segunda-feira, 10 de março de 2014

Conspiração na caserna: Forças Armadas já planejam novas mortes, torturas e desaparecimentos?


Ainda há quem duvide se uma política golpista está sendo colocada em prática no Brasil. Entre os apoiadores de um novo golpe, no entanto, já há quem discuta o que fazer depois que as Forças Armadas depuserem Dilma Rousseff 


  Pau de Arara: prática comum durante a ditadura


Causa Operária

Um artigo publicado na Revista Sociedade Militar (Intervenção militar. O que será isso para o Brasil. Sabemos o que estamos pedindo?”), Robson A.S.K., autor do texto, debate aquilo que ocorreria após uma futura intervenção das Forças Armadas para depor Dilma Rousseff, uma ação pedida por aqueles que estão organizando a “Marcha da Família” do dia 22 de março.

Antes de abordarmos aquilo que foi escrito é preciso nos situarmos. A Revista Sociedade Militar, embora não seja um órgão oficial das Forças Armadas ou de Clubes Militares, tem expressado posições políticas de membros importantes da caserna.  Nela, por exemplo, o general de brigada (da reserva), Paulo Chagas, publicou o texto “Na causa da democracia, quem está dispensado?”, onde defende abertamente a realização das marchas pró-golpe do dia 22, que eles chamam de "intrvenção constitucional".  Também foi neste espaço que o general Pedro Luís de Araújo Braga, presidente do Conselho Deliberativo do Clube Militar, publicou “31 de março de 1964 – uma data a ser lembrada”, defendendo a ditadura e, inclusive, a necessidade de um novo golpe.

Voltando ao texto citado anteriormente (“Intervenção militar. O que será isso para o Brasil. Sabemos o que estamos pedindo?”) constatamos que o autor é um apoiador das Marchas pró-golpe. E, tendo esta posição, questiona se os outros leitores do site e apoiadores de um novo golpe entendem realmente o que estão pedindo; questiona se será necessário o derramamento de sangue e se viveríamos tempos de paz ou de guerra após a quartelada das Forças Armadas.  

Ele mesmo traça um panorama do que acredita que aconteceria: “Uma tropa do Exército cercaria silenciosamente o palácio do Planalto e prenderia e Presidente Dilma, seria mantida em prisão domiciliar até que fosse julgada”. E segue descrevendo os acontecimentos: “(...) medidas autoritárias se seguiriam ao ato para evitar que a esquerda novamente manipule a sociedade, e rapidamente parte da população, ainda nos primeiros dias se somaria àqueles que se posicionam contra os militares, engordando mais ainda as manifestações nos grandes centros”. Ou seja, o autor, talvez por conhecimento do que aconteceu após a derrubada de João Goulart em 1964, sabe que o governo iria reprimir a população e que esta, por sua vez, resistiria às medidas autoritárias.

Em seguida, ele prevê uma divisão das forças de repressão, que em parte se colocariam ao lado do governo deposto que provavelmente ocorreria. Recentemente, a Comissão da Verdade revelou que inúmeros militares, sobretudo os de baixa patente, foram alvo da repressão por parte da ditadura. Por isso ele segue texto supondo: “As forças armadas reprimirão as manifestações, mas como certamente haverá policiais e agentes de segurança ainda fieis ao governo em meio aos insatisfeitos, haveria feridos e mortos de ambos os lados. É quase certo que o Brasil enfrentaria um longo período de caos generalizado, talvez muitos meses. Centenas, talvez milhares de pessoas morreriam nos primeiros embates entre forças armadas e aliados do governo destituído” [grifo nosso].

Em linhas gerais, este jornal concorda com as precisões de Robson A.S.K. em um eventual golpe militar vitorioso. A população seria reprimida, haveria mortes e o povo iria opor resistência ao novo governo. Diante deste cenário, “nosso” autor, apesar de apoiador da marcha dos golpistas, parece não estar disposto a arcar com as consequências que ele mesmo afirmou que aconteceriam. Assim, com um pé na ditadura e com outro na democracia ele apresenta a seguinte conclusão e conselho aos demais apoiadores de uma nova intervenção militar: “Gente, eu não gostaria de ver milhares de brasileiros mortos em uma guerra civil. Sabemos que já salvamos o Brasil uma vez (sic), indo para as ruas. Podemos sim tentar de novo, mas talvez haja tempo para que isso seja realizado pela via democrática”.

Como se nota, ele parece indeciso. Quer o golpe, mas se for possível, o melhor seria que “isso seja realizado pela via democrática”. Prevê repressão e “milhares de mortos”, mas não quer “ver milhares de brasileiros mortos em uma guerra civil”.

