógena) é marcante. O problema seria a quebra do pacto.
O PSUV existe em função de Chávez. Na sua ausência, a dimensão ideológica não é tão forte como a conveniência de estar bem com o Executivo. Hoje existem diversos peronismos e existirão diversos chavismos em um par de anos. O mais provável é que, até as próximas eleições, nada venha a ocorrer. Até porque a tendência é que Maduro seja o candidato oficial e vença nas urnas.
Mas se o PSUV perder, dificilmente a direita leva o poder, mesmo que o ganhe nas urnas. Seria também uma quebra de pacto, assim como os rasgos de constitucionalidade se rompem ao não serem convocadas as eleições nos prazos legais. O chavismo sempre se baseou na legalização e constitucionalização do processo, quase sempre deixando como pauta do longuíssimo prazo, ou da terra do nunca, o câmbio social profundo ou o problema da sucessão.
Agora o problema chegou e a balança só pode pender para o processo bolivariano se houver um grau elevado de unidade pelas forças sociais - como rádios comunitárias, o que existe de sindicalismo combativo, movimento indígena, palenqueros (equivale a quilombolas) e o que sobrou da comunidade urbana organizada e mobilizada em Caracas e nos estados vizinhos.
Neste último caso, repousa o controle sobre e das milícias. Se este controle estiver com as lideranças - duvidosas em sua maioria - do PSUV, tudo pode acontecer inclusive durante o provável governo de Maduro. Já se este controle estiver com a parte mais radicalizada dos diversos movimentos bolivarianos, como Tupamaros, Andrés Vive, Comunidades al Mando, Frente Campesina Zamora, entre outro, aí existe alguma chance de câmbio profundo, desde que não se instale um cenário onde as FFAA reprimam diretamente o movimento popular, ao menos não num primeiro momento.
No momento, as urgências dizem respeito ao fato de serem ou não convocadas eleições e se antecipar aos movimentos do Depto de Estado, da mídia palangrista e dos esquálidos. Mas isso é agora; o médio prazo é logo ali, assim que Maduro assumir o poder pelas urnas (de novo).
Fonte: Estratégia e Análise
Saiba mais:
A demonização de Chávez
Eduardo Galeano
(texto escrito em janeiro deste ano)
Hugo Chávez é um demônio. Por quê? Porque alfabetizou 2 milhões de venezuelanos que não sabiam ler nem escrever, mesmo vivendo em um país detentor da riqueza natural mais importante do mundo, o petróleo. Eu morei nesse país alguns anos e conheci muito bem o que ele era. O chamavam de “Venezuela Saudita” por causa do petróleo. Havia 2 milhões de crianças que não podiam ir à escola porque não tinham documentos…
Então, chegou um governo, esse governo diabólico, demoníaco, que faz coisas elementares, como dizer: “As crianças devem ser aceitas nas escolas com ou sem documentos”. Aí, caiu o mundo: isso é a prova de que Chávez é um malvado malvadíssimo.
Já que ele detém essa riqueza, e com a subida do preço do petróleo graças à guerra do Iraque, ele quer usá-la para a solidariedade. Quer ajudar os países sul-americanos, e especialmente Cuba. Cuba envia médicos, ele paga com petróleo. Mas esses médicos também foram fonte de escândalo.
Dizem que os médicos venezuelanos estavam furiosos com a presença desses intrusos trabalhando nos bairros mais pobres. Na época que eu morava lá como correspondente da Prensa Latina, nunca vi um médico. Agora sim há médicos. A presença dos médicos cubanos é outra evidência de que Chávez está na Terra só de visita, porque ele pertence ao inferno.
Então, quando for ler uma notícia, você deve traduzir tudo.O demonismo tem essa origem, para justificar a diabólica máquina da morte.
