Apesar de a lista do mensalão tucano ou mineiro, como a grande mídia prefere classificar o escândalo, ter sido reconhecida por peritos da Polícia Federal como verdadeira, nenhum dos envolvidos no desvio de dinheiro público pelo esquema de corrupção do PSDB foi julgado até agora.
Monteiro: um encontro nos bastidores do Fórum
Por Lúcia Rodrigues, de Belo Horizonte*, especial para o Viomundo
Quem vê aquele homem de cabelo grisalho, algemado, com uniforme de
presidiário e chinelo de dedo nos pés, sendo escoltado por dois
policiais militares pelos corredores do Fórum Lafayette, no centro de
Belo Horizonte, não tem ideia de que se trata da mesma pessoa que
entregou à Polícia Federal um esquema de corrupção do PSDB.
Nilton Monteiro é a principal testemunha contra a cúpula do partido
em Minas Gerais. Em 2005, revelou a trama urdida pelos tucanos para
desviar dinheiro público para o financiamento das campanhas de Eduardo
Azeredo à reeleição ao governo do Estado e de parlamentares de vários
partidos, em 1998.
Preso desde maio de 2013, agora no complexo penitenciário de
segurança máxima Nelson Hungria, em Contagem, região metropolitana de
BH, sob a acusação de coagir testemunhas em um processo em que aparece
como falsário, Monteiro decide denunciar quem tem interesse em vê-lo
atrás das grades. Ele se declara inocente e jura ser vítima de uma
armação de políticos denunciados no esquema do mensalão tucano, que
querem mantê-lo na cadeia afastado dos holofotes.
O nome do senador Aécio Neves (PSDB-MG) encabeça a relação. “Por
detrás da minha prisão está o Aécio Neves… Eu fui operador do esquema
junto com o Marcos Valério”, frisa.
A lista com os nomes dos políticos arrolados no mensalão tucano é
extensa. O senador Aécio Neves, pré-candidato à Presidência da
República, é um dos que aparecem, como beneficiário de R$ 110 mil.
O dinheiro chegou a suas mãos pelo esquema do publicitário Marcos
Valério, que esquentava os recursos públicos nas agências de publicidade
que comandava: a SMP&B e a DNA, as mesmas empresas acusadas de
servir ao mensalão petista anos mais tarde.
Dois pesos e duas medidas
Apesar de a lista do mensalão tucano ou mineiro, como a grande mídia
prefere classificar o escândalo, ter sido reconhecida por peritos da
Polícia Federal como verdadeira, nenhum dos envolvidos no desvio de
dinheiro público pelo esquema de corrupção do PSDB foi julgado até
agora.
Em 2009, o relator do processo no STF (Supremo Tribunal Federal),
ministro Joaquim Barbosa, atendendo a solicitação dos réus, entre eles
Marcos Valério, desmembrou o inquérito e remeteu para Minas os casos dos
envolvidos no mensalão tucano que não tinham foro privilegiado.
Desmembramento semelhante não aconteceu no caso dos petistas.
Quatro anos depois, Valério foi condenado por Joaquim Barbosa a mais
de 40 anos de prisão em regime fechado pelo mensalão que teria sido
encabeçado pelo ex-ministro José Dirceu. O crime pelo qual Valério foi
julgado é absolutamente similar ao que teria cometido no esquema do
PSDB. Nos dois casos, sua função era mesma: dar cobertura legal a
esquemas de desvio de dinheiro público.
Neste caso, Valério será julgado pela justiça estadual mineira.
Em Brasília só permaneceram os casos do agora senador Eduardo Azeredo
(PSDB-MG), do senador Clésio Andrade (PMDB-MG), além do ex-ministro do
Turismo e das Relações Institucionais, Walfrido dos Mares Guia (PSB-MG),
por terem foro privilegiado. Posteriormente, quando deixou a pasta
ministerial, o processo de Mares Guia também seguiu para Minas. Ele
teria se beneficiado da prescrição do crime ao completar 70 anos, no ano
passado.