Neste caso, seria preciso refletir sobre o que a alta cúpula das Forças Armadas está tramando. Se eles, assim como o autor também desejam o golpe, certamente estão prevendo um cenário de enfrentamentos com uma resistência aos golpistas. E não hesitariam em executar as ações repressivas que Robson A.S.K. descreveu.

O artigo está em um site que defende abertamente uma intervenção militar, feito para militares e onde militares escrevem emitindo opiniões. Se no futuro eles planejam um golpe, como pode ser verificado em suas próprias declarações, difícil imaginar que não estejam se preparando para torturar, matar e desaparecer com seus opositores.  

Um dos generais que pode ser mencionado como colaborador da Revista Sociedade Militar e que adota uma postura golpista é Pedro Luís de Araújo Braga. Em seu artigo “31 de março de 1964 – uma data a ser lembrada” ele elimina as dúvidas sobre as pretensões de seus pares: O Brasil, que nasceu sob a sombra da cruz e que, como diz o cancioneiro popular, “é bonito por natureza e abençoado por Deus”, será sempre uma nação cristã, fraterna e acolhedora, amante da paz, livre e democrata. Jamais será dominada pelos comunistas, mesmo que isto custe a vida de muitos. É o nosso compromisso.

Pode-se acusar o general Araújo Braga de tudo, menos de não ter sido honesto sobre suas intenções.

Diante disso, ainda há quem duvide que uma política golpista está sendo colocada em marcha?


Saiba mais


Objetivo: atacar a esquerda 


Marcha pró-golpe afirma ter apoio da PM 

A declaração foi feita na Revista Sociedade Militar, um dos principais meios de divulgação da ?Marcha da Família? que ocorrerá no dia 22 de março 



Uma matéria publicada no site Revista Sociedade Militar afirma que a “Marcha da Família”, que será realizada no dia 22 de março, em São Paulo, conta com o apoio da PM. No portal, um dos principais meios de divulgação do ato que pede um novo golpe militar, é apresentado um documento protocolado pelos organizadores da manifestação e assinado pelo responsável pelo 7º Batalhão da Polícia Militar.

No documento pode se ler o seguinte: “Neste evento não compactuamos com qualquer vandalismo, nem o uso de bandeiras vermelhas, não utilizaremos nenhum tipo de máscaras, não apoiamos anarquismos (com seus símbolos e ideologias) não somos e nem temos partidos políticos envolvidos, não utilizaremos bandeiras de outros países (como Cuba) e muito menos reverenciaremos Che Guevara ou outros quaisquer guerrilheiros. Somos patriotas e nacionalistas e amamos nosso país.

“Estamos pedindo a presença e segurança da polícia militar durante este evento, e este documento em igual teor será enviado ao Comando da PM, aos Bombeiros, à CET, ao Batalhão da PE (Polícia do Exército) e a SABESP (para ceder água aos presentes) (sociedademilitar.com.br, 8/3/2014)”.    

No Brasil se tornou uma regra pedir às autoridades, entre elas a PM, para que se possa realizar uma manifestação de rua. Isto, evidentemente, se constitui como um ataque a liberdade de manifestação. Uma vez que ir às ruas para protestar passa a depender de órgão que, não raras vezes, é o alvo da crítica dos manifestantes.

Neste caso, caberia perguntar se o ofício enviado a PM é apenas um gesto formal de pedir à PM para realizar a Marcha. Tudo indica que não. Caso contrário, não seria preciso entrar no mérito de uma série de coisas.

Fosse assim, seria desnecessário afirmar que não “compactuarão com o uso de bandeiras vermelhas”, “não utilizarão bandeiras de outros países (como Cuba)” e” não reverenciaram Che Guevara e outros guerrilheiros”.

Neste caso, como sugere o próprio título da matéria, “Marcha da Família, apoio da polícia militar”, parece muito mais uma adesão da PM aos ideais da marcha do que qualquer outra coisa.
Além disso, não podemos esquecer que nas manifestações de junho houve denúncias de que PM’s que trabalham no serviço reservado da corporação foram acusados de se infiltrarem nas manifestações para atacar partidos de esquerda, sindicatos, movimentos populares etc.. Acima de tudo, não se pode colocar em segundo plano que a PM é uma criação da ditadura militar, algo que os defensores da Marcha da Família querem novamente para o Brasil.

Neste sentido é preciso ficar atento e denunciar todo e qualquer envolvimento da PM com a “Marcha da Família”, o que evidentemente, seria usado para proteger a extrema-direita e atacar a esquerda que protesta contra a política pró-golpe.




 

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