O Maranhão Vai Mal... Mas a família Sarney Vai muito Bem...
Como é possível um cenário tão macabro em pleno Século 21?
A ESCOLA ESTADUAL JOSÉ SARNEY É POÉTICA
Por Mário Querino
Quem quer aprender,
Esse é um lugar ideal,
Cheio de paz e prazer,
E é ambiente estadual.
Como sou Poeta eu sei,
Esse lugar é fantástico.
Claro, o Sr. José Sarney
Teria paz nesse barraco
Mais do que no Senado.
Se esse Sr. José Sarney
Ficasse ai dentro sentado
Lendo poesia como sei
Escrever com singeleza,
Escrever com singeleza,
O Sr. José Sarney jamais
Deixaria essa beleza
Deixaria essa beleza
Para viver sem esta paz.
Essa boa Escola Estadual
Chamou-me a atenção.
Quantos da nossa Capital
Vivem com depressão!
Quem tem a boa sorte
De estudar num barraco,
Onde aprende com dote
E redige para um Palácio,
Vê a Escola José Sarney,
Pensa nas primeiras letras
Como agora eu pensei
Neste cantinho do Planeta.
Mário Querino – Poeta de Deus
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O Maranhão vai mal…
O estado tem o pior índice de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil, segundo a ONU.
A taxa de analfabetismo é de 21.5% – mais que o dobro da média nacional Apenas 12.5% dos domicílios têm acesso a esgoto. A média brasileira é de 70% A mortalidade infantil afeta 39 bebês em cada 1000 nascimentos. É a segunda taxa mais alta do país, atrás apenas da de Alagoas 64% da população do estado é classificada como miserável. É o maior índice do país
A taxa de analfabetismo é de 21.5% – mais que o dobro da média nacional Apenas 12.5% dos domicílios têm acesso a esgoto. A média brasileira é de 70% A mortalidade infantil afeta 39 bebês em cada 1000 nascimentos. É a segunda taxa mais alta do país, atrás apenas da de Alagoas 64% da população do estado é classificada como miserável. É o maior índice do país
… Mas a família Sarney vai muito bem.
Patrimônio (visível) de Sarney e seus parentes:
- 1 ilha particular no Maranhão com
- 2 mansões 4 emissoras de TV.
- Jornal O Estado do Maranhão
- 17 emissoras de rádio
- Cotas do Shopping Jaracati, em São Luís
- 1 mansão de 20000 metros quadrados em São Luís
- 2 mansões no Lago Sul, em Brasília
- 1 apartamento no bairro Leblon, Rio de Janeiro
-1 casa de veraneio em Búzios, Rio de Janeiro
- 19 propriedades no interior do Maranhão
-Casas e lojas em São Luís, Rio de Janeiro e Macapá
- 1 ilha particular no Maranhão com
- 2 mansões 4 emissoras de TV.
- Jornal O Estado do Maranhão
- 17 emissoras de rádio
- Cotas do Shopping Jaracati, em São Luís
- 1 mansão de 20000 metros quadrados em São Luís
- 2 mansões no Lago Sul, em Brasília
- 1 apartamento no bairro Leblon, Rio de Janeiro
-1 casa de veraneio em Búzios, Rio de Janeiro
- 19 propriedades no interior do Maranhão
-Casas e lojas em São Luís, Rio de Janeiro e Macapá
Fonte Brazilian Voices
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População maranhense mostra seu amor por Sarney
A equipe de reportagem do G17 passou uma semana no Maranhão para mostrar o amor incondicional do povo maranhense pelo Presidente do Senado Federal, José Sarney. Muitos moradores daquele estado têm o retrato do Sarney em suas casas. Alguns inclusive possuem quadros, calendários, e até toalhas de mesa com a imagem do senador.
“Na
minha casa tenho 80 fotos de Sarney. Ele tem que ser santificado pelo
Papa Edir Macedo quando morrer, porque é um homem que luta por nós. Eu
tenho bolsa família com a ajuda dele. Meus filhos comem pão com água na
merenda escolar, e a escola foi remendada e hoje não tem mais goteiras,
tudo graças a ele”, disse Maria Joana Pereira da Silva, moradora de uma
cidade do interior do Maranhão.
