Deveríamos promover na sociedade brasileira um amplo debate para
denunciar as empresas capitalistas que são as verdadeiras fontes da
corrupção
05/11/2013
Editorial da edição 558
Nas
últimas semanas, o povo brasileiro tomou conhecimento de uma enxurrada
de notícias sobre a corrupção de servidores públicos em diferentes
esferas, que enriqueceram se apropriando de propinas pagas pelas
empresas.
O caso das empresas europeias Alstom e Siemens já
virou uma novela, pois até o Ministério Público da Suíça se envolveu
para recolher os documentos que comprovam que essas duas empresas
pagaram milhões de euros depositados em contas na Suíça para políticos
tucanos de São Paulo – como parte das propinas na construção do metrô de
São Paulo e na compra de vagões de trens.
A prefeitura de São
Paulo denunciou cinco servidores que montaram uma verdadeira quadrilha
desde 2006, para cobrar propinas de construtoras e sonegar o ISS sobre
os prédios construídos. Estimase que os desvios foram de R$ 500
milhões.
Na periferia da economia, muitos outros casos se
repetem. As obras de transposição do Rio São Francisco foram orçadas e
aprovadas em R$ 8 bilhões, já gastaram quase o dobro e as obras estão
pela metade. É claro e notório o desvio de recursos públicos.
No
Rio Grande do Norte, o Dnocs fez um edital para um projeto de irrigação
na Chapada do Apodi, alocando nada menos de R$ 240 milhões. As obras
são desnecessárias, pois precisam empurrar a água há dez quilômetros e a
100 metros de altitude em relação à barragem existente. E ainda vai
desalojar 600 famílias que lá vivem, para depois lotear por edital para
150 empresários rurais produzirem frutas para exportação.
É
evidente que uma obra assim, mais do que necessidade social ou benefício
para o povo, está relacionada com os interesses das empreiteiras, que
em épocas de eleição irrigam as contas dos políticos da oligarquia
local. Ou seja, os fatos públicos e notórios de desvio de recursos
públicos aparecem todos os dias na imprensa, inclusive burguesa.
Porém
o que ninguém comenta e nem condena é a ação das empresas corruptoras.
Apenas citam-se servidores, funcionários ou algum político. E os
capitalistas que são os que alimentam a corrupção e se beneficiam dela –
graças aos seus pagamentos recebem benefícios de ganhar licitações,
liberação de obras, prédios etc., apenas para aumentar seu lucro – nada
acontece!
A forma mais fácil da imprensa burguesa proteger seus
patrões é distorcer as causas da corrupção e colocar a culpa dizendo que
os políticos são assim mesmos. Chegam até a dizer que está na índole do
brasileiro querer tirar proveito de tudo.
Esses dias num debate
de televisão um analista econômico chegou à petulância de dizer que na
maioria dos países capitalistas o índice de desvio de dinheiro público
pelas empresas e seus corruptos atinge a 2% do PIB. Porém, que aqui no
Brasil essa cifra já ultrapassou e, portanto, deveríamos tomar alguma
atitude. Ou seja, até 2% do PIB eles acham normal roubar, acima disso aí
seria exagero!
Na verdade deveríamos promover na sociedade
brasileira um amplo debate para denunciar as empresas capitalistas que
são as verdadeiras fontes da corrupção, pois usam deste expediente para
aumentar seus lucros e negócios.
Da mesma forma, o financiamento
das empresas para as campanhas eleitorais é a fonte permanente de
corrupção, pois os financiados, de todos os partidos, depois se sentem
na obrigação de defendê-los e criar mecanismos que levam essas empresas a
acessarem valores muito mais elevados do que pagaram, dos cofres
públicos.
Mas, por incrível que pareça, a imprensa burguesa tem
feito campanha contra a adoção de financiamento público exclusivo das
campanhas eleitorais, como se fosse aumentar os custos de dinheiro
público.
Se alguém quiser de fato abandonar o cinismo e combater
a corrupção burguesa, deveríamos defender, em primeiro lugar, cadeia
para os capitalistas corruptores.
Enquanto não houver punição
para os corruptores, que são os verdadeiros agentes da corrupção,
estaremos apenas fazendo discursos moralistas, que em nada resolvem o
problema.