Este texto é dedicado à memória do terena Oziel Gabriel, morto aos 35 na defesa da terra dos seus.
Gleisi Hoffmann simboliza a opção do governo Dilma pelos ruralistas em desfavor dos índios.
DCM
Você mede socialmente uma administração pela forma como os desvalidos são tratados.
Olhe para os índios, e você vai ver quanto o Brasil tem que avançar
no desenvolvimento social – a despeito das frequentes autocongratulações
do PT.
Pobres índios.
Eles devem ter imaginado que, com um governo de raízes populares, sua vida melhoraria.
Talvez a mesma ilusão tenha tomado os moradores de Pinheirinho, o
assentamento destruído há pouco mais de um ano em São José dos Campos.
Bem, a realidade é diferente. Nada mostra tão claramente o quanto o
PT está engessado nas reformas sociais de que o país tanto necessita
quanto a relação do governo Dilma com os índios e, do outro lado, com os
ruralistas.
A opção pelos ruralistas é torrencial.
A ministra da Casa Civil Gleisi Hoffman personifica isso. No começo
de maio, na Câmara dos Deputados, ela desqualificou diante de uma
plateia de ruralistas um dos raros apoios com os quais os índios contam:
a Funai.
Foi aplaudida.
A Funai é um órgão envolvido com os interesses indígenas e, portanto,
não é imparcial, disse ela. Gleisi colocou sob suspeição a competência
da Funai para desenvolver as atribuições que estão sob a sua
responsabilidade.
Dias depois, ela disse que “o governo não pode e não vai concordar com minorias com projetos ideológicos irreais”.
Irreais?
Um momento: preservar o resto do resto de terras indígenas é irreal?
Mudaram os índios, mudaram os fatos – ou mudou o PT?
“O PT no poder parece que esqueceu toda a trajetória que o
construiu”, disse recentemente um ativista dos direitos indígenas. “É
doloroso que a sociedade, à frente os povos indígenas, tenha que partir
para o confronto contra o PT-Governo para evitar que este se afunde no
agronegócio dilapidador da biodiversidade e para impedir a exploração
predatória.”
Como isso aconteceu?
O governo Dilma Rousseff é hoje refém da bancada ruralista. Sem ela não aprova projetos como a MP dos Portos.
Escreveu um outro ativista: “A bancada ruralista chantageia, joga
pesado, barganha. Sabe como enredar o governo porque joga de forma
unitária, classista, não titubeia na defesa dos seus interesses. Há
análises que interpretam que o maior partido no Brasil é o ‘partido dos
ruralistas’. Continua ele: “Na ótica do governo, afrontar os ruralistas é
empurrá-los para o apoio a outras candidaturas. Nas articulações
políticas visando 2014 não é bom tê-los como inimigos, avalia o Palácio
do Planalto. Sabe-se que o apoio dos ruralistas foi importante para a
vitória de Dilma Rousseff em estados da região centro-oeste. As
articulações para reeleição de Dilma contam com o apoio senão de todos,
de parcela significativa dos ruralistas.”
Ouça agora o antropólogo Spensy Pimentel: “Num país como o Brasil, o
bom trato com a questão indígena ajuda a definir o grau de nobreza de um
governo. Porque os indígenas, aqui, não são expressivos, em termos
eleitorais, mas eles são um componente da mais alta relevância no que se
refere a nossa história e nossa identidade como brasileiros”.
Mas não dão votos e nem ajudam a passar projetos do governo no Congresso – e por isso são desprezados.
Fonte: DCM - Diário do Centro do Mundo
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