A conta-gotas
O processo que tramita na Justiça de Minas envolve 10 réus. O
promotor de justiça de Defesa do Patrimônio Público de Belo Horizonte
João Medeiros Silva Neto, responsável pela acusação, considera que os
réus do mensalão tucano devem ser julgados no final de 2014, início de
2015. Ele considera o prazo plausível devido ao número elevado de
testemunhas arroladas no processo.
Antecipa que vai pedir a condenação dos réus por peculato e lavagem
de dinheiro. Esses crimes prevêem penas de dois a 12 anos e de três a 10
anos de reclusão, respectivamente.
“O Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470 fixou penas bem
elevadas. Esperamos que isso sirva de parâmetro para as penas na justiça
estadual”, ressalta o promotor.
Até agora só testemunhas foram ouvidas no processo. A próxima fase
prevê o depoimento dos réus, mas ainda não há data marcada para que isso
aconteça. No último dia 10, a oitiva de uma testemunha foi cancelada.
A reportagem do Viomundo procurou a juíza da 9° Vara
Criminal, Neide da Silva Martins, no fórum de Belo Horizonte, para
obter mais detalhes sobre o processo. Ela solicitou, por meio de sua
secretária, que as perguntas fossem encaminhadas por escrito, mas ainda
não retornou o contato.
Personagem conturbado
Nilton Monteiro tornou-se peça-chave no esquema de acusação contra os
tucanos, conduzido pelas mãos de Cláudio Mourão, ex-tesoureiro da
campanha de Eduardo Azeredo e ex-secretário do governo de Minas.
De aliado político, Mourão passou a desafeto do ex-governador. O
motivo seria uma dívida de campanha, da ordem de R$ 700 mil, que Azeredo
não queria saldar com o filho do ex-secretário Mourão. Nilton Monteiro
teria passado, então, a pressionar Azeredo com a lista de Mourão que
denunciava o mensalão mineiro.
Azeredo entrou em acordo com Mourão e os dois reataram politicamente.
O que eles não contavam é que Monteiro não devolvesse a lista, que em
seu poder se transformou em instrumento de poder político.
Pressionados pelas denúncias, os tucanos passaram a desqualificar as
acusações. Monteiro, de repente, começou a ser identificado por eles
como aliado do PT, quando é cria do ninho tucano.
Apesar de afirmar que não se arrepende de ter denunciado o esquema de
corrupção do PSDB, Monteiro viu sua vida virar de ponta cabeça. De
braço direito do ex-empreiteiro e ex-deputado federal Sérgio Naya, hoje
Nilton Monteiro dorme em um colchão no chão da cela que divide com outro
detento e trabalha como jardineiro no presídio.
A escolha por uma prisão de segurança máxima foi dele, que teme pela
própria vida. Ele acusa o delegado Márcio Nabak de comandar várias
retaliações que já sofreu. Segundo Nilton, Nabak seria aliado de
políticos denunciados no esquema de corrupção tucana.
O medo de retaliação à família também preocupa Monteiro. Ele quer a federalização de seus processos.
Nilton Monteiro não tem dúvida sobre o futuro difícil que terá pela frente.
Mesmo assim, o delator prefere partir para o ataque e denunciar o
controle do PSDB sobre a mídia, para abafar denúncias contra quadros do
partido.
A reportagem do Viomundo entrevistou Nilton Monteiro
em uma sala reservada dentro do gabinete do juiz da 3° Vara Criminal de
Belo Horizonte, Guilherme Sadi, no último dia 6, quando ele compareceu
ao fórum da capital mineira para participar de audiência. O recinto é
reservado para conversas entre réus e advogados.
Durante toda a entrevista Nilton foi mantido algemado e um policial
militar permaneceu dentro da sala. A pedido do advogado de Nilton,
William Souza, a reportagem garantiu que a fotografia do réu não o
identificaria com as algemas.
Fonte Vi o Mundo
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