quinta-feira, 20 de junho de 2013

Os protestos no Brasil e a representação coletiva


O avanço movimento pode vir a solidificar outra forma de fazer política no país.  



Ao mobilizar a população contra uma perda de direitos, o anarquismo se prova em prática como forma de acumulação de força social. Eis o exemplo.


Por Bruno Lima Rocha

Síndrome da profecia anunciada, os episódios da noite de segunda, 17 de junho, deveriam ter ocorrido no ano de 2005, no auge do desencanto com o escândalo do Mensalão. No ano seguinte, pouco antes da Copa de 2006, tivemos um drops do evento, quando o MLST entrou de forma abrupta no “mui nobre e valoroso” Congresso Nacional cujo atual presidente da Câmara Baixa, “não sabe a motivação destas pessoas”. Semana passada, quando os protestos pelo direito à mobilidade urbana se nacionalizaram após a vitória parcial em Porto Alegre, afirmei nesta publicação que tais lutas ultrapassavam o Consenso de Brasília e que materializavam anos de trabalho acumulado por agrupações políticas mais à esquerda, catapultadas pelas redes sociais. Não deu outra.

A representação coletiva tem duas grandes motivações. A primeira destas é o peso da ideologia anarquista. Ao contrário do que se afirma em rede nacional, apesar do silêncio de boa parte da grande mídia, o conjunto de idéias que orienta estes atos é de base libertária e tem a incidência direta do anarquismo, tanto em sua forma mais difusa como na ala orgânica vinculada a Coordenação Anarquista Brasileira (CAB). É a presença deste conjunto de idéias e formas de ação que alimenta o repúdio a presença de bandeiras político-eleitorais, mesmo sendo partidos mais à esquerda, como PSTU e PSOL. A tese anarquista é simples: fortalecer as entidades de base e as redes de movimentos populares. A partir da força destas coletividades, vir a conquistar direitos diminuindo a margem de atuação de empresários e governos.

Outra motivação para o repúdio da presença de bandeiras político-eleitorais é a relação direta destes com o chamado oportunismo. A paranóia está solta e basta ler a mídia de internet mais vinculada ao governo Dilma para ver que circula um discurso de “golpe eleitoral” no ar. Uma preocupação mais provável, é que no pleito de 2014, legitimamente, surjam candidatos de esquerda tomando como bandeira a participação destes atos. O problema – para quem escolhe a via eleitoral - é que a maior parte dos ativistas ocupando as ruas de capitais e cidades médias do país repudiam esta forma de capital político. Logo, levar bandeiras vermelhas ou amarelas, se associadas a uma sigla eleitoral, é atividade mal vista hoje.

Diante deste universo de atitudes políticas, é quase inevitável o ataque a símbolos dos poderes constituídos, sejam estatais ou privados. O avanço movimento pode vir a solidificar outra forma de fazer política no país. 

Fonte: Estratégia e Análise

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