Fonte: Brasil de Fato
Saiba Mais:
À Venezuela o que era de Chávez
Hugo Chávez quis Nicolás Maduro como sucessor. Mas nada garante que os outros nomes mais próximos tenham aceito a escolha sem ressentimentos. O que fará Diosdado Cabello, presidente da Assembléia Nacional? E Elias Jaua, chavista radical? E Francisco Arias Cárdenas, militar intelectualizado, influente entre os novos governadores? E o físico Adán Chávez, irmão mais velho do presidente morto e seu principal mentor ideológico? A análise é de Eric Nepomuceno.
Eric Nepomuceno
O processo, que era para ser lento na medida do possível, se precipitou de maneira inevitável – e talvez imprevista.
Na noite da segunda-feira, dia 4, o ministro venezuelano de Comunicação, Ernesto Villegas, informou oficialmente ao país que tinha havido uma piora considerável no estado de saúde do presidente Hugo Chávez.
O anúncio foi feito por uma cadeia de rádio e televisão, tarde da noite, e foi devastador para as esperanças de milhões de venezuelanos, que já vinham de uma prolongada tensão desde que, em dezembro passado, tinham sido informados que o câncer que afetava seu presidente desde meados de 2011 havia retomado com força.
Na tarde do dia seguinte, terça-feira, houve, primeiro, um novo impacto: Nicolás Maduro, vice-presidente, nomeado candidato a sucedê-lo pelo próprio Chávez, participou de uma solene reunião da direção político-militar da Revolução Bolivariana. Estavam lá todos os ministros, os 20 governadores estaduais filiados ao movimento encabeçado por Chávez, muitos prefeitos – e, claro, os mais altos mandos militares.
A ausência do presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello, tinha plena justificativa: a morte de sua mãe naquele mesmo dia.
Ou seja: o tempo previsto, ou esperado, para preparar a difícil e delicada transição do chavismo com Chávez para o chavismo sem Chávez encolheu de maneira dramática.
E depois da tal reunião solene, houve outro pronunciamento de Nicolás Maduro, para comunicar o que todos temiam, esperavam e pareciam não acreditar: a morte de Hugo Chávez.
O tempo previsto – se é que alguém previu – para anunciar o desaparecimento do condutor máximo da Revolução Bolivariana, do Socialismo do Século XXI, foi cortado bruscamente. Aquilo que era óbvio, mas parecia adiável, aconteceu.
Chávez morreu sem assumir seu novo mandato presidencial, e deixou um herdeiro que não tem seu carisma, e muito menos seu peso nas Forças Armadas, onde afinal reside o verdadeiro núcleo do poder.
Agora, tudo são suposições na Venezuela. De concreto, além da morte de Chávez, apenas a certeza de que as diferentes correntes do chavismo tratarão de se entender, até mesmo para não desaparecer em estilhaços ao léu.
O projeto bolivariano alcançou resultados indiscutíveis em termos de mudança na estrutura social da Venezuela. E tudo isso aconteceu girando ao redor de um só eixo: o próprio Hugo Chávez. Que, como todo líder, teve à sua volta, em diferentes ocasiões, diferentes integrantes de um núcleo duro.
Ao longo de seus longos anos no poder, Chávez não construiu, ou não pôde construir, uma figura absolutamente leal para substituí-lo numa eventualidade qualquer – desde a mais funesta, que acabou ocorrendo, até uma eventualidade política.
Só recentemente, em dezembro passado, quando soube que o câncer que acabaria por matá-lo havia voltado e em condições extremamente agressivas, anunciou o nome que estava debaixo de uma vasta e meticulosa lupa desde alguns poucos meses, quando soube da própria fragilidade.
Chávez, com apoio dos cubanos, quis que fosse Nicolás Maduro, um dos nomes mais próximos nos últimos tempos. Nada garante, porém, que os outros nomes mais próximos tenham aceito essa escolha sem ressentimentos.