O
agricultor Pedro João disse que graças ao Sarney o Maranhão está se
tornando o estado mais desenvolvido do Brasil, ganhando inclusive dos
estados da região Sul e Sudeste. “A gente vê Sarney na TV todo bonito,
engomado, ‘arrodeado’ de seguranças, e isso orgulha nós maranhenses”,
declarou.
A
dona de casa Maria Severina coleciona tudo sobre Sarney. “Gasto meu
Bolsa Família pra comprar revistas que tem foto de Sarney”, revelou.
Maria tem mais de 500 revistas Veja, IstoÉ, Época e outras cheias de
notícias de escândalos políticos, mas como não aprendeu a ler, apenas
recorta as fotos do seu ídolo para enfeitar a casa.
“Eu quero Sarney para presidente”, exclamou Severina.
FONTE: Blogue John Cutrim
As capitanias hereditárias foram criadas por El Rey de Portugal no Século 16.
Foram extintas por Pombal dois séculos depois. Algumas resistem até hoje.
É o caso da capitania do Maranhão, onde reina a família Sarney.
A capital, São Luís, é uma das mais perigosas, com 55 assassinatos para cada cem mil habitantes.
Lá está o presídio da Pedrinha, tão pavoroso como em um conto de Dostoiévski.
Assassinatos e estupros de familiares de presos são constantes nos corredores.
Gangues dominam o presídio, onde nem a polícia entra.
Como é possível um cenário tão macabro em pleno Século 21?
BLOG DE HERODOTO BARBEIRO
Saiba mais
O PODER E A POLITICA - LULA, SARNEY, COLLOR, RENAN, PIZZAS - SENADO FEDERAL, VERGONHA NACIONAL
Foram extintas por Pombal dois séculos depois. Algumas resistem até hoje.
É o caso da capitania do Maranhão, onde reina a família Sarney.
A capital, São Luís, é uma das mais perigosas, com 55 assassinatos para cada cem mil habitantes.
Lá está o presídio da Pedrinha, tão pavoroso como em um conto de Dostoiévski.
Assassinatos e estupros de familiares de presos são constantes nos corredores.
Gangues dominam o presídio, onde nem a polícia entra.
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Como funciona a cabeça de um corrupto e a falta de ética
É difícil compreender a psique de uma pessoa insensível à
ética. A psicanálise, as ciências sociais e a filosofia ajudam a pesquisar o
mistério.
por Judith Patarra
Astucioso, egoísta, alerta às chances de burlar os cidadãos
e o Estado, espantoso desrespeito pelo bem comum e pelas leis — esta a imagem
que se tem do corrupto, o mais notório personagem da realidade política atual,
no Brasil e, pode-se dizer, no mundo. “Mas quem, afinal, são os corruptos?”,
provoca o psicanalista Manoel Tosta Berlinck, de São Paulo. Aqueles que
trabalham para o governo e se apropriam de bens públicos? Os profissionais
liberais que não declaram integralmente seu imposto de renda? O chefe de
compras que aceita propina para escolher o fornecedor da empresa onde trabalha?
Toda a população, enfim, porque não exige nota fiscal ao fazer suas compras e
facilita aos comerciantes lesar o fisco?
Um efeito dessa natureza ampla do fenômeno corrupção, que
Berlinck enfatiza, é o da arquiteta Mathilde Caetano, de São Paulo. Em 1990,
mal saída da faculdade, ela abriu um pequeno escritório e contratou um
contador. Meses depois, apareceu um fiscal da prefeitura, que descobriu um
imposto atrasado. “Há grande espaço de avaliação nas perdas de prazo”,
sinalizou o funcionário, já de olho numa propina. A arquiteta devia entender
que com um “por fora” a avaliação da dívida seria irrisória, mas preferiu pedir
ao contador que esclarecesse a situação. Conseguiu, no máximo, aprender que os
múltiplos impostos federais, estaduais e municipais, com datas e procedimentos
diferentes para serem quitados, induzem à perda de prazos.
