Golpe não é para amadores!
Por R. D. Maestri
Vejo que alguns estão surpresos por fortes vozes das classes
dominantes se levantarem contra o golpe que estava sendo tramado por uma
série desarticulada de amadores. Por que de uma hora para outra FIESP,
Fierj e agora diretores de bancos levantam suas vozes contra o golpe,
simplesmente porque estas instituições têm analistas ou consultam
pessoas com capacidade de prospecção de eventos futuros. E estas mentes
pensantes deram seu veredito final, com estes amadores o golpe pode
sofrer um contragolpe muito mais forte que o primeiro.
Vamos aos fatos, há bastante tempo se via a inviabilidade de com o
cenário atual de articular forças diversas para desestabilizar o governo
com um mínimo de coesão (vide Deem-me um estado de apoio que vos darei um golpe!
de 03/03/2015), esta ausência de coesão mostravam uma tendência de
rapidamente, antes do golpe se estabilizar e se institucionalizar,
começar a luta interna entre fracções e estas lutas não contarem com o
apoio decisivo e necessário das forças armadas para escolhendo uma
delas, termos só um projeto de novo governo.
Este último e importante passo foi enterrado com a prisão do
vice-almirante, vozes dispersas nas forças armadas que viam os últimos
governos do PT como governos preocupados com o fortalecimento real
dessas forças, ganharam força e numa contabilidade simples que é feita
antes de qualquer enfrentamento quem estava contra o golpe sobrepujou os
que estavam a favor, e este recado chegou até as coordenações das
classes dominantes (vide Por que a direita descarta uma intervenção militar? de 24/03/2015).
Outro fator decisivo foi que junto à posição das forças armadas,
começa a repercutir nos setores do capital uma sensação de perseguição
do mesmo por considera-los naturalmente corruptos. Ou seja, a atividade
econômica do grande capital, corrupto ou não, começou a ser considerado
como intrinsicamente corrupta. Se estas acusações viessem de setores de
esquerda que por convicção ideológica descreve a apropriação da mais
valia como um roubo, não haveria surpresa nem ineditismo, mas esta luta
ideológica secular já é conhecida e os mecanismos de domínio do capital
conseguem até o momento contorna-la. Porém estão surgindo de setores que
tradicionalmente apoiam o sistema, ações bem bruscas e intempestivas
que começam a assustar.
A mistura de um messianismo evangélico com a demonização da atividade
econômica com todos os seus méritos e falcatruas podem levar a uma
combinação explosiva muito mais perigosa do que mera conservação ou
mudança de mando no poder federal. O governo atual, limitado por sua
falta de base legislativa, não tem condições de propor fortes rupturas
institucionais, porém um novo lupem-evangelismo fragmentado, mas com
tendências messiânicas, é algo extremamente perigoso para qualquer
regime fracos ou mesmo forte. Isto é algo que começado o processo não se
sabe para onde ele irá!
Um golpe neste momento não teria as mesmas características da deposição de Collor de Mello (veja Golpe não se adjetiva. de 18/11/2014), seria um golpe sem um programa pós-golpe estruturado e perfeitamente definido.
Se formos comparar a situação de 1964 com a atual ainda fica pior.
Neste ano haviam conspiradores profissionais em todos os setores, o
governador Magalhães Pinto que montara um ministério paralelo e foi até
os USA falar pessoalmente com o Presidente Kennedy, o general Golbery do
Couto e Silva que tanto organizou o ataque (1964) como a retirada
(abertura política) tinha até o palhaço-tolo midiático, o Governador
Carlos Lacerda, que de tão tolo pensou que um dia assumiria a
presidência da república com o apoio dos militares.
Temos na oposição atual ao governo, figuras que variam do folclórico
ao patético, Aécio Neves, Jair Bolsonaro, Eduardo Cunha e uma plêiade de
ideólogos direitistas que alguns se situam próximo à demência (como
ex-astrólogos que juram de pé junto que o Sol é que gira em torno da
Terra e que Einstein é uma farsa).
Tendo como último reduto ao golpe uma revista em situação
pré-falimentar, fica cada vez mais difícil imaginarmos que um golpe de
qualquer tipo que seja possa vingar. Ou pior para os golpistas e seus
anteriores admiradores, se vingar o contragolpe deverá ser muito mais
forte e também imprevisível (vide O contragolpe será muito mais forte do que o golpe!
de 06/08/2015), pois neste ponto as forças que promoverem este
contragolpe estarão livres para radicalizar uma politica de esquerda no
Brasil.
Fonte GGN
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