A partir de agora, cada movimento será decisivo, como num minueto impreciso que busca a precisão da sobrevivência. O que fará Diosdado Cabello, militar como Chávez, com grande influência nas Forças Armadas, presidente da Assembléia Nacional? E Elias Jaua, sociólogo bem formado e bem estruturado, vindo da extrema esquerda e um dos cabeças do radicalismo chavista mais radical? E Francisco Arias Cárdenas, também militar, um estranho militar intelectualizado, com forte influência entre os novos governadores saídos da caserna e eleitos em outubro passado? E finalmente, que fará o físico Adán Chávez, irmão mais velho do presidente morto e seu principal mentor ideológico?
Essas são algumas das muitas, muitíssimas perguntas que os venezuelanos se fazem. Mas há outras, mais urgentes e prementes.
O que será da Venezuela? E de Cuba? E da Jamaica, da Nicarágua, da Bolívia e, em boa medida, da Argentina? E do Equador? E das conversações de paz da Colômbia? E da Aliança Bolivariana? E da Unasul, que Chávez e o então presidente argentino Nestor Kirchner, junto com Lula, tanto impulsionaram?
Como se comportarão as forças armadas venezuelanas? Qual será a atitude da Força Aérea, considerada a menos chavista das forças militares?
A América Latina não perdeu apenas um presidente forte, polêmico, muitas vezes contraditório. Não perdeu apenas um símbolo de transformações reais. Não perdeu um líder – discutido, sim, mas dono de uma liderança indiscutível.
Perdeu isso e muito mais. Quanto? O tempo dirá. Mas perdeu muito, muitíssimo.
Na noite da morte do presidente Hugo Chávez, um amigo venezuelano me escreveu: “Era um gigante”.
Pois era isso e muito mais. Agora é preciso ver o que fazer com seu legado.
E, principalmente, ver como assegurar à Venezuela e à nossa Pátria Grande o futuro que Hugo Chávez ajudou, com todos seus erros e acertos, com todas as suas conquistas e contradições, com todas as suas tragédias e esperanças, a planejar e sonhar.
Na noite da segunda-feira, dia 4, o ministro venezuelano de Comunicação, Ernesto Villegas, informou oficialmente ao país que tinha havido uma piora considerável no estado de saúde do presidente Hugo Chávez.
O anúncio foi feito por uma cadeia de rádio e televisão, tarde da noite, e foi devastador para as esperanças de milhões de venezuelanos, que já vinham de uma prolongada tensão desde que, em dezembro passado, tinham sido informados que o câncer que afetava seu presidente desde meados de 2011 havia retomado com força.
Na tarde do dia seguinte, terça-feira, houve, primeiro, um novo impacto: Nicolás Maduro, vice-presidente, nomeado candidato a sucedê-lo pelo próprio Chávez, participou de uma solene reunião da direção político-militar da Revolução Bolivariana. Estavam lá todos os ministros, os 20 governadores estaduais filiados ao movimento encabeçado por Chávez, muitos prefeitos – e, claro, os mais altos mandos militares.
A ausência do presidente da Assembléia Nacional, Diosdado Cabello, tinha plena justificativa: a morte de sua mãe naquele mesmo dia.
Ou seja: o tempo previsto, ou esperado, para preparar a difícil e delicada transição do chavismo com Chávez para o chavismo sem Chávez encolheu de maneira dramática.
E depois da tal reunião solene, houve outro pronunciamento de Nicolás Maduro, para comunicar o que todos temiam, esperavam e pareciam não acreditar: a morte de Hugo Chávez.
O tempo previsto – se é que alguém previu – para anunciar o desaparecimento do condutor máximo da Revolução Bolivariana, do Socialismo do Século XXI, foi cortado bruscamente. Aquilo que era óbvio, mas parecia adiável, aconteceu.
Chávez morreu sem assumir seu novo mandato presidencial, e deixou um herdeiro que não tem seu carisma, e muito menos seu peso nas Forças Armadas, onde afinal reside o verdadeiro núcleo do poder.
