A presença de Cunha na presidência da Câmara é um escárnio e uma ameaça.
Ele
Por kiko Nogueira
A presença de Eduardo Cunha na presidência da Câmara é um escárnio e
uma ameaça à democracia. Sob a proteção dos suspeitos de sempre, ele
simbolizou a aposta no quanto pior, melhor. Deu no que deu.
Isolado, mas ainda contando com seus gângsteres, Cunha comprou briga
com toda a república. Em circunstâncias normais, a acusação de receber
propina de 5 milhões de dólares num processo como a Lava Jato deveria
fazer com que ele saísse para as investigações ocorrerem sem obstrução.
No regime teocunhacrático, isso não existe. Ele tudo pode.
Considera-se normal que obstrua a Justiça e que parlamentares, a soldo
dele, partam para intimação de traficante de favela.
Desgostoso com a aproximação entre Renan e Dilma, seu alvo agora é o
presidente do Senado. Os apaniguados vão incentivar os grupelhos da
manifestação do dia 16 a incluir Calheiros na lista dos políticos
corruptos de que o país precisa se livrar.
Ordenou também a seu pessoal na CPI da Petrobras que pedisse a quebra
de sigilo telefônico do ministro José Eduardo Cardozo e do procurador
Rodrigo Janot — este, parte de uma conspirata com o Palácio do Planalto
para destruí-lo.
É o homem pauta bomba. Na terça, dia 11, a Câmara concluiu a votação
em primeiro turno da PEC que vincula salários de integrantes da
Advocacia-Geral da União, delegados civis e federais a 90,25% da
remuneração de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O impacto é
de cerca de 2,4 bilhões reais.
Vai cometendo barbaridades e negando, negando, negando. Seu comportamento lembra o de Collor às vésperas da queda.
Visivelmente descontrolado, agressivo, o olhar rutilante, vendo
inimigos em todo lugar, um Macbeth de casa de saúde, declarando-se
abandonado pelos amigos, Cunha é um incêndio em si mesmo.
“Ele é arrogante, autoritário e usa o cargo para debilitar o governo,
em um gesto que muitas vezes se confunde com chantagem”, disse Jarbas
Vasconcelos à BBC Mundo.
É esse chantagista, montado nos evangélicos, na bancada da bala, no
PSDB, que está sendo canonizado pelos movimentos golpistas e por
milhares de adeptos da indignação coletiva.
A posição de EC é insustentável e só se explica pelo momento caótico
que atravessamos. Não durará muito tempo. Até lá, continuará no papel de
Nero que lhe foi outorgado por brasileiros.
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