Quatro meses depois daquela tarde inesquecível, Eduardo Cunha, que já era Eduardo Cunha na época, está com o cargo no bico do corvo, citado por cinco delatores da Lava Jato, com pelo menos quatro contas na Suíça e o xilindró no horizonte.
Por Kiko Nogueira
Campanhas políticas estão enraizadas em um momento específico da
história. Algumas decisões que parecem fazer sentido num período
tornam-se tão idiotas que os envolvidos pensam, retrospectivamente, em
desaparecer da face da Terra.
Principalmente quando a coisa é registrada numa fotografia.
Em 27 de maio de 2015, um grupo de aproximadamente 300 almas apareceu
na Câmara dos Deputados para se reunir com Eduardo Cunha. Cunha, então,
já enganava alguns trouxas, mas era a grande esperança branca do
impeachment.
Eram militantes do MBL, uma relíquia da era da indigência virtual de
extrema direita, que haviam terminado a tal Marcha da Liberdade, entre
São Paulo e Brasília. Estavam acompanhados dos companheiros dos
Revoltados On Line na figura de seu fundador Marcello Reis e da moça que
vende camisetas na loja.
Kim Kataguiri, um fóssil megalomaníaco de 19 anos, falou para a
imprensa: “O Eduardo Cunha se comprometeu a analisar tecnicamente o
nosso pedido de impeachment e não engavetar diretamente como fez com os
outros”.
Encaminhados para uma sala, os personagens se aboletaram em torno de
uma mesa, abriram seus melhores sorrisos (o esgar reptiliano de EC é
lindo) e posaram para as câmeras com um inexplicável dedo indicador para
cima (pedindo uma Brahma? Chamando o copeiro?).
Com o gigante Cunha à cabeceira, simulando interesse na tigrada,
podemos ver ainda os políticos que tentaram pegar uma carona: Jair e
Eduardo Bolsonaro, Alberto Fraga (réu no Supremo Tribunal Federal,
acusado do crime de cobrar vantagens indevidas em razão do cargo) e
Carlos Sampaio, o pitbull do PSDB.
Todos os presentes, obviamente, pediam o fim da corrupção. Uma faixa
explicita esse apelo. O documento do MBL, à frente de Cunha, traduzia a
confusão mental e a pretensão da rapaziada: 3 mil páginas em dois tomos.
É um registro que ficará para sempre. Nunca tantos deveram tanto a
tão poucos — a frase de Churchill deve ser lida no sentido da chacota.
Quatro meses depois daquela tarde inesquecível, Eduardo Cunha, que já
era Eduardo Cunha na época, está com o cargo no bico do corvo, citado
por cinco delatores da Lava Jato, com pelo menos quatro contas na Suíça e
o xilindró no horizonte.
Mas eles podem ter a certeza de que aquele instante já está
imortalizado na crônica política recente como um dos maiores casos de
vergonha alheia do Brasil.
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