Por Fernando Brito
Mestre Mauro Santayana, com a percepção
serena que o tempo traz, produziu uma linda crônica sobre o papel que
desempenha, hoje, o Papa Francisco.
Nela, esculpe um resumo incrivelmente preciso e simples das inesperadas armas com que busca a paz.
“Francisco, que une no lugar de dividir, que ri, em vez de fazer
cara feia, que prega a paz e a solidariedade no lugar do ódio, da
vingança e da cobiça, é um farol a iluminar o que resta de sensatez na
espécie humana”.
Bravo, Santayanna, porque isso é a tradução do que precisamos
daqueles que se movem com a força da religião e que eu, um renitente
ateu, amo nas bem-aventuranças de Mateus (5, 3-12).
Mais ainda porque Francisco o faz com a cabeça no versículo 17: “Não
julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir,
mas sim para levá-los à perfeição.”.
Há muita gente que se ocupa, tolamente, em rotular o Papa. Uns,
porque não lhe perdoam a fé, outros porque não lhe perdoam a humanidade.
No entanto, ele segue desconcertando a todos com algo que poucos homens chegam onde chegou e conservam: a simplicidade.
Porque afinal, o que será mais simples que proclamar que devem ser mais iguais aqueles que nasceram iguais?
Reproduzo um trecho do magnífico texto de Santayanna no Jornal do Brasil.
Não foi apenas pela proximidade geográfica que o Papa fez questão de ir a Cuba e aos EUA, em um único périplo.
Ao escolher visitar, praticamente ao mesmo tempo, o país mais bem
armado do mundo, e a pequena ilha do Caribe, que sobrevive, há décadas,
em frente à costa dos Estados Unidos, com um projeto alternativo, que
não segue a cartilha do “American Way of Life”, o Papa quis mostrar que
não existem países mais importantes que os outros, e que todas as nações
têm direito a buscar seu próprio caminho para o desenvolvimento, que
pode estar simbolizado tanto por grandes foguetes e naves espaciais,
como pela eliminação do analfabetismo, uma medicina de qualidade, o
aumento da expectativa de vida de seus habitantes, ou um dos mais baixos
índices de mortalidade infantil do mundo.
É esse desejo, de paz na diversidade, tão presente na viagem do
Papa, que fez com que Francisco tenha participado ativamente do processo
de reaproximação diplomática entre os Estados Unidos e Cuba,
concretizado com a recente reabertura da embaixada dos EUA, com a
presença do Vice-presidente norte-americano, Joe Biden, em Havana.
O seu papel foi reconhecido em discurso, nos jardins da Casa Branca,
pelo próprio presidente dos Estados Unidos, que agradeceu a
contribuição do Papa nesses acordos, que representam um dos momentos
mais marcantes da história recente.
O Papa Francisco também está por trás – por seu reiterado e decidido
apoio – de outro episódio inédito, de grande importância para o
continente, ocorrido em Havana, apenas um dia após a sua partida: o
aperto de mão, na presença do Presidente cubano Raul Castro como
mediador, entre o Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, e o líder
guerrilheiro e comandante das FARC – Forças Armadas Revolucionárias,
Rodrigo Londoño, também conhecido como Timoshenko, que sela a contagem
regressiva para a conquista de uma paz definitiva, depois de mais de 50
anos de guerra civil, em um dos principais países latino-americanos.
É claro que os dois fatos – a reaproximação entre Cuba e os EUA e
entre o governo colombiano e as FARC – não podem agradar aos babosos,
ignorantes e hipócritas anticomunistas de sempre, que, movidos por
outros interesses, como a permanente gigolagem de fantasmas da Guerra
Fria, prefeririam ver os Estados Unidos tentando outra frustrada invasão
da ilha, quem sabe armando grupelhos radicais de vetustos, obtusos e
anacrônicos anticastristas de Miami, ou aumentando sua presença militar
na Colômbia, transformando aquela nação em uma espécie de Vietnam
sul-americano.
