ADAMS E A CONDENAÇÃO DE RIVA:
Na Assembleia, os caititus, no feliz apelido criado por um deles, que são mais de 20 deputados, estão atarantados. Na sociedade notam-se três reações: uma maioria festeja o começo do fim da carreira do deputado, outros não acreditam ainda que Riva seja efetivamente punido e as viúvas que choram.
por Ademar Adams
A condenação de Riva e Bosaipo pela Câmara de Direito Público do
Tribunal de Justiça de Mato Grosso foi diferente das demais já julgadas,
por incluir a perda da função pública de ambos os condenados. Devemos
lembrar que, em outros processos semelhantes, os recursos de ambos já
haviam sido improvidos.
Após o julgamento, o deputado Riva convocou a imprensa para dizer
bobagens e fazer afirmações que deveriam envergonhar um bacharel em
direito. Parece que ele não deu chance a ninguém para perguntar ou os
jornalistas já escaldados nem se deram ao trabalho de tentar contrariar
as redações viciadas em proteger o parlamentar.
O assunto merece uma análise mais acurada porque a decisão desta
semana vem como desfecho de um conjunto de fatos que devem deixar o Riva
e seus micro-satélites muito preocupados. A começar, dizer que foi a
insistência de alguns blogues e a persistência de certos ativistas
sociais que furou o bloqueio da mídia local, cimentado com o farto
dinheiro da própria Assembleia. As gotas que faltavam foram as matérias
na Folha, na Veja, em O Globo e, por último, um editorial do Estadão,
que acabaram despertando até o CNJ.
E o CNJ vem tendo um papel relevante na luta pelo destronamento do Riva. Primeiro, porque aposentou um grupo de magistrados, alguns do quais apelidados de “Rivajus”, fato que tirou do condenado um descarado anteparo judicial que prorrogou por anos esse desfecho. E, depois, o CNJ colocou nas metas deste ano o julgamento de processos por improbidade, decretando um ataque à corrupção sem precedentes.
E o CNJ vem tendo um papel relevante na luta pelo destronamento do Riva. Primeiro, porque aposentou um grupo de magistrados, alguns do quais apelidados de “Rivajus”, fato que tirou do condenado um descarado anteparo judicial que prorrogou por anos esse desfecho. E, depois, o CNJ colocou nas metas deste ano o julgamento de processos por improbidade, decretando um ataque à corrupção sem precedentes.
É importante também a presença de Joaquim Barbosa no comando do STF
que, afora a parolagem em torno do “heroísmo” do julgamento do que se
apelidou mensalão, sempre demonstrou pouca paciência com a corrupção,
como foi mostrado em alguns julgamentos envolvendo Paulo Maluf,
verdadeiro modelo de corrupto.
Na Assembleia, os caititus, no feliz apelido criado por um deles, que
são mais de 20 deputados, estão atarantados. O 1º vice-presidente que
assumirá a presidência, com jeito de bobalhão, veio dizer que era
injusta a condenação e que, para ele, Riva sempre seria “o presidente”.
Esse Romualdo se mostrou um capacho, subserviente, merecedor do título
de “Rivaboy nº 1”, apelido que este jornalista colou há tempos nos
parlamentares estaduais submissos ao deputado condenado.
Na sociedade notam-se três reações: uma maioria festeja o começo do
fim da carreira do deputado, outros que não acreditam ainda que Riva
seja efetivamente punido e as viúvas que choram. Essa incredulidade da
população foi se sedimentando ao longo de 10 anos de denúncias que
passaram a vir a público, mostrando acusações de delitos praticados por
Riva e seu bando, desde que a Polícia apreendeu caixas de documentos na
Assembleia, em meio ao tsunami causado pelo estouro do bunker do
bicheiro João Arcanjo e da localização de cheques e contratos ilegais da
Assembleia.
E quem vem acusando Riva nesta década é nada menos que o Ministério Público, que organizou os documentos, fez investigações e promoveu mais de uma centena de ações com provas irrefutáveis.
E quem vem acusando Riva nesta década é nada menos que o Ministério Público, que organizou os documentos, fez investigações e promoveu mais de uma centena de ações com provas irrefutáveis.
No Judiciário, o primeiro impacto foi o afastamento de Riva por alguns meses do comando do legislativo, pela notável coragem do então juiz convocado João Ferreira Filho, que acolheu pedido do Ministério Público, então muito bem comandando pelo procurador Luiz Eduardo Jacob. Meses depois, o Pleno do Tribunal, sem adentrar ao mérito, devolveu a presidência ao deputado.
À época não achei errada a interpretação do Tribunal, mas esperava
que sanados os equívocos de ordem formal, a condenação de Riva e até sua
prisão era uma questão de meses. Mas o que se viu foi uma enxurrada de
chicanas e um sem fim de inação do Judiciário, que indignou a sociedade
que, com o passar do tempo, foi ficando anestesiada com a impunidade.
Seguiram-se as seguidas reeleições do deputado, cada vez com mais
votos após milionárias campanhas. Tudo com sua presença constante na
Mesa, ora como presidente, ora como 1º secretário. Na última vez que
deixaria a presidência, deu um tranco nos caititus e exigiu mudança no
regimento permitindo sua reeleição para presidente.
A primeira e significativa mudança na Justiça foi a criação da Vara
de Ação Civil Pública e Ação Popular, requerida por entidades da
sociedade civil e implantada pelo então presidente do TJ, desembargador
Paulo Lessa. O Riva e os caititus ainda aprovaram uma lei tirando desta
Vara as ações de improbidade, mas a sociedade e o MP reagiram, levando o
Tribunal a derrubar a lei imoral.
Assim, os processos foram retirados das varas da Fazenda Pública, onde milhares de processos de menor importância travavam o andamento das ações contra Riva e seu bando. Claro que a falta de vocação cívica de alguns magistrados destas varas ajudava o acusado.
Nos próximos artigos, ainda vou falar do modus operandi dos condenados e do comportamento da mídia.
Ademar Adams é jornalista em Cuiabá
Fonte: Pagina do E
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