Agora, tudo são suposições na Venezuela. De concreto, além da morte de Chávez, apenas a certeza de que as diferentes correntes do chavismo tratarão de se entender, até mesmo para não desaparecer em estilhaços ao léu.
O projeto bolivariano alcançou resultados indiscutíveis em termos de mudança na estrutura social da Venezuela. E tudo isso aconteceu girando ao redor de um só eixo: o próprio Hugo Chávez. Que, como todo líder, teve à sua volta, em diferentes ocasiões, diferentes integrantes de um núcleo duro.
Ao longo de seus longos anos no poder, Chávez não construiu, ou não pôde construir, uma figura absolutamente leal para substituí-lo numa eventualidade qualquer – desde a mais funesta, que acabou ocorrendo, até uma eventualidade política.
Só recentemente, em dezembro passado, quando soube que o câncer que acabaria por matá-lo havia voltado e em condições extremamente agressivas, anunciou o nome que estava debaixo de uma vasta e meticulosa lupa desde alguns poucos meses, quando soube da própria fragilidade.
Chávez, com apoio dos cubanos, quis que fosse Nicolás Maduro, um dos nomes mais próximos nos últimos tempos. Nada garante, porém, que os outros nomes mais próximos tenham aceito essa escolha sem ressentimentos.
A partir de agora, cada movimento será decisivo, como num minueto impreciso que busca a precisão da sobrevivência. O que fará Diosdado Cabello, militar como Chávez, com grande influência nas Forças Armadas, presidente da Assembléia Nacional? E Elias Jaua, sociólogo bem formado e bem estruturado, vindo da extrema esquerda e um dos cabeças do radicalismo chavista mais radical? E Francisco Arias Cárdenas, também militar, um estranho militar intelectualizado, com forte influência entre os novos governadores saídos da caserna e eleitos em outubro passado? E finalmente, que fará o físico Adán Chávez, irmão mais velho do presidente morto e seu principal mentor ideológico?
Essas são algumas das muitas, muitíssimas perguntas que os venezuelanos se fazem. Mas há outras, mais urgentes e prementes.
O que será da Venezuela? E de Cuba? E da Jamaica, da Nicarágua, da Bolívia e, em boa medida, da Argentina? E do Equador? E das conversações de paz da Colômbia? E da Aliança Bolivariana? E da Unasul, que Chávez e o então presidente argentino Nestor Kirchner, junto com Lula, tanto impulsionaram?
Como se comportarão as forças armadas venezuelanas? Qual será a atitude da Força Aérea, considerada a menos chavista das forças militares?
A América Latina não perdeu apenas um presidente forte, polêmico, muitas vezes contraditório. Não perdeu apenas um símbolo de transformações reais. Não perdeu um líder – discutido, sim, mas dono de uma liderança indiscutível.
Perdeu isso e muito mais. Quanto? O tempo dirá. Mas perdeu muito, muitíssimo.
Na noite da morte do presidente Hugo Chávez, um amigo venezuelano me escreveu: “Era um gigante”.
Pois era isso e muito mais. Agora é preciso ver o que fazer com seu legado.
E, principalmente, ver como assegurar à Venezuela e à nossa Pátria Grande o futuro que Hugo Chávez ajudou, com todos seus erros e acertos, com todas as suas conquistas e contradições, com todas as suas tragédias e esperanças, a planejar e sonhar.
Fonte: Carta Maior
Leia mais:
Hugo Chávez
Por Laerte Braga
Chávez transcende a Venezuela. Transformou seu país em principal protagonista, ao lado de Cuba, da luta pela independência política e econômica dos países da América Latina. Governando desde o primeiro momento com o respaldo do voto popular, conseguiu sobrepor-se a um golpe de estado em abril de 2002 a partir da reação do povo venezuelano.
Em agosto do mesmo ano, a despeito dos esforços dos Estados Unidos, sob governo Bush, foi confirmado como presidente por maioria absoluta dos eleitores venezuelanos. A legitimidade do referendo foi reconhecida pelo próprio governo norte-americano, principal ator do golpe frustrado.