Daí, por isso, o ódio dos conservadores, fundamentalistas e
tradicionalistas católicos contra Francisco, um latino-americano tão
independente com relação aos EUA, que nunca tinha pisado o território
norte-americano antes desta semana, e que, mesmo assim, teve a honra de
ser primeiro pontífice a ser recebido e a falar diretamente, como líder
estrangeiro de uma religião que não é a mais importante nos EUA, para
dezenas de deputados e senadores, dentro do edifício do Capitólio.
Em um mundo em que países que alegam defender a democracia
bombardeiam e destroem outras nações, metendo-se em seus assuntos
internos, armando mercenários e terroristas para derrubar governos que
consideram hostis, sem levar em conta o terrível balanço de suas ações,
em mortes, torturas, estupros e na “produção” de milhões de refugiados;
em que esses mesmos refugiados morrem sem ter para onde ir, em desertos,
montanhas, fronteiras ou mares como o Mediterrâneo, e são recebidos,
muitas vezes, a patadas por onde chegam, ou mantidos em cercados
disputando no braço um naco de pão para seus filhos, que a polícia lhes
atira, com luvas de borracha, como se fossem cães; em que o egoísmo, o
fascismo, a arrogância, o ódio, a hipocrisia, a mentira, renascem com
renovada força, e muitos não tem mais vergonha de pregar o
individualismo, o consumismo, uma pseudo “meritocracia” como doutrina a
justificar a exclusão, na busca enriquecimento individual e material a
qualquer preço – como se o destino de cada um dependesse apenas de si
mesmo, e em nada do meio que o cerca ou das forças terrenas que o
governam, explorando-o ou enganando-o, de forma permanente, e a
humanidade não fosse uma construção coletiva, fruto de centenas de
gerações que nos antecederam – Francisco, que une no lugar de dividir,
que ri, em vez de fazer cara feia, que prega a paz e a solidariedade no
lugar do ódio, da vingança e da cobiça, é um farol a iluminar o que
resta de sensatez na espécie humana – uma bússola para indicar o caminho
nestes tempos sombrios, em que as forças do ódio e do atraso insistem
em tentar impedir que amanheça, neste novo século, um novo dia.
Fonte O Tijolaço
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“A exclusão econômica e social é uma negação total da fraternidade humana”: o discurso do papa na ONu
Diário do Centro do Mundo
Em sua fala hoje na ONU, Francisco voltou a criticar a exclusão e a desigualdade social.
Abaixo, um trecho. Aqui, a íntegra.
O abuso e a destruição do meio ambiente aparecem associados,
simultaneamente, com um processo ininterrupto de exclusão. Na verdade,
uma ambição egoísta e ilimitada de poder e bem-estar material leva tanto
a abusar dos meios materiais disponíveis como a excluir os fracos e os
menos hábeis, seja pelo fato de terem habilidades diferentes
(deficientes), seja porque lhes faltam conhecimentos e instrumentos
técnicos adequados ou possuem uma capacidade insuficiente de decisão
política.
A
exclusão econômica e social é uma negação total da fraternidade humana e
um atentado gravíssimo aos direitos humanos e ao ambiente. Os mais
pobres são aqueles que mais sofrem esses ataques por um triplo e grave
motivo: são descartados pela sociedade, ao mesmo tempo são obrigados a
viver de desperdícios, e devem sofrer injustamente as consequências do
abuso do ambiente.
Estes fenómenos constituem, hoje, a «cultura do descarte» tão difundida e inconscientemente consolidada.
ENQUANTO O PAPA FRANCISCO VAI PELO MUNDO FALANDO DE PAZ, JUSTIÇA E SOLIDARIEDADE, OS MERCADORES E ESPERTALHÕES DA FÉ, CONTINUAM EXPLORANDO OS INCAUTOS:
DÍZIMO FIADO, ERA SÓ O QUE FALTAVA!
‘Quem aí acredita que eu sou um profeta?': Feliciano pede joias, cheques pré datados e ‘a sogra’ aos fieis
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