Nogueira: porque não dá. Simplesmente não dá.
Por que Eduardo Cunha não faz como Romário e vai para a Suíça provar que não são suas as contas que lhe são atribuídas?
por Paulo Nogueira
Bem, porque não dá. Simplesmente não dá.
Não que houvesse dúvidas, mas Cunha reforçou as certezas ao dizer,
numa coletiva na noite de ontem, que se recusava a falar sobre elas.
Faltou colar um carimbo na testa: culpado.
As contas foram bloqueadas pelas autoridades suíças, e tudo indica
que elas representam, enfim, o Waterloo de um homem que imaginou que
podia tudo.
Como toda tragédia, o episódio se presta a piadas.
Por exemplo: por que Cunha não faz na Suíça o que tem feito
costumeiramente no Brasil, manobrar nos bastidores para mudar uma
decisão?
Ele fez isso, no Congresso, mais de uma vez. E agora, praticamente
com a tornozeleira nos pés, trama para desfazer uma decisão conjunta do
Planalto e do STF para por fim ao financiamento privado de campanhas.
A gambiarra seria uma PEC que, como por mágica, permitiria a
continuação da fonte original de corrupção no país – o dinheiro que as
empresas colocam em seus candidatos.
Eduardo Campos simboliza isso. Sem esse dinheiro ele não seria nada.
O financiamento privado é a forma como a plutocracia toma a democracia.
O caso das contas na Suíça serve também para uma conclusão pouco engraçada.
É uma vergonha para a mídia, para Moro, para a PF e para Janot que o
golpe fatal em Cunha tenha vindo dos suíços. Sinal do despudor da
imprensa, um colunista da Veja escreveu que espera que Cunha derrube
Dilma antes de ser preso.
Já virou clichê perguntar: e se fosse alguém do PT? Por isso, fujo dessa questão cuja resposta é óbvia.
Uma sociedade não pode levar a sério uma cruzada anticorrupção quando
caminha livre um político do naipe e da ficha corrida de Eduardo Cunha.
Romário, com sua viagem à Suíça, criou um padrão de conduta para reagir a assassinatos de caráter como o que sofreu da Veja.
Mas isso é para inocentes, e não para Cunha.
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