Fonte Diário da Liberdade
A imagem que não será destaque na Rede Globo: População toma as ruas de Caracas para se despedir de Hugo Chávez:
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Em agosto do mesmo ano, a despeito dos esforços dos Estados Unidos, sob governo Bush, foi confirmado como presidente por maioria absoluta dos eleitores venezuelanos. A legitimidade do referendo foi reconhecida pelo próprio governo norte-americano, principal ator do golpe frustrado.
Rubens Ricúpero substituiu Fernando Henrique Cardoso no Ministério
da Fazenda, governo Itamar Franco, logo após a saída do tucano para
se candidatar a presidente da República. 1994. Pouco antes de
conceder uma entrevista à REDE GLOBO, principal porta-voz da
direita brasileira, na manhã de 1º. de abril, a conversa com o
apresentador do jornal vaza por antenas parabólicas e Ricúpero acaba
renunciando ao Ministério.
"Eu não tenho escrúpulos. Eu acho que é isso mesmo. O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde". O trêfego ministro referia-se ao Plano Real e à necessidade de usá-lo como instrumento de campanha de FHC. O prenúncio do caráter amoral do que viria a ser o governo de Fernando Henrique.
Rubens Ricúpero é um dos "especialistas" ouvidos pela REDE BANDEIRANTES (extrema-direita) sobre Chávez e a Venezuela pós Chávez. Na edição do BANDNEWS (canal fechado, com acesso de assinantes) o apresentador ouviu também Marcus Vinícius de Freitas e em meio a "especialidades" desses especialistas, disse que o vice-presidente da Venezuela "está tentando levar as pessoas para o lado deles".
É incrível o despudor da mídia brasileira. A falta de caráter de jornalistas que se prestam ao papel de William Bonner, ou William Waack.
"A supressão da personalidade acompanha fatalmente as condições da existência submetida às normas espetaculares – cada vez mais afastada da possibilidade de conhecer experiências autênticas e, por isso, de descobrir preferências individuais.
Paradoxalmente , o indivíduo deve se desdizer-se sempre se desejar receber dessa sociedade um mínimo de consideração. Essa existência postula uma fidelidade sempre cambiante, uma série de adesões constantemente decepcionantes, a produtos ilusórios. Trata-se de correr atrás da inflação dos sinais depreciados da vida" – Debord, A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, Contraponto, RJ).
O jornalismo robotizado e depreciado, o ser aviltado e transformado em objeto decorado a cores e luzes da mentira.
Segundo o mesmo Debord,, só o "tolo e o ignorante" necessitam do especialista. Aquele que conforma a alienação a uma realidade que é diversa, que descaracteriza o ser humano. Ignoram o processo histórico.
Chávez é maior que tudo isso. Deixa um legado, um rastro de coragem e determinação que líderes como Lula jamais tiveram. Aceitaram o jogo dos senhores do mundo enquanto Chávez os enfrentou. Tem a estatura de um Fidel Castro.
"Nesta tribuna onde falo hoje, ontem falou o presidente Bush dos EUA, que eu chamo de El Diablo. Ainda está com cheiro de enxofre". Num pronunciamento na Assembléia Geral das Nações Unidas.
"Ufa! Que alívio, finalmente o fim de uma praga". John McCain, senador republicano e candidato presidencial derrotado na primeira eleição de Obama, ao tomar conhecimento da morte de Chávez.
As forças da reação, os "especialistas" que iludem tolos e ignorantes, vão tentar de todas as formas derrotar o chavismo nas eleições presidenciais dentro de 30 dias. Um e outro são maiores.
A Venezuela erradicou o analfabetismo, levou a todos os cidadãos os serviços de saúde pública, começou o processo de construção socialista e tudo isso sob a liderança de Chávez e o apoio popular. Organização popular é o principal instrumento da revolução bolivariana.