O advogado Marcelo Caserta Lemos aproveita para lembrar o
conceito jurídico de corruptíssima república: “Ele expressa que a abundância de
leis torna corrompida a organização da coisa pública”, explica. O episódio de
Mathilde terminou com o contador recomendando o pagamento da propina. “Do
contrário, você fica na mira”, alertou o profissional das contas. “Daqui a dois
meses aparece outro. Eles são muitos, você uma só. Tem gente de cabelo branco
por causa disso.” A arquiteta pagou os cerca de 100 dólares pedidos e, já
desconfiada do próprio contador, organizou o que se chama caixa 2, para enfrentar
futuras investidas
O caso é exemplar, porque de um lado revela que a
corruptíssima república favorece a impunidade; e de outro, compromete um
fiscal, funcionário que se costuma considerar, de antemão, corrupto, salvo
eloqüente prova em contrário. “Devo expor a situação de nossa classe”,
contra-argumenta Mauro Decar, lotado em uma das administrações regionais da
Prefeitura de São Paulo. “Ninguém se preocupa se uma obra prejudica os vizinhos
ou se o beiral podre está para cair na cabeça de alguém. Quando chegamos, somos
sempre mal recebidos, querem logo dar um jeitinho. Explicamos a exigência da
lei, pensam que insinuamos a extorsão. Ameaçam. Às vezes, o fiscal é mesmo
corrupto, uma só das multas que deve aplicar representa dez, vinte vezes o que
ele ganha por mês. Não temos carreira profissional, nem chefia própria.
Como se vê, a vida é dura em toda parte. “Existem contextos
culturais que ajudam a formar cabeças corruptas”, informa o psicanalista
lacaniano Contardo Calligaris, de Porto Alegre. “O Brasil destaca-se nessa
triste situação não só porque é forjado na cultura individualista, mas por sua
História, sempre vulnerável à corrupção”. Calligaris, presidente da Associação
Psicanalítica de Porto Alegre, insiste em que a história de um país explica
muita coisa, pois é fruto de uma cultura específica: instituições, organização
social, costumes, crenças, mitos. No exercício de sua profissão, detectou na
fala e no inconsciente dos brasileiros a presença de duas figuras supostamente
perdidas no passado: o colonizador e o colono. “O colonizador abandonou a
mãe-pátria, Portugal, por uma nova terra, que vai explorar. O que quer dizer
explorar? Conhecer e também arrancar seus recursos. Ele veio impor sua língua e
gozar a nova mãe sem o interdito do pai. O colono, ao contrário, não veio gozar
a América; queria construir um nome, encontrar um novo pai. Ser sujeito.”
Segue o raciocínio: “O que é ser sujeito? É submeter-se à
autoridade e tornar-se alguém. O que é autoridade? Implica respeito e amor —
portanto, valores simbólicos. Mas o colono vira um escravo branco da fazenda, o
que gera uma decepção sem remédio. A saída é fugir ou morrer. O falso pai é um
explorador, não o assume como filho nem lhe dá um nome. O colono termina
medindo a função paterna pelo gozo ao qual dá acesso, inscrevendo em seu
inconsciente um cinismo radical com relação à autoridade. Impressiona-me como
uma família inteira, hoje, é capaz de desconsiderar um pai que não consegue
enriquecer. Pouco vale o capital incrível de amigos, estima, valor de um nome
respeitado.”
Berlinck, o outro psicanalista, segue pela mesma trilha: “A
nossa sociedade exige que as pessoas sejam bem-sucedidas. Isso significa ser
rico, poderoso, acumular propriedades. Saímos todos atrás disso, mais
desembestados do que deixamos transparecer”. O quadro, sem dúvida, piora quando
pensamos nos políticos e nos funcionários do Estado, que representam a
autoridade simbólica. Mas, em boa parte, são como o colonizador: falsos pais,
norteados pela frase famosa “é dando que se recebe”. A dádiva, explica Calligaris,
é que sustenta o poder do doador, impondo a quem recebe o dever de retribuir
com dádiva semelhante, ou maior. E assim se abrem as portas do clientelismo,
fenômeno social em que os políticos oferecem, em troca de apoio eleitoral, toda
sorte de ajudas e favores. Monta-se uma rede de fidelidades pessoais que usa
recursos públicos ou privados, sacos sem fundo de campanhas eleitorais, por
exemplo.
Quem ficar fora de uma rede dessas — que, como vimos
recentemente, pode ir do doleiro ao presidente da República — fatalmente vai
ouvir em algum momento o retumbante “você sabe com quem está falando?”, à qual
o antropólogo Roberto DaMatta, atualmente lecionando na Universidade de Notre
Dame, em Indiana, Estados Unidos, dedicou um capítulo inteiro do seu livro
Carnavais, malandros e heróis. Eunice Ribeiro Durhan, coordenadora do Núcleo de
Pesquisas sobre Ensino Superior da Universidade de São Paulo, viveu uma amarga
experiência nos dois anos em que serviu no Ministério da Educação, durante o
governo José Sarney (1985-1990).
