Um político ficha-suja não deveria jamais poder concorrer a novas eleições (por um longuíssimo período). Faz muito mal para o Brasil a existência do político profissional (o que faz da política um meio de vida, reelegendo-se eternamente)
Visão Panorâmica
Por Luíz Flávio Gomes: Doutor em Direito Penal pela Universidade Complutense de Madri – UCM e Mestre em Direito Penal pela Universidade de São Paulo – USP.
Os gregos, na antiguidade, chamavam de idiotés quem
não participava da política, ou seja, quem egoistamente ficava isolado
em sua casa, obcecado em suas mesquinharias, sem oferecer nenhuma
contribuição para a comunidade, para a polis (cidade) (veja Savater,
Política para meu filho). Desse idiotés no sentido grego deriva nosso
idiota atual, que você sabe bem de quem se trata. Somos contra o
político que faz da política seu único meio de vida, abandonando sua
profissão. Ao mesmo tempo, temos que ser contra, sobretudo quando se
trata de um jovem, quem não se interessa absolutamente nada pela
política, nem sequer par criticá-la (que é a tarefa mais fácil de se
realizar).
Lançamos uma campanha denominada fim do político
profissional (veja fimdopoliticoprofissional.com.br). Por político
profissional entendemos o que abandona sua profissão para ocupar cargos
eletivos eternamente, como no caso de José Sarney. Lutamos, dentre
outras, por três coisas: 1ª) nenhum político pode deixar de exercer a
sua profissão particular, compatibilizando-a com suas obrigações
públicas; 2ª) nenhum político pode ser reeleito para o mesmo cargo
executivo (salvo depois de uma longa quarentena) e 3ª) nenhum político
pode exercer mais que dois mandatos consecutivos nos cargos legislativos
(só podendo voltar depois de uma longa quarentena). José Sarney não
teria exercido (nefastamente, diga-se de passagem) mais de 60 anos de
vida pública se essa regra já estivesse valendo.
Mas por que acabar com o político profissional?
Porque essa é uma das maiores fontes da endêmica corrupção no nosso
país, sobretudo entre o político e o mundo empresarial e financeiro (os
três formam uma troyka maligna quando atuam pensando exclusivamente nos
seus interesses, em detrimento do povo). Para se entender quais são
esses “interesses” basta parafrasear um influente (e desqualificado)
político norte-americano (citado por Cristóbal Montes, 2014: 130), que
dizia: “O que os homens de negócios [especuladores] não compreendem é
que eu opero com os votos exatamente o que eles fazem com as
especulações e os lucros ilícitos”.
O Brasil não necessita apenas dos movimentos
horizontais (povo nas ruas exigindo ética na política, melhores serviços
públicos etc.), sim, sobretudo, dos verticais, para extirpar da nossa
cultura seus aspectos nefastos, incluindo seus fundamentos personalistas
(herança ibérica) e aristocráticos (que conduzem a privilégios e
mordomias, violando-se flagrantemente a igualdade entre todos). Nunca o
Brasil será um país confiável se os velhos costumes, as crenças arcaicas
e as ideologias desgastadas não forem dissolvidos, de uma vez por todas
(a começar pelo voto). Nunca atualizaremos o país, de acordo com o
mundo globalizado e técnico que vivemos, se a velha ordem colonial e
patriarcal, dos senhores de engenho escravagistas, dos políticos
corruptos clientelistas, não for revogada terminantemente (veja S. B. de
Holanda 1995: 180).
Um político ficha-suja não deveria jamais poder
concorrer a novas eleições (por um longuíssimo período). Faz muito mal
para o Brasil a existência do político profissional (o que faz da
política um meio de vida, reelegendo-se eternamente). O aprimoramento
das nossas instituições passa pela proibição das seguidas reeleições. O
velho sistema político está morto (e deslegitimado). Ocorre que o novo
ainda não nasceu. É hora de lutar por profundas mudanças nos nossos
costumes e tradições. Temos que promover uma lei de iniciativa popular
para limitar a possibilidade de os políticos fazerem carreiras eternas
na política.
Lutar pelo fim do político profissional (o que se
perpetua nos cargos eletivos) significa lutar contra a corrupção, que
tem nele uma das maiores fontes de irradiação. O político profissional
(o que abandona sua profissão de origem para ocupar eternamente cargos
eletivos, com todos os privilégios e mordomias) tem imperiosa
necessidade de reeleição e essa necessidade de reeleição está para ele
como a ganância desmedida está para o empresário e o banqueiro
inescrupulosos e parasitários. Junta-se a fome com a vontade de comer. O
político, no nosso sistema cultural, “naturalmente padece do vício de
dar primazia às conveniências particulares em detrimento dos interesses
de ordem coletiva. Isso já significa fazer predominar o emotivo sobre o
racional. Por mais que se julgue achar o contrário, a verdadeira
solidariedade só se pode sustentar realmente nos círculos restritos e a
nossa predileção, confessada ou não, pelas pessoas e interesses
concretos não encontra alimento muito substancial nos ideais teóricos ou
mesmo nos interesses econômicos em que se há de apoiar um grande
partido. Assim, a ausência de verdadeiros partidos não é entre nós, como
há quem o suponha singelamente, a causa de nossa inadaptação a um
regime legitimamente democrático, mas antes um sintoma dessa
inadaptação” (Sérgio Buarque de Holanda 1995: 182-183).
Fonte Visão Panorâmica
https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante
Visite a pagina do MCCE-MT
www.mcce-mt.org
Fonte Visão Panorâmica
https://www.facebook.com/antoniocavalcantefilho.cavalcante
Visite a pagina do MCCE-MT
www.mcce-mt.org