Ainda há quem duvide se uma política golpista está sendo colocada em prática no Brasil. Entre os apoiadores de um novo golpe, no entanto, já há quem discuta o que fazer depois que as Forças Armadas depuserem Dilma Rousseff
Pau de Arara: prática comum durante a ditadura
Causa Operária
Um artigo publicado na Revista Sociedade Militar (“Intervenção militar. O que será isso para o Brasil. Sabemos o que estamos pedindo?”),
Robson A.S.K., autor do texto, debate aquilo que ocorreria após uma
futura intervenção das Forças Armadas para depor Dilma Rousseff, uma
ação pedida por aqueles que estão organizando a “Marcha da Família” do
dia 22 de março.
Antes de abordarmos aquilo que foi escrito é preciso nos situarmos. A Revista Sociedade Militar,
embora não seja um órgão oficial das Forças Armadas ou de Clubes
Militares, tem expressado posições políticas de membros importantes da
caserna. Nela, por exemplo, o general de brigada (da reserva), Paulo
Chagas, publicou o texto “Na causa da democracia, quem está dispensado?”,
onde defende abertamente a realização das marchas pró-golpe do dia 22,
que eles chamam de "intrvenção constitucional". Também foi neste espaço
que o general Pedro Luís de Araújo Braga, presidente do Conselho
Deliberativo do Clube Militar, publicou “31 de março de 1964 – uma data a ser lembrada”, defendendo a ditadura e, inclusive, a necessidade de um novo golpe.
Voltando ao texto citado anteriormente (“Intervenção militar. O que será isso para o Brasil. Sabemos o que estamos pedindo?”)
constatamos que o autor é um apoiador das Marchas pró-golpe. E, tendo
esta posição, questiona se os outros leitores do site e apoiadores de um
novo golpe entendem realmente o que estão pedindo; questiona se será
necessário o derramamento de sangue e se viveríamos tempos de paz ou de
guerra após a quartelada das Forças Armadas.
Ele mesmo traça um panorama do que acredita que aconteceria: “Uma
tropa do Exército cercaria silenciosamente o palácio do Planalto e
prenderia e Presidente Dilma, seria mantida em prisão domiciliar até que
fosse julgada”. E segue descrevendo os acontecimentos: “(...) medidas
autoritárias se seguiriam ao ato para evitar que a esquerda novamente
manipule a sociedade, e rapidamente parte da população, ainda nos
primeiros dias se somaria àqueles que se posicionam contra os militares,
engordando mais ainda as manifestações nos grandes centros”. Ou
seja, o autor, talvez por conhecimento do que aconteceu após a derrubada
de João Goulart em 1964, sabe que o governo iria reprimir a população e
que esta, por sua vez, resistiria às medidas autoritárias.
Em seguida, ele prevê uma divisão das forças de repressão, que em
parte se colocariam ao lado do governo deposto que provavelmente
ocorreria. Recentemente, a Comissão da Verdade revelou que inúmeros
militares, sobretudo os de baixa patente, foram alvo da repressão por
parte da ditadura. Por isso ele segue texto supondo: “As forças
armadas reprimirão as manifestações, mas como certamente haverá
policiais e agentes de segurança ainda fieis ao governo em meio aos
insatisfeitos, haveria feridos e mortos de ambos os lados. É quase certo
que o Brasil enfrentaria um longo período de caos generalizado, talvez
muitos meses. Centenas, talvez milhares de pessoas morreriam nos primeiros embates entre forças armadas e aliados do governo destituído” [grifo nosso].
Em linhas gerais, este jornal concorda com as precisões de Robson
A.S.K. em um eventual golpe militar vitorioso. A população seria
reprimida, haveria mortes e o povo iria opor resistência ao novo
governo. Diante deste cenário, “nosso” autor, apesar de apoiador da
marcha dos golpistas, parece não estar disposto a arcar com as
consequências que ele mesmo afirmou que aconteceriam. Assim, com um pé
na ditadura e com outro na democracia ele apresenta a seguinte conclusão
e conselho aos demais apoiadores de uma nova intervenção militar: “Gente,
eu não gostaria de ver milhares de brasileiros mortos em uma guerra
civil. Sabemos que já salvamos o Brasil uma vez (sic), indo para as
ruas. Podemos sim tentar de novo, mas talvez haja tempo para que isso
seja realizado pela via democrática”.
Como se nota, ele parece indeciso. Quer o golpe, mas se for possível,
o melhor seria que “isso seja realizado pela via democrática”. Prevê
repressão e “milhares de mortos”, mas não quer “ver milhares de
brasileiros mortos em uma guerra civil”.