“Diariamente — lembra — vinham deputados ao meu gabinete,
pressionar. Eram quase sempre solicitações de bolsas de estudo, pedidos de
ver-bas e insistência na transformação de faculdades em universidades. Tudo sem
atender os critérios legais, claríssimos, por sinal. Em troca, propunham apoiar
(ou dificultar) o andamento de projetos de lei do interesse do Ministério, vale
dizer, do interesse do distinto público. Eunice deixou o Ministério junto com o
ministro José Goldemberg, em 1992, já no governo Collor, ambos incapazes de
adaptar-se ao comportamento considerado normal naquelas paragens.
“Quem funciona contra essa cultura é considerado excêntrico,
criador de caso, trouxa, babaca”, explica outra antropóloga, Maria Lúcia
Montes, da Universidade de São Paulo. Como fruto do clientelismo, a cabeça do
brasileiro tende a buscar benefícios valendo-se da influência de alguém. Nesse
caso, é bobagem reivindicar direitos pelo mérito. Tudo se torna legítimo, pois
ladrão que rouba ladrão tem cem anos de perdão. Roberto DaMatta acredita que a
sociedade brasileira combina duas mitologias: uma se inspira na tradição
moderna, da igualdade e da liberdade; a outra, na desigualdade. “Ao adotar
ambas, instituiu-se nossa ’ética da ambigüidade’, mãe de nossa familiar
corrupção: o que não posso fazer como cidadão, faço como amigo do rei.”
A malandragem chegou a tais níveis, que o brasileiro hoje
clama por ética sem ambigüidade. Explica Renato Janine Ribeiro, professor de
Filosofia Política da Universidade de São Paulo: “As pessoas querem referências
para saber o que é certo e errado. Isso é um equívoco. Ética significa agir de
acordo com escolhas individuais, que se supõe voluntárias, muitas vezes
racionais, baseadas em valores que nós julgamos certos ou errados.” O filósofo
usa a expressão “supõe-se” porque depois dos trabalhos de Sigmund Freud, o pai
da Psicanálise (1856-1939), sabe-se que freqüentemente não temos muita clareza
acerca de nossas motivações inconscientes. Além disso, os valores de certo e
errado mudam com o tempo. Não há mais preceitos absolutos. Mesmo pessoas
religiosas sabem que os mandamentos bíblicos não bastam para sustentar as
escolhas éticas.
A situação parece mais complicada se lembrarmos que os
valores da vida privada nem sempre servem para orientar a vida pública.“A ética
individual sugere: sou a favor de melhores salários”, explica Maria Lúcia
Montes. “A ética da responsabilidade, esfera, entre outras, da política,
acrescenta: mas não a ponto de piorar a situação do país. A lógica desse
impasse tem um elemento natural, a negociação. Mas esta deve manter-se no nível
do interesse público, senão afundamos na reles barganha. Por que, a meu ver,
caiu o presidente Fernando Collor? Seus eleitores poderosos sabiam que viria
roubalheira; julgavam-se capazes de controlá-lo. Mas ele, onipotente, não
barganhou.”
Para os psicanalistas, há diferenças substanciais entre
gente como a arquiteta Mathilde Caetano e alguém que sistematicamente desvia
dinheiro público. “Acho que a cabeça do honesto é idêntica à do corrupto no que
se refere à violência interna, contra a qual precisamos nos proteger, e a
violência externa, que nos assalta”, explica Berlinck. “Depois, os seres
humanos são voltados para o prazer e cometem desvarios. A civilização é essa
tentativa, falha, de conter a violência, da qual somos todos sujeitos.” E aqui
entram as diferenças entre honesto e corrupto: “O honesto, em sua criatividade
originária da violência, cria vida, realizações; o corrupto, em sua
criatividade igualmente originária da violência, é um parasita destruidor da
vida. Chupa a vida dos outros, permanece um bebê que mama nas tetas do Estado.
Faltou-lhe um pai que, exercendo as funções paternas, estipulasse os limites da
lei. Por isso, quando o chamam de corrupto, fica indignado, sente-se
injustiçado.”