Não passarão. O triunfo de Chávez é o triunfo da História. Sua morte o coloca no patamar de Marti, de Bolivar, de tantos outros lutadores do povo na América Latina. O coloca ao lado de Chê.
É por essa e outras razões que Chávez transcende a Venezuela e transcende a si próprio. O triunfo sobre a amoralidade escravagista do capitalismo. É a maior dentre todas as heranças que Chávez deixa.
"Eu não tenho escrúpulos. Eu acho que é isso mesmo. O que é bom a gente mostra, o que é ruim a gente esconde". O trêfego ministro referia-se ao Plano Real e à necessidade de usá-lo como instrumento de campanha de FHC. O prenúncio do caráter amoral do que viria a ser o governo de Fernando Henrique.
Rubens Ricúpero é um dos "especialistas" ouvidos pela REDE BANDEIRANTES (extrema-direita) sobre Chávez e a Venezuela pós Chávez. Na edição do BANDNEWS (canal fechado, com acesso de assinantes) o apresentador ouviu também Marcus Vinícius de Freitas e em meio a "especialidades" desses especialistas, disse que o vice-presidente da Venezuela "está tentando levar as pessoas para o lado deles".
É incrível o despudor da mídia brasileira. A falta de caráter de jornalistas que se prestam ao papel de William Bonner, ou William Waack.
"A supressão da personalidade acompanha fatalmente as condições da existência submetida às normas espetaculares – cada vez mais afastada da possibilidade de conhecer experiências autênticas e, por isso, de descobrir preferências individuais.
Paradoxalmente , o indivíduo deve se desdizer-se sempre se desejar receber dessa sociedade um mínimo de consideração. Essa existência postula uma fidelidade sempre cambiante, uma série de adesões constantemente decepcionantes, a produtos ilusórios. Trata-se de correr atrás da inflação dos sinais depreciados da vida" – Debord, A SOCIEDADE DO ESPETÁCULO, Contraponto, RJ).
O jornalismo robotizado e depreciado, o ser aviltado e transformado em objeto decorado a cores e luzes da mentira.
Segundo o mesmo Debord,, só o "tolo e o ignorante" necessitam do especialista. Aquele que conforma a alienação a uma realidade que é diversa, que descaracteriza o ser humano. Ignoram o processo histórico.
Chávez é maior que tudo isso. Deixa um legado, um rastro de coragem e determinação que líderes como Lula jamais tiveram. Aceitaram o jogo dos senhores do mundo enquanto Chávez os enfrentou. Tem a estatura de um Fidel Castro.
"Nesta tribuna onde falo hoje, ontem falou o presidente Bush dos EUA, que eu chamo de El Diablo. Ainda está com cheiro de enxofre". Num pronunciamento na Assembléia Geral das Nações Unidas.
"Ufa! Que alívio, finalmente o fim de uma praga". John McCain, senador republicano e candidato presidencial derrotado na primeira eleição de Obama, ao tomar conhecimento da morte de Chávez.
As forças da reação, os "especialistas" que iludem tolos e ignorantes, vão tentar de todas as formas derrotar o chavismo nas eleições presidenciais dentro de 30 dias. Um e outro são maiores.
A Venezuela erradicou o analfabetismo, levou a todos os cidadãos os serviços de saúde pública, começou o processo de construção socialista e tudo isso sob a liderança de Chávez e o apoio popular. Organização popular é o principal instrumento da revolução bolivariana.
Não passarão. O triunfo de Chávez é o triunfo da História. Sua morte o coloca no patamar de Marti, de Bolivar, de tantos outros lutadores do povo na América Latina. O coloca ao lado de Chê.
É por essa e outras razões que Chávez transcende a Venezuela e transcende a si próprio. O triunfo sobre a amoralidade escravagista do capitalismo. É a maior dentre todas as heranças que Chávez deixa.
Fonte Diário da Liberdade
A imagem que não será destaque na Rede Globo: População toma as ruas de Caracas para se despedir de Hugo Chávez:
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