Neste caso, seria preciso refletir sobre o que a alta cúpula das
Forças Armadas está tramando. Se eles, assim como o autor também desejam
o golpe, certamente estão prevendo um cenário de enfrentamentos com uma
resistência aos golpistas. E não hesitariam em executar as ações
repressivas que Robson A.S.K. descreveu.
O artigo está em um site que defende abertamente uma intervenção
militar, feito para militares e onde militares escrevem emitindo
opiniões. Se no futuro eles planejam um golpe, como pode ser verificado
em suas próprias declarações, difícil imaginar que não estejam se
preparando para torturar, matar e desaparecer com seus opositores.
Um dos generais que pode ser mencionado como colaborador da Revista Sociedade Militar e que adota uma postura golpista é Pedro Luís de Araújo Braga. Em seu artigo “31 de março de 1964 – uma data a ser lembrada” ele elimina as dúvidas sobre as pretensões de seus pares: “O
Brasil, que nasceu sob a sombra da cruz e que, como diz o cancioneiro
popular, “é bonito por natureza e abençoado por Deus”, será sempre uma
nação cristã, fraterna e acolhedora, amante da paz, livre e democrata.
Jamais será dominada pelos comunistas, mesmo que isto custe a vida de
muitos. É o nosso compromisso”.
Pode-se acusar o general Araújo Braga de tudo, menos de não ter sido honesto sobre suas intenções.
Diante disso, ainda há quem duvide que uma política golpista está sendo colocada em marcha?
Fonte Causa Operária
Saiba mais
Objetivo: atacar a esquerda
Marcha pró-golpe afirma ter apoio da PM
A declaração foi feita na Revista Sociedade Militar, um dos principais meios de divulgação da ?Marcha da Família? que ocorrerá no dia 22 de março
Uma matéria publicada no site Revista Sociedade Militar afirma que a “Marcha da Família”, que será realizada no dia 22 de março,
em São Paulo, conta com o apoio da PM. No portal, um dos principais
meios de divulgação do ato que pede um novo golpe militar, é apresentado
um documento protocolado pelos organizadores da manifestação e assinado
pelo responsável pelo 7º Batalhão da Polícia Militar.
No documento pode se ler o seguinte: “Neste evento não
compactuamos com qualquer vandalismo, nem o uso de bandeiras vermelhas,
não utilizaremos nenhum tipo de máscaras, não apoiamos anarquismos (com
seus símbolos e ideologias) não somos e nem temos partidos políticos
envolvidos, não utilizaremos bandeiras de outros países (como Cuba) e
muito menos reverenciaremos Che Guevara ou outros quaisquer
guerrilheiros. Somos patriotas e nacionalistas e amamos nosso país.
“Estamos pedindo a presença e segurança da polícia militar
durante este evento, e este documento em igual teor será enviado ao
Comando da PM, aos Bombeiros, à CET, ao Batalhão da PE (Polícia do
Exército) e a SABESP (para ceder água aos presentes) (sociedademilitar.com.br, 8/3/2014)”.
No Brasil se tornou uma regra pedir às autoridades, entre elas a PM,
para que se possa realizar uma manifestação de rua. Isto, evidentemente,
se constitui como um ataque a liberdade de manifestação. Uma vez que ir
às ruas para protestar passa a depender de órgão que, não raras vezes, é
o alvo da crítica dos manifestantes.
Neste caso, caberia perguntar se o ofício enviado a PM é apenas um
gesto formal de pedir à PM para realizar a Marcha. Tudo indica que não.
Caso contrário, não seria preciso entrar no mérito de uma série de
coisas.
Fosse assim, seria desnecessário afirmar que não “compactuarão com o
uso de bandeiras vermelhas”, “não utilizarão bandeiras de outros países
(como Cuba)” e” não reverenciaram Che Guevara e outros guerrilheiros”.
Neste caso, como sugere o próprio título da matéria, “Marcha da Família, apoio da polícia militar”, parece muito mais uma adesão da PM aos ideais da marcha do que qualquer outra coisa.
Além disso, não podemos esquecer que nas manifestações de junho houve
denúncias de que PM’s que trabalham no serviço reservado da corporação
foram acusados de se infiltrarem nas manifestações para atacar partidos
de esquerda, sindicatos, movimentos populares etc.. Acima de tudo, não
se pode colocar em segundo plano que a PM é uma criação da ditadura
militar, algo que os defensores da Marcha da Família querem novamente
para o Brasil.
Neste sentido é preciso ficar atento e denunciar todo e qualquer
envolvimento da PM com a “Marcha da Família”, o que evidentemente, seria
usado para proteger a extrema-direita e atacar a esquerda que protesta
contra a política pró-golpe.
Fonte Causa Operária
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