Colocado o Brasil no divã dos psicanalistas, vamos descobrir
que, para mudar, realmente, será preciso que ele se torne uma nação real,
descartando a identidade do colonizador que se fixou nos violões, nas praias,
na bola de futebol, nos desfiles de carnaval em boa parte sustentados pela contravenção
do jogo do bicho e do tráfico de drogas. Geralmente, um país torna-se uma nação
depois de viver episódios históricos penosos, guerras de libertação,
resistência a invasores, busca de independência. Cria-se a partir daí uma
comunidade nacional, a partir de quase nada. Ao brasileiro parece faltar esse
sentido de destino comum. Pouco lutamos nos episódios marcantes de nossa
história, a Independência, a abolição da escravatura, a República. Nos
primeiros anos depois da descoberta, chamavam-se brasileiros os comerciantes de
pau-brasil. Rapinavam a terra (gozavam a mãe sem o interdito do pai, no
linguajar da Psicanálise) e extinguiram a preciosa madeira que servia para
fazer tinturas. Talvez seja necessário, tantos séculos mais tarde, marcando a
diferença entre a cabeça destrutiva do corrupto, “um malandro burocratizado”,
no dizer de Roberto DaMatta, e a cabeça construtiva do honesto, simbolicamente
plantar uma muda de pau-brasil. É uma árvore majestosa, alta, belíssima: grosso
tronco avermelhado, com muitas ramificações, generosa folhagem.
Em se
cultivando, dá.
Para saber mais:
Tudo mentira
(SUPER número 4, ano 2) Por favor, leia este texto
(SUPER número 6, ano 2) Sabe da última?
(SUPER número 1, ano 3) A arte de enganar
(SUPER número 10, ano 7) Erros, fraudes e intrigas
(SUPER número 2, ano 8)
ABC da delinqüência
Crimes que prejudicam a administração são considerados de
forma diversa quando praticados por funcionários públicos ou particulares. Os
advogados Francisco de A. Miné Ribeiro Paiva e Marcelo Caserta Lemos, de São
Paulo, ajudam a definir os principais.
Crimes praticados por servidores público
Corrupção passiva: solicitar ou receber, para si ou para
outra pessoa, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de
assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida ou apenas sua promessa. Por
exemplo, quando o funcionário propõe um “por fora” para expedir mais
rapidamente um documento oficial. Artigo 317 do Código Penal.
Concussão: espécie de corrupção passiva mais grave, porque o
funcionário não pede, exige a vantagem indevida. A jurisprudência já admite que
esse crime pode abranger particulares. Assim, se Paulo César Farias exigiu de
empresários pagamento de taxas para que se habilitassem a concorrências para
realização de obras públicas, está incurso nesse crime. Artigo 317 do Código
Penal.
Peculato-estelionato: apropriação indevida de dinheiro,
valor ou outro bem qualquer (tanto público quanto particular) que o funcionário
detém em razão do cargo que ocupa, e utilizada em seu proveito ou de outra
pessoa. Por exemplo, o diretor do Departamento Nacional de Obras Contra as
Secas que usa as máquinas do órgão para perfurar um poço na propriedade
particular de um deputado. Artigos 312 e 313 do Código Penal.
Crimes de particulares contra a administração pública
Corrupção ativa: a pessoa que oferece ou promete vantagem
indevida a funcionário público, para que realize, omita ou retarde ato de sua
obrigação. Por exemplo, o servidor deve conferir certidões que habilitarão a
empresa a participar de concorrência pública mas faz de conta que não viu
irregularidades nelas e aprova tudo. O sujeito ativo desse crime é o corruptor.
Artigo 343 do Código Penal.
Exploração de prestígio: obter para si ou outra pessoa
vantagem ou promessa dela, a pretexto de influir em funcionário público no
exercício da função. É um dos casos típicos de “você sabe com quem está
falando?” e um dos enquadramentos a que se sujeitaria o já cita-do PC Farias,
por usar a amizade do presidente Fernando Collor. Absorve o crime de
estelionato e consuma-se logo que o sujeito obtém a vantagem ou sua promessa,
mesmo que descumprida. Artigo 332 do Código Penal.
Crimes de funcionários e particulares
Estelionato: empregar meios fraudulentos para induzir ou
manter a vítima em erro, com o fim de obter proveito patrimonial indevido. Não
envolve violência, mas exige esperteza do fraudador e malícia ingênua da
vítima. Por exemplo, o fraudador vende, por preço vil, uma corrente que diz ser
de ouro. A vítima acha que está levando vantagem e compra uma corrente de latão.
Artigo 171 do Código Penal.
Falsidade documental: ato ilícito de forjar documento não
verdadeiro ou alterar documento público ou particular verdadeiro, bem como
reconhecer firma ou letra falsa, fornecer atestado falso ou destruir ou ocultar
documento verdadeiro. Artigos 297 e 298 do Código Penal.
Sonegação fiscal: ato doloso que consiste em falsear, omitir
ou inserir declaração inexata em documento de natureza fiscal, com a intenção
de eximir-se, total ou parcialmente, do pagamento do tributo. Artigos 743 a 747
do Código Tributário. Depois da aprovação da lei do colarinho branco, em 1991,
os crimes de natureza fiscal passaram a receber penas mais graves. Por essa
lei, os crimes de sonegação fiscal, a ausência de declaração do imposto de
renda ou a sonegação de informações na declaração, passaram a sujeitar o
cidadão a multa, prisão e perda de bens. A lei pretende compelir o pagamento de
impostos, coibindo o enriquecimento sem causa que o justifique; no Direito, é
presunção de ato ilícito.
Nós e Édipo
“O objetivo da Psicanálise é ser a ciência do desejo ou da
sexualidade humana. É no inconsciente que o desejo lança suas raízes”, definiu
o psicanalista Hélio Pelegrino (1924-1988), mineiro radicado no Rio de Janeiro.
A figura paterna, representante da lei, é que interdita o incesto e separa a
criança, menino ou menina, da mãe. Esse triângulo, chamado edipiano, referência
ao mito grego de Édipo, que sem saber matou o pai e casou com a própria mãe, é
o que estrutura a personalidade humana. De acordo com Sigmund Freud, todos os
distúrbios emocionais, grandes e pequenos, têm origem nas interações mal
resolvidas desse triângulo.
Duas éticas de boa família
Faça o que deve fazer, independente do resultado, é um
preceito individual. Em política, vale o faça o que deve para que aconteça o
que você deseja. Essa máxima encontrou no pensador italiano Nicolau Maquiavel
(1469-1527) sua mais forte expressão e configura o que o cientista político,
também italiano, Norberto Bobbio, da Universidade de Turim, ainda hoje
considera um dos problemas centrais da filosofia política. “Não se pode dizer
que o obrigatório, em moral, o seja em política”, escreveu. O filósofo alemão
Immanuel Kant (1724-1824) sugeriu o seguinte: toda vez que você agir, faça-o de
modo que sua ação seja uma norma universal.
O professor Renato Janine Ribeiro costuma contar aos alunos
o exemplo proposto pelo médico, satirista e filósofo holandês Bernard de
Mandeville (1670-1733), no livro A fábula das abelhas — vícios privados e
benefícios públicos: no século XVII, em Amsterdam, cidade portuária de sólida
moral protestante, existia grande tolerância para com a prostituição. Como era
possível? É que a cidade recebia muitos marinheiros, havia meses sem ver
mulher; donzelas e senhoras da sociedade correriam risco de assalto, na
ausência das prostitutas. Melhor tolerá-las, nas casas de tolerância, e
proteger as famílias.
Esse exemplo mostra como valores do mundo privado nem sempre
servem no mundo público. Aliás, Janine destaca que a palavra público tem dois
sentidos: bem comum, senso de coletividade; e assistência de um espetáculo.
Continuando por aí: quem representa, no espetáculo, interpreta um papel; e um
político também é um representante. O sociólogo e economista alemão Max Weber
(1864-1920) analisou essa oposição, distinguindo ética de convicção e ética da
responsabilidade. São dois universos, o público e o privado. Por exemplo, salvo
em casos excepcionais, a violência individual costuma ser condenada; já a
violência de grupo — digamos, a polícia que se envolve em tiroteio com
traficantes de drogas — é justificada. “Uma das razões que torna injustificável
a violência do indivíduo”, escreve Bobbio, “é que a violência coletiva o
protege.” Mas nem precisamos de exemplos tão fortes. Quando, como no Brasil, se
privatiza o público, cada um produz sua própria lei. O sinal ficou vermelho,
mas eu estou com pressa — e isso justifica meu direito de passar.
Fonte: Revista Super Interessante
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